Dom Ricardo Pedro é enterrado na Cripta da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre

3 de abril de 2018

O Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Pouso Alegre, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho – O.Praem., foi sepultado na tarde desta terça-feira (03) na Cripta da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre. Seu corpo estava sendo velado na Igreja Mãe da Arquidiocese desde segunda-feira, tempo em que 11 missas foram celebradas em memória de sua alma. No domingo, o corpo de Dom Ricardo já tinha sido velado em Monte Sião, obedecendo um desejo do próprio Arcebispo, por ser aquele Santuário o primeiro a ser erigido por ele com o título Mariano, Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.

Conheça alguams das realizações de Dom Ricardo na Arquidiocese

Decreto do Arcebispado sobre os funerais e missas em memória de Dom Ricardo

Foto: Cláudia Couto/ Pascom Arquidiocesana

Às 13h30, os padres entraram em silêncio pelo corredor central da Catedral, se posicionando próximo ao caixão. Ali realizaram suas orações e fizeram suas últimas homenagens ao Arcebispo falecido. Dom Majella retirou o anel, os cravos do pálio (sinal do pastoreio de Dom Ricardo, a cruz e a mitra, insígnias do episcopado. Sendo que somente a Mitra foi enterrada junto com Dom Ricardo. Os outros três sinais são guardados na Cúria Metropolitana. O féretro foi lacrado e levado para o presbitério, para o início da missa.

A última Eucaristia, às 14h, foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom José Luiz Majella Delgado – C.Ss.R., e concelebrada por Dom Marco Aurélio Gubiotti (Bispo de Itabira-Coronel Fabriciano-MG), Dom Guilhermo Porto (Bispo Emérito de Sete Lagoas-MG), Dom Ricardo Pedro Paglia (Bispo Emérito de Pinheiro-MA), Dom João Bosco Óliver de Faria (Arcebispo Emérito de Diamantina-MG), Dom José Francisco Rezende Dias (Arcebispo de Niterói-RJ), Dom Luiz Gonzaga (Bispo de Amparo-SP), Dom Edson Oriollo (Bispo Auxiliar de Belo Horizonte-MG), Dom Valdir Mamede (Bispo Auxiliar de Brasília-DF) e por dezenas de padres do clero arquidiocesano, outras dioceses e religiosos. A Igreja Catedral ficou cheia de fiéis, que também vieram prestar suas últimas homenagens à Dom Ricardo, que por 18 anos esteve à frente da Arquidiocese de Pouso Alegre. Familiares de Dom Ricardo estavam presentes na cerimônia.

Antes da saudação inicial, foram prestadas as homenagens. Representando os poderes públicos Municipais, Estaduais e Federais e as mais diversas autoridades presentes, o Prefeito Municipal de Pouso Alegre, Rafael Tadeu Simões, fez uso da palavra, sendo seguido por Maria Antonieta Biagione Tiburzio (representante dos leigos da Arquidiocese), Irmão Dino (representante dos religiosos e religiosas, Padre Ângelo Chaves (sobrinho de Dom Ricardo, falando em nome da família), Cônego Vonilton Augusto Ferreira (que falou em nome do clero Arquidiocesano) e Dom José Francisco Rezende Dias (falando em nome dos quatro bispos que sairam do clero arquidiocesano).

Seguindo a Liturgia, a homilia foi feita por Dom João Bosco Óliver de Faria, amigo pessoal de Dom Ricardo. Ele falou sobre a relação que nós temos com o tempo, muitas vezes sem compreendê-lo na sua plenitude.

Foto: Cláudia Couto/ Pascom Arquidiocesana

“Pela gentiliza de Dom José Luiz que me oferece a oportunidade de prestar a dom Ricardo esta homenagem e com a autoridade de quem já está com a senha nas mãos, elevo do coração a minha palavra de carinho e de afeto com esse irmão no episcopado. Nós estamos no tempo e por estarmos no tempo não temos ideia do tempo. Existe o tempo absoluto, existe o tempo relativo do ontem, do hoje e do amanhã. E o tempo é uma realidade que nós não chegamos a penetrá-la profundamente. E do tempo para a eternidade há uma cortina que separa e quando a pessoa vem a falecer, ela sai, atravessa a cortina que separa o tempo da eternidade e mergulha na imortalidade, no abraço eterno com Deus. A vida de uma pessoa não se mede pelo tempo dos anos vividos, mas pela profundidade da vivência deste tempo e sobretudo pela vivência do amor e pelo bem que a pessoa faz. Nós não sabemos os desígnios divinos para nossas vidas, o que importa é saboreá-los em profundidade, viver intensamente e vivê-los bem.

O pregador afirmou que Dom Ricardo continua vivo e fazendo o bem através das mãos dos sacerdotes que ordenou
“Dom Ricardo aparentemente morreu, mas Dom Ricardo não morreu. Peço aos senhores sacerdotes que foram ordenados por Dom Ricardo que se levantem. Lemos no livro do Ecelsiásito 30,4: ‘o pai morreu e quase que não morreu porquê deixou depois de si alguém semelhante à ele’. As mãos de Dom Ricardo que se impuseram sobre suas cabeças e os fizeram sacerdotes do Senhor continuam ordenando em todas as Santas Missas que os senhores vierem a celebrar, em todos os pecados perdoados, em todos os doentes levantados e aliviados nas dores e sofrimentos e na esperança do abraço eterno com Deus no céu. Dom Ricardo continua vivo no exercício do sacerdócio que Deus lhes concedeu pelas suas santas mãos consagradas”.

Ainda segundo Dom João Bosco, o amor do sacerdote é sempre oblativo e explicou esse mistério da morte, a qual deve ser compreendida como a explosão dos limites.

