#Reflexão: 17º Domingo do Tempo Comum (28 de julho)

24 de julho de 2024

A Igreja celebra o 17º domingo do Tempo comum, neste domingo (28). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: 2Rs 4,42-44
Salmo: 144(145),10-11.15-16.17-18 (R. cf.16)
2ª Leitura: Ef 4,1-6
Evangelho: Jo 6,1-15

Acesse aqui as leituras.

JESUS ENSINA O DOM DA PARTILHA

O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes marcou, decididamente, a vida dos primeiros cristãos. Ele é retratado nos quatro Evangelhos em seis passagens. Segundo os evangelistas, ao saciar a fome da multidão, Jesus quis envolver e comprometer os apóstolos antes, durante e depois do milagre.

Olhando a história do povo de Deus, saciar das pessoas sempre foi um sinal significativo da providência divina, principalmente quando tudo acontece com uma forte ação do próprio Deus. Foi assim com Moisés no deserto com o Maná e também Eliseu conforme se lê na primeira leitura, assim sem a graça e a providência de Deus, nada pode acontecer. Jesus, dessa forma, está na mesma linha dos grandes profetas, mas Ele é superior a esses grandes homens de Deus, por isto nos Evangelhos, Jesus amplia e envolve os seus discípulos neste milagre.

Domingo passado, Jesus se preocupava com a situação de cansaço dos discípulos, hoje Ele se antecipa sobre a questão da fome do povo provocando e ajudando os apóstolos a encontrar uma solução. Assim, conforme se vê no Evangelho de São João, Jesus subiu ao monte e sentou-se, gestos que recordam os grandes mestres do AT.

A multidão que estava lá buscava milagres e curas, Jesus tem um olhar mais profundo. Segundo o evangelista João, ninguém lhe diz nada e nem apresenta o problema da fome de todos, mas Ele percebe e se antecipa. O povo, certamente, acostumado com a situação de extrema pobreza estava habituado com a miséria e provavelmente, passar fome e todos os tipos de privações.

Mas, Jesus pensava diferente e toma a iniciativa apresentando o problema aos seus apóstolos: “Onde compraremos pão para saciar a todos?” A pergunta tinha a intenção de provocar a reação dos apóstolos. João diz que Jesus sabia o que iria fazer, mas os seus discípulos teriam que ser envolvidos no problema e na solução.

Jesus viu a fome da humanidade, uma fome de pão material, mas que começa com uma fome espiritual.

As respostas dos apóstolos retratam a ideia comum naquela época e ainda hoje: “não há recursos para tantas pessoas”; “cada um tem que se arranjar como pode”. Jesus poderia imediatamente produzir o milagre e saciar a multidão, mas a questão da fome no mundo, não há necessidade de “milagres especiais”, pois é uma situação que está ao alcance da humanidade.

Jesus intervém e opera milagres onde os recursos humanos nada podem fazer, como os milagres de cura; mas sanar a fome das pessoas, isto está ao nosso alcance.

Para Felipe a solução está no dinheiro. A fome da multidão, segundo ele, somente seria resolvida com dinheiro, exatamente como pensam muitos: acumular riqueza para depois ajudar os outros. Ter primeiro e depois pensar nas necessidades das outras pessoas. Muitos pensam que é necessário tornar a nação rica, para que a população usufrua da riqueza. Mas, o que se vê é que quem é rico, pensa em manter sua riqueza ou acumular mais. Eles ficam cada vez mais ricos e a riqueza não chega até aqueles que nada tem. Sabemos que o problema da fome no mundo não é a falta de dinheiro (se desperdiça bilhões em coisas inúteis ou que produzem mais morte), mas é a falta de algo que brota de um coração que experimenta o amor de Deus: a partilha.

Intervém na conversa entre Jesus e Felipe, outro apóstolo, André, que apresenta uma criança com pães caseiros e dois peixes. Muito significativo o fato de uma criança apresentar uma solução para o problema. Ela poderia continuar na lógica da maioria (dos adultos) e ficar com os seus pães, mas aquela criança quis partilhar.

