#Reflexão: 3° domingo do Tempo Comum (26 de janeiro)
A Igreja celebra o 2° domingo do Tempo Comum, neste domingo (26). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ne 8,2-4a.5-6.8-10 ou Tt 1,1-5
Salmo: 18B(19),8.9.10.15 (R. Jo 6,63c)
2ª Leitura: 1Cor 12,12-30
Evangelho: Lc 1,1-4.4,14-21
JESUS É A ALEGRIA E A FORÇA DE DEUS PRA NÓS
Sabemos da grande importância de reservarmos um tempo pra Deus, não alguns momentos dispersos, mas algo que seja significativo onde possamos experimentar diariamente o amor de Deus. A misericórdia e as graças de que precisamos são dons profundos que Deus quer nos conceder sempre, todos os dias.
Na primeira leitura vemos como o povo de Deus reunido em uma praça valoriza o Dia do Senhor e a sua Palavra. Os judeus guardam o sábado; nós cristãos devemos guardar o domingo. Os sacerdotes e os levitas proclamam, explicam e apresentam a Palavra de Deus como expressão da própria presença de Deus, por isto, todos escutam com atenção, se emocionam, se dispõem a ouvir, acolher com cuidado cada particular e, por fim, O adoram. O Dia do Senhor é um momento especial, de festa e alegria, pois, de fato, Deus quer participar e compor o nosso tempo para junto conosco construir a nossa história. Ele não pode ser somente uma “lembrança em certos momentos”, mas nós precisamos reservar um digno e especial tempo para ouvi-Lo e adorá-Lo.
Jesus Cristo é o Verbo de Deus, expressão do seu agir e da Palavra que salva. Neste domingo, recordamos os primeiros passos de Jesus que, depois do Batismo, inicia oficialmente a sua missão solenemente na sinagoga de sua cidade. Este local de oração era um espaço especial de meditação e estudo das Sagradas Escrituras.
As primeiras palavras do Evangelho de Lucas lembram a dedicação e a seriedade daquilo que Lucas procurou realizar com o seu escrito. O evangelista não conheceu e nem foi discípulo de Jesus. Lucas nos representa, pois tudo o que ele conheceu e acreditava, tinha recebido de pessoas que foram testemunhas e eram ministros da Palavra, servos de Deus a serviço da fé em Cristo. Assim, não se trata de fantasias ou lendas. Tudo que decidiu contar são fatos (“acontecimentos”) que ele procurou pesquisar junto àqueles que viviam a fé. Tudo é para conhecer a “solidez dos ensinamentos” de Jesus e que não é algo para “meros curiosos”, mas para pessoas de fé.
O evangelista soube criar um ambiente de expectativa naquele dia em que Jesus iniciou sua missão. Como bom judeu, em dia consagrado ao Senhor segundo o costume judaico (o sábado), Ele entrou na sinagoga na pequena Nazaré, um lugar simples, considerado sem valor pelas autoridades religiosas de Jerusalém.
Lucas nos diz, inicialmente, que a “fama de Jesus tinha se espalhado”, mas o evangelista não fala o que seria esta fama, pois Ele não conta, antes, nenhum milagre. Pode-se supor que Jesus realizou ações que o autor viu por bem não relatar e que justificariam a fama que Jesus (cf. Lc 4,14.23).
Conforme a tradição naquele tempo nas sinagogas, se fazia a leitura de dois textos: um do Pentateuco e outro entre os Profetas. O segundo leitor, após a leitura, propunha uma explicação sempre segundo os rabinos daquele tempo. Repetiam aquilo que os Mestres ensinavam. Mas, Jesus não fez assim. Inicialmente, tudo começou como sempre se fazia: leitura e o cuidado para com o texto Sagrado, mas após a leitura – como um Novo Mestre – Jesus sentou-se e começou a ensinar algo diferente.
A passagem escolhida por Jesus que todos ouviram foi retirada do profeta Isaías. São palavras de esperança em relação à solidariedade de Deus. Fala de alguém enviado por Deus, ungido e que possui a força que vem do alto. Ele nada faz por conta própria, mas em nome de Deus. Isaías prossegue revelando a transformação que Deus promete realizar em meio ao seu povo. É o que Jesus assume em sua vida na sinagoga de Nazaré.
Não se trata, somente, de um programa social onde todas as desigualdades sociais serão eliminadas. Os primeiros a receberem algo de Deus são os pobres: receberão a Boa Nova. Ele não se tornou “mais um pobre entre os pobres”, mas procurou mostrar que o sentido maior para a nossa vida vai além das coisas materiais e valores sociais. A maior pobreza é aquela espiritual (fruto do pecado) que acorrenta o ser humano em uma decadência humana. Jesus é a libertação e o resgate de toda indigência ocasionada pelo pecado. No entanto, por outro lado, não tem como falar de Deus se as pessoas não têm dignidade e são escravas de outras pessoas, às vezes, até mesmo de gente com a mesma crença.
