#Reflexão: 2° domingo do Tempo Comum (19 de janeiro)
A Igreja celebra o 2° domingo do Tempo Comum, neste domingo (19). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Is 62,1-5
Salmo: 95(96) 1-2a.2b-3.7-8a.9-10a.c (R. 1a.3b)
2ª Leitura: 1Cor 12,4-11
Evangelho: Jo 2,1-11
AS BODAS DE CANÁ
Domingo passado recordamos o início da vida pública de Jesus que tem seu ponto de partida com o Batismo que Ele recebe de João Batista. Segundo São Lucas, no momento do batismo, Jesus é confirmado como Filho Amado e, juntamente com Ele, também são revelados Deus Pai e o Espírito Santo.
Isaías, na 1ª leitura, nos diz que o nosso Deus é irrequieto em relação ao seu povo. Procura de todos os modos resgatar, recuperar e animar os seus filhos apesar da imensa dor e sofrimento que todos ainda estavam enfrentando com a destruição promovida por povos estrangeiros. Nosso Deus assume um compromisso pleno e duradouro da mesma forma quando um casal celebra seu matrimônio. Estamos em tempo de jubileu como tema principal a esperança. Para Isaías, a promessa de esperança era de um tempo novo e terra nova onde todos terão valor e a vida será celebrada com uma boda de casamento.
Bodas de Deus com seu povo, talvez, esta tenha sido a motivação do evangelista João ao narrar o primeiro sinal público de Jesus, não pregando e realizando milagres entre os pobres e doentes, nem mesmo participando de uma celebração na sinagoga (como nos outros Evangelhos), mas em uma festa de matrimônio.
Para as Bodas do Evangelho deste domingo, tudo estava preparado e tudo indica que se tratava de uma família importante pela quantidade de talhas para purificação de todos e os noivos até tinham contratado um mestre de cerimônias. Todos os convidados já estavam festejando o casamento e a Mãe de Jesus estava no local. Jesus é mencionado com alguém que se somou aos outros convidados, sua mãe é que tem atenção dos noivos.
O casal – os principais do casamento – pouco aparece. Há todo um movimento de outras pessoas (Maria, Jesus e os servos) que descobrem o problema e procuram uma solução. Quem preparou as Bodas foi duplamente ineficiente: em relação à quantidade de bebida e, durante a festa, não tinha percebido ainda o que estava por acontecer.
A “festa” na Bíblia é sempre um sinal de felicidade. O “vinho” expressa sempre a alegria que o ser humano é chamado a viver neste mundo: ter vinho e consumi-lo é sempre sinal de tranquilidade, de conquista através do trabalho humano depois de tudo que foi feito na plantação. O vinho é o último ato de um longo investimento cheio de esperança. Tudo termina em um banquete e bebida. Mas, o casal estava próximo de um vexame com a possível falta de vinho. Nem tudo estava perfeito no casamento.
Mas, a Mãe de Jesus estava atenta a tudo e se move para resolver o problema. Ninguém ainda conhecia Jesus, mas sua mãe, sim! Ela apresenta a questão ao seu Filho.
Maria representa todo Israel que acredita nas promessas de Deus e pede incessantemente que logo se manifeste.
Jesus responde, procurando conter a ansiedade de sua Mãe, mostrando que tudo tem seu tempo, ademais, aqueles que eram os responsáveis e os noivos (os principais interessados) nada tinham pedido a Ele. Mas, qual filho deixa de atender um pedido de sua mãe?
A resposta de Jesus poderia ser também uma chamada de atenção de Cristo para que sua mãe não insistisse com Ele, mas com os servos. Como se dissesse: “Não é comigo que tem que falar” (“o que há entre eu e você?”), mas com os outros. Fato que, em seguida, Maria faz. O pedido da Mãe de Jesus é profundo: não somente escutar, mas fazer; acreditar nas palavras e demonstrar em fatos; Acreditar no que Jesus pede e realizar na vida.
As palavras de Maria são o centro de toda história: “façam tudo que Ele pedir”! João nos informa que havia lá seis jarros para a purificação conforme o costume dos judeus. Estavam vazios (já tinham cumprido sua função). Eram de pedras (difíceis de serem movidos) e eram utilizados, normalmente, no Templo para os rituais de purificação. O casamento tinha sido realizado seguindo todos os costumes judaicos, mas não tinha sido suficiente para dar a alegria perfeita para o casal, pois o vinho estava por acabar. Aqui temos a dica que não se trata somente de um casamento para o evangelista João, mas este casamento representa a própria situação da religião da época: tudo conforme as leis, mas tudo estava por terminar sem alegria e numa grande frustração.
Os servos da festa se tornam peça fundamental no desenrolar da história. Primeiro, eles creem na palavra de Maria, e ela por sua vez, solicita que eles acreditassem nas palavras de Jesus. Os servos demonstram serem pessoas com uma profunda fé, mas principalmente, são pessoas do serviço, pois fazem tudo: eles enchem as ânforas com de água e depois – sempre confiantes em Jesus – levam até ao mestre de cerimônia.
