#Reflexão: 21º Domingo do Tempo Comum (25 de agosto)

21 de agosto de 2024

A Igreja celebra o 21º domingo do Tempo comum, neste domingo (25). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Js 24,1-2a.15-17.18b
Salmo: 33(34),2-3.16-17.18-19.20-21.22-23 (R. 9a)
2ª Leitura: Ef 5,21-32
Evangelho: Jo 6,60-69

Acesse aqui as leituras.

JESUS, SÓ TU TENS PALAVRA DE VIDA ETERNA

Não é fácil seguir Jesus procurando cumprir a sua vontade e palavras. O Evangelho deste 21º domingo do Tempo Comum encerra a sequência de quatro domingo sobre o discurso do Pão da vida. Tudo iniciou com o milagre da partilha que Jesus promoveu a partir da doação de cinco pães e dois peixes. Depois que todos ficaram saciados, a multidão queria proclamá-Lo rei, pois assim eles teriam assegurado todas as necessidades materiais de que precisavam. Mas, Jesus rompe com esta lógica de somente buscar as coisas deste mundo. Ele se retira sozinho e deixa a multidão.

Domingo passado, a liturgia deu espaço a grande celebração da Assunção de Maria ao céu em corpo e alma. Um fato para a vida de Maria e esperança para todos nós que – segundo a promessa de Jesus – um dia também nós iremos fazer parte. Dessa forma, não tivemos oportunidade de ver o terceiro texto sobre Jesus como verdadeiro Pão descido do céu. É a passagem que encontramos em Jo 6,51-58.

Este terceiro texto sobre a Eucaristia é o momento central do discurso de Jesus e por isso, mais exigente e polêmico para aqueles que estavam ouvindo Jesus. Depois de provocar a fé de todos ao afirmar que Ele é o Pão descido do céu capaz de dar a vida eterna, Jesus afirma com determinação que é necessário comer de sua carne e beber do seu sangue para se ter a vida eterna. Para não ter dúvida, Cristo ainda reforça que sua carne é verdadeira comida e seu sangue é verdadeira bebida. Expressões e palavras que espantaram a todos. Para o judeu, o sangue era algo quase sagrado e se acreditava que nele estava a vida, por isso, não se podia nem tocar nele, quanto mais, “beber” o sangue de uma pessoa.

Jesus falava não do ato físico de comer sua carne e beber o seu sangue. Para o evangelista São João e a sua comunidade, Cristo Jesus não era somente uma pessoa, mas uma única realidade com Deus Pai (“Eu e o Pai somos um” – Jo 10,30). Assim, as palavras de Jesus se concretizaram em dois momentos de sua vida: na Última Ceia e na Cruz. Na Quinta-feira Santa, Jesus criou a Eucaristia onde diz claramente sobre o Seu Corpo que Ele dá a todos como alimento e o Seu Sangue como bebida; nas espécies do pão e do vinho, Nosso Senhor nos deixou a forma de recebê-Lo plenamente em nós.

A Eucaristia, como afirma o próprio Jesus, é a atualização até o final dos tempos do seu Sacrifício Salvífico da Cruz. Assim, a Santa Comunhão é o próprio Cristo que se perpetua em nosso meio e que quer nos transformar de dentro para fora.

São João no Evangelho deste domingo nos apresenta a grande decepção que Jesus teve com o abandono de praticamente todos que o procuraram somente buscando obter coisas materiais. O evangelista nos diz que a multidão de 5.000 homens resolveu ir embora e até mesmo discípulos acharam que aquelas palavras “eram duras demais”. A decepção não veio dos fariseus ou opositores judeus, mas entre os seus próprios discípulos, que O seguiam de um tempo e de vários lugares.

O Mestre que seguiam mostrou a necessidade de uma profunda comunhão. Uma ligação que traz na base o essencial para todos: carne e sangue. Era preciso assumir Jesus em sua totalidade e profundidade, um pacto de vida onde Jesus doa-se completamente, mas era necessário que todos o assumissem completamente (sua carne e seu sangue). Mas, as pessoas queriam somente alguém para lhes fornecer alimento para este mundo e para esta realidade, não algo tão exigente.

