#Reflexão: 22º Domingo do Tempo Comum (01 de setembro)

28 de agosto de 2024

Translator

 

A Igreja celebra o 22º domingo do Tempo comum, neste domingo (01). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Dt 4,1-2.6-8
Salmo: 14(15),2-3ab.3cd-4ab.5 (R. 1a)
2ª Leitura: Tg 1,17-18.21b-22.27
Evangelho: Mc 7,1-8.14-15.21-23

Acesse aqui as leituras.

JESUS TORNA PURO TODAS AS COISAS

            Os textos bíblicos deste domingo nos ajudam a refletir sobre a nossa fé, mas principalmente sobre a nossa religião. O confronto entre Jesus e os representantes da religião oficial revela a distância entre eles, mas principalmente como eles viviam de modo totalmente diferente a mesma fé.

Retomamos, neste domingo, a caminhada proposta pelo Evangelho de Marcos. Foram 5 domingos refletindo o capítulo 6º de São João. O contexto anterior ao Evangelho deste final de semana de São Marcos nos mostra Jesus anunciando o Reino de Deus na Galileia, região que está no limite de Israel. A fama de Jesus logo se espalhou e chegou até a Cidade Santa, Jerusalém. As autoridades religiosas ficaram curiosas no início, mas logo a curiosidade se tornou ódio, pois o jovem pregador da Galileia se revelava diferente em princípios e na prática da religião oficial. Jesus foi acusado até de operar milagres em nome de divindades pagãs. Mas, nada abalou Jesus que continuava sua missão.

No Evangelho deste domingo, os fariseus e os escribas resolveram se deslocar da Cidade Santa e acompanhar Jesus na periferia da Terra Santa, Galileia, mas na intenção de flagrar algum erro ou desvio em relação à religião oficial, e eles acharam. Acusaram os discípulos de Jesus de não seguir as tradições dos antigos em relação à purificação das mãos (não se trata de questão de higiene, mas de ritual). Ao questionar os discípulos, eles estavam diretamente colocando em dúvida os ensinamentos do Mestre Jesus. Marcos dá alguns exemplos sobre costumes judaicos, pois seus leitores da época, possivelmente, não conheciam essas práticas religiosas.

            A crítica feita contra Jesus revela a imensa distância que existia entre Jesus e aqueles que defendiam a religião oficial. Nosso Senhor não pertencia a nenhum grupo judeu, não era da linhagem sacerdotal, não estava pregando em Jerusalém e nem no Templo; Jesus estava longe dessas estruturas religiosas que, infelizmente, tinham se esquecido do essencial em uma religião: a misericórdia e as pessoas.

O Mestre Jesus não classificava quem se aproximava Dele como puro ou impuro, pecador ou santo, pobre ou rico, religioso ou pagão; Ele acolhia “pessoas” e lhes oferecia o melhor que podia dar: seu perdão, curas, bênçãos, palavras de vida ou simplesmente abraçava a todos. Cristo, verbo encarnado, queria semear a presença de Deus no coração das pessoas. Jesus acreditava que o contato com o Amor de Deus faria a transformação necessária nos corações das pessoas.

Na missão de Jesus, a pessoa humana ocupava o centro de tudo e por isso, Ele rompia barreiras que tinham sido criadas para separar, excluir e humilhar homens e mulheres. Jesus é o “Deus próximo” mencionado na primeira leitura, Deus que se deixa tocar e abraçar, Deus capaz de transformar a vida das pessoas.

Os religiosos vindos de Jerusalém representavam a religião oficial e se sentiam na autoridade de questionar Jesus em relação às tradições que, para eles, eram fundamentais. Ao responder a eles, Jesus demonstra sua tristeza, pois estavam preocupados com costumes criados por homens e não por Deus.

A religião judaica no tempo de Jesus tinha se tornado um peso para quem quisesse realmente praticá-la. Eram mais de 600 preceitos, normas e proibições que o fiel deveria saber e praticar; somando-se a isto, deveria praticar inúmeros costumes e tradições, como aqueles mencionados no Evangelho relacionados a rituais de purificação. Uma religião feita de vários detalhes que era quase impossível para alguém seguir. Eles acreditavam que bastava a prática destes preceitos para que o fiel se sentisse justificado (santo) diante de Deus.