O organizador do casamento descobre se tratar de um vinho muito bom e faz um comentário com o noivo sobre a qualidade espetacular do vinho que ele achava que estava escondido. Tudo acontece nos mesmos jarros que estavam vazios que Jesus pediu que fossem enchidos de água.
Jesus preenche o vazio da religião judaica. Jesus não rompe com a religião judaica, mas veio oferecer um “vinho melhor” dentro dela. O verdadeiro Mestre não oferece outra água (continuação dos rituais externos de purificação), mas um “vinho novo e melhor” para ser ingerido (seria o Sangue na Eucaristia?).
No Evangelho de João somente nesta passagem de Caná, o evangelista menciona o vinho (cf. Jo 2,1-10; 4,46).
Os dois vinhos que – segundo o Evangelho de hoje – eram usados nas festas (primeiro o bom vinho, depois um vinho inferior) recordam a própria história da religião de Israel. Tudo inicialmente foi um “vinho bom” que a religião concedia um tempo atrás ao povo judeu, mas depois passou a servir somente “vinho ruim”, e no tempo de Jesus, até o ruim estava acabando. Jesus é aquele que transforma água (representa “vida”) em vinho bom. O “vinho ruim” que todos já tinham bebido, este já tinha acabado, bem antes do “vinho melhor” servido no início da festa. Jesus oferece não somente algo novo (mais vinho), mas algo melhor (vinho bom). Os jarros tinham água que lavam às mãos (o externo); Jesus transforma em algo novo e melhor, mas para ser ingerido (interno). Basta de rituais que somente ficam no externo de nossa fé! É preciso assumir Jesus como algo que dá sentido novo dentro de nosso coração
Jesus é o “Noivo” que prepara o “vinho novo e melhor” é a fonte de tudo que o povo esperava. Foram usadas seis talhas de pedra, este número representa a imperfeição, mas Jesus é a nova fonte de toda alegria, Ele enche as talhas antigas e se oferece como fonte perene e nova para o povo de Deus (em São João, isso se realiza na passagem da Samaritana – cf. Jo 4,5ss).
Ainda hoje, Jesus não é conhecido e por isto, não pode dar o verdadeiro vinho de que muitos precisam. Ele faz parte da vida de muitos, mas é tido como “mais um” em suas vidas. As pessoas organizam suas vidas segundo outros valores e princípios, mas não colocam Jesus como centro. Por isto, o mundo precisa de mais e mais pessoas como Maria que ajudem outras pessoas a conhecer Jesus e a acreditar em suas palavras. O mundo está cheio de gente achando que o vinho que eles estão consumindo é o melhor, mas na realidade é um vinho ruim e está próximo de acabar. Jesus é capaz de oferecer algo novo e melhor, capaz de alegrar ainda mais a vida e a nossa existência, mas é preciso fazer mais do que “convidá-Lo para a nossa festa” (aceitá-lo em suas vidas), Ele precisa deixar de ser “mais um” que compõe a nossa história para se tornar o principal protagonista de nossa vida. Jesus não quer estragar a “festa” (história) de ninguém, mas dar um significado mais profundo, oferecer o “melhor vinho” e alegrar a nossa casa com sua presença e o seu amor.
Nesta história das Bodas vemos várias pessoas procurando evitar o vexame do casal: Maria, Jesus e os servos. No final, o mestre-sala e o noivo nem percebem o que realmente tinha acontecido, pois os verdadeiros atores da transformação trabalharam e realizaram tudo em silêncio. Que bom saber que Maria, mãe de Jesus está sempre atenta a nossa vida e mesmo que nós (como o noivo no casamento) não tenhamos ainda consciência daquilo de negativo que está por acontecer, Maria com Jesus através de tantos “servos de Deus” estão já se mobilizando para que não nos falte o “vinho bom” da alegria em nossa existência, mas para que tudo aconteça é preciso acreditar sempre em Jesus e realizar suas palavras.
Este primeiro sinal do novo tempo iniciado por Jesus tem início na atenção orante de Maria (vê e sente o que vai faltar; a alegria que está por terminar) e de Jesus. Os servos também são chamados a operar tudo no silêncio da obediência.
Na passagem de hoje, os noivos das bodas não são mencionados para que tudo se concentre naquele que é o “Novo Noivo” para o povo de Deus. Maria representa o povo de Deus que acredita na nova promessa que é Jesus e que confia sempre em Deus, mesmo sem ver sinais: é o povo que não perdeu a esperança. Ela conclama os servos a fazem o mesmo: confiar nas palavras de Jesus. Maria é a pessoa de fé que ensina a crer em Jesus, em suas palavras, independentemente de qualquer sinal ou milagre.