Na 1ª leitura, vemos Josué que provoca o povo de Deus após as conquistas na Terra Prometida. É um texto no final do livro de Josué, depois que, praticamente, tinham realizado todas as batalhas para tomar posse da Terra Prometida, mas não poderiam se limitar a essas coisas materiais. O líder do povo de Deus que substitui muito bem Moisés, precisava ouvir de todos, qual deus todos queriam servir. Não somente acreditar, mas servir; não somente esperar de Deus, mas se colocar como servo, sem exigir, obedecendo sempre. Antes de esperar a resposta do povo, Josué deixa claro que ele e sua família iriam servir a Deus, depois o mesmo diz o povo.

Jesus no Evangelho pede um gesto semelhante e profundo. Não uma fé cega que não se sabe no que crê, mas uma fé profunda que coloca a confiança em Jesus.

Josué lembra a grandeza de Deus que ele quer servir. Jesus já tinha mostrado quem Ele era, bastava agora a fé incondicional de todos.

De fato, as palavras de Jesus exigem uma fé plena em sua pessoa, em quem Ele realmente é e não somente no que Ele é capaz de fazer. Uma fé em Deus somente na abundância das coisas é fácil; a fé verdadeira e necessária para a vida eterna deverá brotar não das cestas abundantes de pão e peixe, mas da Cruz onde Jesus se entrega completamente e derrama o seu sangue.

É bem provável que na comunidade de João, havia pessoas que não aceitavam a Eucaristia como o próprio Corpo e Sangue de Cristo Jesus. Talvez negassem a realidade humana e até mesmo o sacrifício da Cruz. Cristãos que tinham dificuldade em relação à carne doada por Jesus, pois viam nela uma realidade de pecado e fraqueza. Mas, o autor do quarto Evangelho confirma a fé da Igreja que a mesma carne doada e recebida na Eucaristia, foi também assumida na Encarnação do Verbo. Vida humana assumida em sua totalidade (não na aparência), vivida intensamente e entregue complemente para ser assumida por seus discípulos na Eucaristia.

Nunca ninguém tinha falado de Deus assim: um Deus que não derrama sangue, derrama o seu sangue; um Deus que vai morrer de amor, que se faz pequeno como um pedaço de pão e se torna alimento para o ser humano. A religião das práticas externas, dos ritos, das obrigações se foi, esta é a religião de ser um com Deus: eu nele, ele em mim (Ermes Ronchi). Um Deus, um Messias ao contrário que se faz fraco, frágil (Enzo Bianchi) e deixa ser atingido pela maldade humana e não reage com violência, mas com total amor. Um Deus que se rebaixa e se torna acessível a todos, desde os mais pequeninos para transformar a humanidade a partir de uma mesa onde o Pão e o Vinho, seu Corpo e seu Sangue são divididos e assumidos por todos.

Assumir uma profunda realidade de comunhão e entrega; de serviço a Deus e ao próximo. Realidades que devem traçar a identidade do cristão no mundo de hoje, como Paulo lembrou sua comunidade na 2ª leitura onde o marido deve amar sua esposa como Cristo amou sua igreja; e as mulheres viver numa profunda entrega, união e comunhão com os seus maridos.

João retrata que o discurso de Jesus foi um momento decisivo para perceber quem realmente queria segui-Lo plenamente e não por motivos materiais. O grupo se reduziu aos doze discípulos. No entanto, eles mesmos foram questionados por Jesus se não queriam também ir embora. Jesus não iria abrir mão de nada do que disse. Não iria “dar um jeitinho” e mudar algo que falou sobre o comprometimento a toda sua vida e ensinamento para ficar, pelo menos, com os seus apóstolos. A resposta de Pedro deve ser sempre a nossa: “Somente tu tens palavra de vida eterna!”.

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