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#Reflexão: 7° domingo do Tempo Comum (23 de fevereiro)
A Igreja celebra o 7° domingo do Tempo Comum, neste domingo (23). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23
Salmo: 11(12),2-3.4-5.7-8a (R. 8a)
2ª Leitura: 1Cor 15,45-49
Evangelho: Lc 6,27-38
SEDE MISERICORDIOSOS COMO DEUS PAI É MISERICORDIOSO
A passagem do Evangelho de Lucas deste domingo traz o ensinamento mais genuíno e que mais identifica a vida de Jesus. Ele não ensinou somente isto aos seus discípulos, Ele viveu estas palavras. Domingo passado, Jesus propôs o exigente ensinamento das bem-aventuranças; hoje, Jesus continua instruindo seus discípulos.
Na passagem das bem-aventuranças, Lucas nos informou que Jesus reuniu os discípulos e lhes comunicou aqueles princípios fundamentais, pois eles tinham decidido seguir os passos de Jesus e por isso, tinham que viver como Jesus vivia. No Evangelho deste final de semana, Jesus explica como os discípulos devem colocar em prática quando passassem por perseguições e o ódio das pessoas que não aceitam o Deus da Misericórdia pregado e ensinado pelo Mestre Jesus.
Já de início fica claro sobre tais opositores, não devem ser combatidos como inimigos, pois quem está da parte de Deus Misericordioso não combate o mal com o mal. O que se deve enfrentar não são pessoas, mas o que destrói o ser humano: o ódio.
A “sabedoria” humana contesta Jesus: amar os inimigos é impossível. E Jesus contesta o pensamento comum: Amai-vos, senão vocês vão se destruir. Porque a noite não se derrota com as trevas; o ódio não se combate com outro ódio (Ermes Ronchi). No fundo, Jesus quer eliminar o próprio conceito de “inimigo”.
Jesus inicia com quatro verbos que ilustram as principais ações que o discípulo deve colocar em prática. A primeira e a principal é reagir sempre com amor. Nosso Senhor não pede para “suportar”, “tolerar”, “respeitar”, mas sim “amar os inimigos”. Diante daquele que se coloca como inimigo, o discípulo de Jesus tem que ser diferente e reagir de forma contrária: com o amor. “Amar o inimigo” significa ir ao encontro do outro com generosidade mesmo que ele se oponha a nós; significa querer o bem do outro mesmo que seja ele quem nos faça mal; significa fazer o bem, cuidar do outro amando-o como a nós mesmos (Enzo Bianchi). Esta primeira parte do texto, as palavras são dirigidas, inicialmente, ao grupo de discípulos com “vós” (vv.27-28).
Na mesma linha, insiste Jesus que diante do ódio, é necessário continuar fazendo o bem sempre. Se há alguém que fala mal e amaldiçoa, ao invés de também agir do mesmo modo, o discípulo de Jesus deve “bendizer” (= dizer boas coisas). Jesus tem razão e insiste que a melhor forma de combater a escuridão presente no coração daqueles que se colocam como inimigo é responder com a luz do amor.
Jesus dá dois exemplos, agora dirigidos a cada discípulo com “tu” (vv. 29-30): “Se alguém te agredir (dar uma bofetada)…”, oferece algo diferente do que ele espera: a outra face. É a forma de romper com o ódio que vem do outro, mas não faz eco dentro de nós. Oferecer outro lado ao invés do ódio, desarma aquele que se aproxima como inimigo. É um sinal que o discípulo não está armado de nada, que não precisa se defender de nada. Jesus ensina que é necessário oferecer “outra face” senão vencerá sempre o mais forte, quem pode agredir mais, o mais violento e cruel.
O princípio fundamental na vida do discípulo não é o que os outros fazem, mas aquilo que Jesus faz; não se deve reagir na mesma medida que o próximo, mas conforme o Mestre Jesus. O bem que desejamos para nós mesmos é que deve reger a nossa vida em relação ao próximo, mesmo que esse se coloque como inimigo. Ademais, alguém se torna meu inimigo, somente quando eu o considero como um rival. O desafio é romper com a regra da reciprocidade negativa: o que o outro me faz, eu faço na mesma medida para ele (a lei antiga: “olho por olho, dente por dente”). Jesus propõe o contrário: independentemente do que o outro fizer, responda sempre com amor, mas um amor que vai além, que surpreende e desarma até o mais profundo sentimento de ódio. O discípulo que Jesus quer é aquele que vai além, que não é apegado nem a si mesmo. Tudo que ele tem, está a serviço. Se alguém quer te arrancar aquilo que te pertence (“o manto”, que ficava sobre a túnica), vá além: dê mais do que isso, dê também sua túnica (roupa). O mesmo se deve fazer para aquele que pede gentilmente o que você possui: dê mais do que te pedi, vá além do normal, caminhe além do que lhe foi pedido.