O texto de Isaías continua afirmando sobre libertação de todos os prisioneiros. Muitos vivem em uma verdadeira prisão a causa de seus pecados. Tais pessoas tornam-se escravas, dependentes e aprisionadas, impedindo-as de viver a vida com intensidade e plenitude. Jesus é a resgate que a humanidade esperava.
A cura da cegueira não é somente “mais um milagre” que Jesus promete realizar. Para o povo da Bíblia, a cegueira impede as pessoas de viver na luz. O pecado torna as pessoas pobres de espíritos, acorrentadas a uma vida de escravos e lhes rouba a paz tornando suas vidas uma constante escuridão.
A libertação da opressão prometida nas últimas palavras de Isaías retrata tudo que oprime o coração de todos como: ódio, rancor, raiva e espírito de vingança. Jesus é aquele que pode dar outro sentido a nossa história e transformar tudo em graça do Senhor, como um tempo de graça ou ano Jubilar de graça para os judeus. Estamos vivendo o tempo do Jubileu da esperança, tempo de renovar nossa fé naquele que pode nos libertar de nossas prisões e cegueiras espirituais.
Segundo o evangelista Lucas, ao fazer a leitura do profeta Isaías, Jesus não leu o versículo final que diz: “e um dia de vingança de nosso Deus” (cf, Is 61,2b). Sabemos que tudo em Cristo Jesus é somente misericórdia e bondade, jamais Jesus fez algo por vingança nem em seu nome e muito menos, em nome de Deus. Um tempo novo de Misericórdia de Deus é o que Jesus veio proclamar.
Após a leitura, Jesus fecha o livro, e abre a sua vida nova para todos. Um messias que não impõe novos pesos, mas os alivia; não traz novos preceitos, mas novos horizontes. No Evangelho, nos surpreende que em suas páginas se fala mais de pobres do que de pecadores; mais dos sofrimentos humanos do que de culpa. O Evangelho não deve ser uma lista de preceitos morais, mas sim nos libertar de pesos que oprimem nossa vida. Jesus nos ensina que Deus não tem como objetivo Ele mesmo, mas pensa sempre em nós; um Deus que existe para nós, se faz um de nós e morre em nosso meio (Ermes Ronchi).
Jesus na sinagoga de Nazaré esclarece e estabelece a sua missão, baseada na Palavra de Deus, mas atualizada na história. Significativa e expressiva é a palavra “Hoje!” pronunciada depois da leitura de Isaías. Tudo que era promessa se realiza naquele tempo e em todos os tempos. Jesus é o “hoje e sempre” de Deus que quer, a cada dia e na vida de cada pessoa, continuar promovendo liberdade, luz e doar misericórdia.
O nosso testemunho de fé e de vida devem ser a melhor forma de anunciar e proclamar hoje e a todos que Deus pode transformar a vida de cada pessoa e assim, transformar o mundo. Paulo na segunda leitura lembra sua comunidade que entre todos deve imperar a unidade e ajuda mútua, pois somos todos irmãos e irmãs pelo Batismo e chamados a viver uma vida de partilha daquilo que é graça de Deus em nossas vidas. No Evangelho, temos uma realidade de escravidão e opressão; no texto de Paulo aos Coríntios, vemos a proposta de uma comunidade de irmãos e irmãs a serviço sempre do bem comum.
Com as palavras de Isaías, Jesus constitui todo o seu programa de vida que podemos perceber em sua missão: a Boa Nova foi anunciada com intensidade aos pobres e a todos que O acolhem; muitos prisioneiros do pecado e de doenças foram resgatados e libertados; inúmeros encarcerados pelo ódio e do próprio mal foram trazidos à luz da verdade. E tudo foi feito sem colocar condições ou exigir algo de nós. Por fim, Jesus deixou um grande dom que atualiza na vida de cada pessoa o amor de Deus: seus ensinamentos, suas palavras e a Eucaristia.
Lucas, ao final da leitura de Isaías, nos diz que “todos tinham os olhos fixos Nele”. Desejo de ouvir a Palavra, acolher a semente de vida que vem de Deus em cada partilha da Palavra de Deus. Todos esperavam algo novo de alguém que vive algo novo (a fama de Jesus em fazer o bem). A sua vida fazendo o bem para as pessoas, ajudou a criar uma expectativa nova. Jesus é o novo que deve ser acolhido em todo o seu ensinamento e principalmente, em toda sua prática que é sempre fazer o bem ao próximo.