Os pães eram de cevada, feitos com os primeiros grãos de trigo que eram oferecidos a Deus como ação de graças pela colheita. A oferta a Deus que é repassada aos pobres.

Este milagre de matar a fome das pessoas depende radicalmente da partilha. A fome no mundo não será resolvida se a partilha não acontecer, não de nossas riquezas, mas dos “cinco pães e dois peixes” de cada um. A criança não ficou com receio de colocar em risco o pouco que possuía, pois confiava em Jesus.

Mas, não basta promover uma partilha. No Evangelho tudo inicia com a intervenção de Jesus; depois a proposta dos apóstolos; a iniciativa da criança e; por fim, tudo novamente retorna a Jesus. Ele é quem ilumina a ação, as pessoas participam com a partilha, mas é Ele quem abençoa e devolve para que seja distribuído a todos. Não foi somente o ato de partilhar que provocou o milagre da multiplicação dos alimentos, mas uma partilha na fé e na confiança em Jesus. O “fermento” da fé multiplicou os pães.

Somente juntos (nós e Jesus) é que podemos resolver este mal da humanidade. As pessoas entram com a partilha, Jesus abençoa e devolve para todos, pois Ele não é dono dos pães, mas passagem de alguns para todos. Nosso Senhor não precisa e nem está interessado em nada que nos pertence, mas somente de nossa fé e de nossa partilha (no Evangelho, Jesus pega, abençoa e devolve).

O milagre da confiança em Jesus e da partilha cria uma nova forma de viver dos discípulos. Aquilo que é necessário (simbolizado no pão), nunca vai faltar para aqueles que sabem doar. Um milagre que acontece nas mãos daqueles que partilham. O pouco alimento partilhado foi misteriosamente suficiente (e sobrou) para todos. O pão e o peixe passam pelas mãos de todos e ao mesmo tempo ficam em cada mão que sabe doar.

O pão egoisticamente mantido com poucos, produz a fome de muitos. Se sabe que no mundo, há pão (necessário para a vida) para toda a humanidade, mas nunca será suficiente para a cobiça de poucos (Gandhi).

Importante o convite de Paulo na segunda leitura que completa o Evangelho: estar unidos formando uma só fé e Igreja. Juntos é que conseguiremos combater todos os males que estão ao nosso alcance e nós temos que resolver.

A fé é a resposta profunda de nossa adesão a Deus; a partilha é o sinal mais visível de nosso amor a Deus presente em cada pessoa, rosto do Criador. Jesus nos propõe a partilha daquilo que temos para os nossos irmãos, com a mesma fé e a esperança de uma criança que não teme ficar desamparada ou sem nada. Nosso Senhor sempre viveu partilhando tudo que tinha com todos e solicita aos apóstolos para que aprendam a fazer o mesmo. Quando o pão deixa de ser “meu” e é partilhado e se torna “nosso”, o milagre se repete sempre: um milagre feito em parceria entre Deus e humanidade (é o pedido na oração no Pai Nosso).

O gesto da partilha foi um dos sinais que mais marcou a vida de Jesus, por isto, a Eucaristia é o sinal perene da partilha de Deus que nos deu a salvação.

Por fim, o Evangelho termina falando da abundância que acontece quando se partilha com Jesus: todos saciados e foram recolhidos pães para que outros também fossem saciados. A partilha com Deus também abre o nosso coração para o próximo.

Mas, no final de tudo, o povo não entendeu o sinal daquele milagre. Queriam fazer Jesus rei para terem sempre pão e peixe em abundância. Um Jesus para coisas materiais. Por isso, Ele se retira, sozinho e deixa todos com seus desejos. O povo não enxergou que o milagre para o problema da fome está sempre na partilha.

Senhor, nos ajude a sermos discípulos da partilha da nossa fé e dos nossos bens!

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