Só assim, amando os outros sem reciprocidade, fazendo o bem sem calcular vantagem e dando desinteressadamente sem esperar nada em troca, se vive a “diferença cristã”. Nesse comportamento está a conformidade do discípulo com o Deus de Jesus Cristo, aquele Deus que Jesus descreveu como amoroso, capaz de cuidar dos justos e dos pecadores, dos fiéis e dos ingratos. Se Deus não condiciona o seu amor à reciprocidade, ao recebimento de uma resposta, mas doa, ama, cuida de cada criatura, também o cristão deve comportar-se assim no seu caminho rumo ao Reino, no meio da humanidade da qual faz parte (Enzo Bianchi).
O modelo de vida do discípulo que é desapegado das coisas do mundo, é seguir sempre Jesus, principalmente do trato com as pessoas que se apresentam com ódio. Jesus alerta que fazer o bem e amar o próximo mas somente aqueles que estão do nosso lado, não tem nenhuma novidade. Os maus também amam aqueles que são iguais a eles; os violentos têm bons sentimentos para outros que são iguais a ele.
Jesus insiste uma segunda vez com “amai os vossos inimigos”, fazer sempre o bem. O Mestre Jesus lembra que assim é que o discípulo receberá uma grande recompensa, mas não das pessoas ou deste mundo, mas de Deus, pois sereis “filhos do Altíssimo”. Semelhante a Deus Pai que é bom também para os ingratos e os maus.
Se na Torá, o Senhor pediu aos filhos de Israel em aliança com Ele: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lv 19,2), e isso significava ser distinto, diferente da mundanidade, em Jesus esta advertência se torna: “Sede misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso”. Na tradição das palavras de Jesus segundo Mateus ressoa o mandamento: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,48). Aqui, porém, o que é destacado é a misericórdia de Deus; além disso, já segundo os profetas, a santidade de Deus era misericórdia, manifestava-se na misericórdia (cf. Os 6,6; 11,8-9). A misericórdia, o amor visceral e gratuito do Senhor que é “compassivo e misericordioso” (Ex 34, 6), deve tornar-se também o amor concreto e quotidiano do discípulo de Jesus para com os outros (Enzo Bianchi).
Na 1ª leitura lemos o exemplo de Davi que é mostrado como alguém temente a Deus e por isso, mesmo tendo oportunidade de executar o rei Saul que se tinha colocado como seu inimigo, não o faz: “não se toca no ungido do Senhor”. Davi age com misericórdia e mesmo assim, Saul não muda sua intenção de combater aquele que sente ser seu concorrente ao trono. Os livros históricos da Bíblia contam o final triste do rei Saul, abandonado até por Deus. Segundo Paulo na 2ª leitura, temos dois modelos de vida que podemos escolher: Adão que representa a realidade puramente humana de nossa existência com seus erros e pecados; e Jesus, colocado também como um homem, mas voltado para as “coisas celestes” que são os seus ensinamentos e exemplo de vida.
A generosidade sempre marcou a vida de Jesus: dar o que tem com alegria e sempre querendo o bem do próximo até mesmo daquele que escolhe ser seu inimigo. É o rosto do Deus da misericórdia. Ele é que devemos buscar imitar e ser semelhante. No mundo, quase sempre, impera o ódio entre as pessoas; os discípulos de Jesus devem resplandecer o rosto misericordioso de Deus Pai. Quem faz a experiência do amor e da misericórdia de Deus Pai, não se sente no direito de julgar, condenar e fazer mal ao próximo, pois Deus é muito mais justo que todos, como também é sempre misericordioso. Essa será a medida que Deus usará para nos medir: será conforme o que cada um vive de misericórdia em relação ao próximo.