Foto: Cláudia Couto/ Pascom Arquidiocesana

“A Palavra Biblica que iluminou seu ministério episcopal, como já ouvimos, o amor de Cristo no empurra, nos impulsiona, nos joga adiante. O amor é somente às pessoas. Não posso amar um animal, uma planta, uma cidade. O amor somente é à uma pessoa, porquê o amor é oblativo. Senhoras mães e pais, por razão do amor profundo pelos próprios filhos, os senhores se derramam em sacrifícios e renúncas pelo bem dos próprios filhos. O amor é oblativo. Ser sacerdotes de Jesus Cristo é estar mergulhado no amor de Cristo que assume sua paixão no Horto da Oliveiras e derrama seu sangue até a última gota. Ser padre é amar à Cristo e à Igreja e por eles se doarem e se consumirem. Deus lhe concedeu uma graça que seria simples e singela, mas que tem uma riqueza profunda. No tempo somos chamados à eternidade. Dom Ricardo recebeu uma graça preciosa: a morte lenta. As limitações vao chegando, as pernas precisam do auxiílio para caminhar, os braços nao tem tantas forças para o peso, depois a limitação do leito, o afastamento dos amigos, a limitação que é a de de um quarto hospitalar, a limitação da solidão terrível da UTI, que a pessoa vai lentamente sendo dominada pelas emoções. Os boletins médicos com frequência assinalam falência múltipla dos órgãos. A matéria e o tempo vão chegando aos seus limites. É um mistério belíssimo, porquê a pessoa está viva, ela entende, ela percebe, mas não consegue se comunicar, o corpo já não ajuda mais. Me recordo de Dom José D’Ângelo pediu que chamasse alguém e quando aquela pessoa veio ele não conseguiu mais falar. E lentamente levantou a mão e olhou num olhar de gratidão sem poder dizer nada. A morte é a explosão dos limites, todos eles se quebram e se quebram no tempo e a pessoa quebra os limites da matéria e do tempo para penetrar no abraço da imortalidade, na eternidade de deus. O céu, o repouso eterno é festa, é alegria e santo Agostinho assim descreve o céu: o céu é um domingo sem segunda-feira, é uma festa sem ressaca, são ferias sem fim. Dom Ricardo, belo domingo sem segunda-feira, grandes festas e uma férias sem fim. Deus o ilumine com a Sua Luz e com seu amor que o atraiu desde a infância aos bancos do Seminário de Diamantina”, finalizou.

Após a Comunhão Eucarística e as orações exequiais, o caixão com o corpo de Dom Ricardo acolhido na praça em frente à Catedral por todos aqueles que participavam da celebração, contornou a praça central e foi levado para a Criptta da Catedral para ser seputaldo. Dom Majella abençou o túmulo onde o caixão foi enterrado.

Biografia

Dom Ricardo nasceu em Capelinha (MG) no dia 6 de agosto de 1938. Era filho do casal Pedro Chaves Pinto e Paula Amélia Dias. Cursou os dois primeiros anos em escola rural, na fazenda de seu pai, concluindo o primário na cidade de Caetanópolis (MG). Em 1954 entrou para o Seminário Provincial do Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina, e, em 1957, passou para a Escola Apostólica São Norberto, no município de Montes Claros, onde terminou o Seminário menor.

Foto: Cláudia Couto/ Pascom Arquidiocesana

Em 28 de janeiro de 1961, ingressou no Noviciado dos Cônegos Presmonstratenses, em Pirapora do Bom Jesus (SP), onde, posteriormente fez cursos de Filosoria e Teologia. Foi ordenado padre no dia 29 de junho de 1967. Em 1983, licenciou-se em Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma. Dom Ricardo foi Vigário da Paróquia de Bocaiúva (MG) por dois anos. Exerceu o cargo de reitor da Escola Apostólica de São Norberto e do Seminário Maior da Ordem, em Belo Horizonte. Atuou também como Mestre de Noviços.

Em dezembro de 1983, foi nomeado Superior da Ordem Premonstratense de Minas Gerais. A partir de 1986, transferindo-se novamente para Belo Horizonte, assumiu a função de vigário na Paróquia São Gonçalo, em Contagem (MG).

O então padre Ricardo foi designado Bispo de Leopoldina, pelo Papa joão Paulo II, em 14 de março de 1990. No dia 21 de abril do mesmo ano foi ordenado bispo em Contagem.

Dom Ricardo foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Pouso Alegre no dia 16 de Outubro de 1996, tendo tomado posse no dia 3 de dezembro do mesmo ano. Exerceu seu episcopado até 2014, quando o Papa Francisco acolheu seu pedido de aposentadoria. Como Arcebispo Emérito residia no município de Monte Sião. Conforme determina o Código de Direito Canônico, ao completar 75 anos, Dom Ricardo enviou à Santa Sé sua carta de renúncia à Arquidiocese e no dia 28 de maio de 2014 o Papa Francisco a aceitou. Dom Ricardo Pedro tornou-se o primeiro Arcebispo emérito de Pouso Alegre. Residiu por alguns meses na cidade de Poços de Caldas, mudando-se para o município de Monte Sião, onde vive hoje e continua a evangelizar com seu exemplo de fidelidade e dedicação ao ministério que exerce.

Doença e morte

O Arcebispo Emérito, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho – Opraem, faleceu no último domingo (01), no Hospital Samuel Libânio, em Pouso Alegre, onde estava internado desde o dia 09 de março. Ele completaria 80 anos de idade em agosto deste ano. Ele foi internado no dia 16 de fevereiro para retirada de um coágulo no cérebro e chegou a ter alta médica no início de março, iniciando sua recuperação no Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora Auxiliadora. Mas por indicação médica, voltou ao hospital.