O judaísmo daquela época tinha se perdido em rituais perfeccionistas que somente traziam angústia e frustrações às pessoas, pois bastava o esquecimento de um simples detalhe para que o judeu se sentisse excluído ou em pecado. Uma religião onde as pessoas não contavam tanto, mas sim, as normas e os costumes.

Jesus se encontrava completamente distante desse mundo religioso dos escribas, sacerdotes e fariseus com seus rituais e costumes. Sem abandonar a religião judaica, o Mestre Jesus procurou concentrar-se nas pessoas que eram marginalizadas e desprezadas pelos representantes da religião oficial. Nosso Senhor não foi um rebelde ou revolucionário, alguém que quis desfazer da religião, mas procurou viver tudo aquilo que era importante e fundamental no judaísmo, mas deixou de lado costumes que atrapalhavam se aproximar das pessoas. Citando o profeta Isaias, Jesus chama aquele grupo de hipócrita: louvam a Deus somente com palavras e não com o coração.

De fato, “coisas” e alimentos não são nem puros ou impuros e não são capazes de deixar alguém em pecado, pois este mal existe é no coração das pessoas e não em objetos e coisas. Voltando-se para os discípulos (não fala mais aos escribas e fariseus, pois sabia que seria inútil), Jesus decreta tudo como puro e explica que nada exterior (tocado ou ingerido) pode tornar uma pessoa impura ou pecadora. De fato, tudo é obra de Deus e são simples criaturas que não têm o poder de tornar alguém indigno diante de Deus. Para Jesus o que mancha alguém de pecado é aquilo que sai do coração e da mente das pessoas. Os pecados – e Jesus cita alguns no Evangelho – esses sim saem de dentro das pessoas e as tornam impuras e pecadoras. Observando a lista apresentada por Jesus se nota que são pecados que acontecem no interior do ser humano e que atingem o próximo. Maldades que ferem e destroem o relacionamento com o próximo e não tanto contra Deus.

Percebe-se que Jesus não obrigava seus discípulos a seguir costumes e tradições que foram criados pelos homens e não são da vontade de Deus. O Mestre Jesus era uma pessoa livre e seguro sobre o essencial em relação a Deus e ao próximo, seus discípulos escolheram segui-Lo, mesmo sendo algo questionado pelos representantes oficiais da religião da época.

Assim, Jesus ensina uma nova religião onde não existe mais desculpas de algo externo que torna impuro ou pecaminoso, mas uma religião onde tudo nasce de dentro de cada pessoa. A maldade no coração das pessoas é que estraga tudo inclusive a própria religião. As leis e os Mandamentos (1ª leitura) devem nos ajudar a praticar e a viver o amor de Deus, sem excluir ninguém e amando a todos.

Na religião de Jesus, cada pessoa ocupa o centro de tudo e tem como lugar privilegiado o coração de cada um, lugar do encontro com Deus bem como lugar a ser curado dos pecados. O coração é o centro da pessoa e também dali é que nascem os bons propósitos; dentro de cada pessoa nascem as boas intenções da verdadeira religião que vai de encontro e acode a todas as pessoas, principalmente, aquelas que são as mais vulneráveis.

Tiago, na 2ª leitura, faz uma crítica semelhante ao Evangelho quando diz que é fundamental que não sejamos somente ouvintes da Palavra, meros escutadores da Boa Nova. A religião verdadeira que Deus espera de todos nós, é aquela em que a Palavra escutada se transforma em gestos concretos e em caridade. Tiago cita algumas pessoas necessitadas do seu tempo que precisavam de ajuda como os órfãos e as viúvas, hoje temos outras realidades humanas que também precisam experimentar o amor de Deus através de nossos gestos cristãos. Precisamos cada vez mais de uma religião do encontro sem preconceitos e vivendo intensamente o amor, esta é a religião que devemos viver sempre!

Faça o download da reflexão em pdf.