#Reflexão: 28º domingo do Tempo Comum (09 de outubro)

5 de outubro de 2022

A Igreja celebra, no dia 09, o 28º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: 2Rs 5,14-17

Salmo: 97(98),1.2-3ab.3cd-4 (R. cf. 2b)
2ª Leitura: 2Tm 2,8-13
Evangelho: Lc 17,11-19

Acesse aqui as leituras.

FÉ QUE PRODUZ SALVAÇÃO 

            Depois de termos ouvidos algumas palavras de ensinamento nos dois últimos domingos, Lucas nos informa que Jesus retoma sua estrada para Jerusalém. Ele é decisivo em sua jornada, mas é capaz também de se comover com o drama das pessoas que Ele encontra pelo caminho.

Jesus e os apóstolos passam por duas regiões: Samaria e Galileia. A primeira era considerada pelos judeus como terra pagã e povo infiel a Deus. Os judeus da Judeia (onde está Jerusalém) detestavam essa gente. Nosso Senhor atravessa estas terras de povos separados, mas antes de entrar em uma aldeia um grupo de pessoas vem ao seu encontro. Tudo indica que Jesus ainda não tinha entrado na vila, pois aquele grupo era diferente: eram leprosos. Esta doença era algo terrível naquele tempo. Um leproso era considerado um “morto vivo”. A lepra por ser contagiosa, o doente deveria se afastar do convivo comunitário, vestir-se de um modo que fosse facilmente visto de longe e quando se aproximasse de alguém deveria gritar: Leproso! Impuro! Um leproso era considerado um amaldiçoado por Deus, alguém que tinha cometido um grande pecado e por isto, Deus lhe estava punido com tal doença que ia matava a pessoa aos poucos.

            O grupo de leprosos era composto por 10 pessoas, sendo nove judeus e um samaritano. A doença tinha unido todos em um ideal, as diferenças sociais e religiosas tinham desaparecido, o drama de cada um tornou-se a única coisa importante que, juntos, buscam uma solução. Alguém pede para Jesus, mas faz a solicitação em nome do grupo. Eles não seguiram as normas para leprosos, pois deveriam gritar em alta voz a condenação que todos estavam vivendo (a lepra). Eles rompem tais barreiras e se arriscam colocando-se no meio da estrada de Jesus. Nosso Senhor interrompe seu caminho, vê a ânsia e o desespero do grupo e lhes apresenta uma solução.

Eles pedem a Cristo, usado um termo que o terceiro evangelista reserva para Jesus: Mestre. Tal termo, exclusivo de Lucas, em todos os outros casos neste Evangelho somente os discípulos é que pronunciam. Eles se colocam não como “fiéis de momento” (por causa da doença), mas como discípulos. Imploram a Jesus não a cura, mas para “ter piedade” deles. Os leprosos reconhecem em Jesus alguém que era capaz de interceder e conseguir a misericórdia do perdão de Deus, e assim, acreditavam eles, um milagre poderia acontecer.

Estamos acostumados ver Jesus sempre operando diretamente curas e milagres, sem intermediários. Aqui, Ele pede algo que, aparentemente, era muito estranho. O pedido de Jesus aos 10 doentes implicava sérios riscos, pois eram leprosos. Eles teriam que entrar na cidade e deveriam se apresentar ao sacerdote, mas isto somente após estarem curados. Naquele tempo, os sacerdotes é que avaliavam as doenças de pele: se suspeitasse que fosse lepra, a pessoa teria que abandonar a comunidade; se conseguisse um milagre, o sacerdote deveria reavaliar a pessoa e depois decretar sua readmissão à comunidade. Jesus não opera o milagre imediatamente, mas pede este gesto de fé e confiança para os leprosos.

            Eles iniciam sua jornada, confiando em Jesus e acreditando que, de algum modo, enquanto caminhavam, o milagre aconteceria. E isto se realizou. A fé é algo que se realiza no decorrer do nosso caminho; é um processo que nos coloca em caminho, nos move com a esperança de conseguir o que necessitamos. A fé produz movimento e vida em seus fiéis.

É interessante perceber que o milagre que tanto desejavam aconteceu como resultado de uma confiança absoluta nas palavras de Jesus. Eles não pediram provas para Cristo para iniciarem o caminho, nem solicitaram algum sinal que lhes desse a certeza de que tudo iria acontecer conforme eles desejavam. Mas, tendo a plena confiança e somente a fé em Jesus, eles começaram a se colocar em caminho e, então, tudo se realizou.

Mas, Lucas nos diz que somente um retornou do meio do caminho dando glória a Deus em alta voz. Antes tinha que gritar: “leproso”, depois do milagre gritava louvores a Deus. A atitude deste curado da lepra é algo espetacular: agradece primeiro a Deus e publicamente (em “alta voz”). Antes não pode se aproximar de Jesus como desejava, agora curado, faz muito mais do que isto: com o rosto por terra diante de Jesus, ele “rende graças” (= “eucaristia”). O gesto daquele que foi curado enquanto caminhava torna-se mais significativo com a observação de Lucas: “era um samaritano”. Vendo isto, Jesus fez algumas observações em forma de pergunta.

            Todos os dez estavam condenados e mediante a fé comum, eles foram libertados. O único caminho que tinham era a morte. Com a cura, eles ganham tudo novamente, inclusive a liberdade de escolher aonde ir. Eles receberam uma ordem que era a condição para obterem a cura, os nove tudo indica que foram até o final seguindo as palavras de Jesus e não foram capazes de perceber o que era mais importante. De fato, a lei os obrigava a se apresentarem diante do sacerdote (e Jesus assim, pediu que fizessem), mas eles não descobriram que o milagre não foi alcançado por causa das leis judaicas e nem pelo sacerdote judeu ao qual deveriam se mostrar, mas por Jesus. Após a cura, tudo retorna como antes: judeus para um lado e samaritanos para o outro.

Mas, o que chamou atenção de Jesus foi o descaso para com Deus: somente um estrangeiro e ainda por cima um samaritano é que voltou para agradecer a Deus aos pés de Cristo. “Voltar” do seu caminho, repensar a caminhada, redescobrir o verdadeiro e o profundo sentido daquilo que realmente é importante. A fé profunda dos dez leprosos lhes tinha conseguido uma cura para o corpo, mas não tinha atingido a alma de todos. A fé solucionou um problema, mas somente no samaritano despertou para a conversão e para a mudança de prioridades e da própria vida. Jesus deveria ser o caminho para se chegar até Deus e não mais as leis.

            A fé genuína (como no domingo passado) deve produzir frutos da conversão, nos ajudar a refazer nossos caminhos tendo Jesus acima de tudo. Mas, o principal efeito da fé esperada por Deus e por Jesus é o agradecimento. A doença tinha unidos todos por uma única causa cuja força da fé tinha conseguido o efeito desejado, mas após a cura, os nove retomaram suas vidas de antes. Isto é muito comum ainda hoje: muitos são fervorosos e fiéis enquanto necessitam de alguma graça ou cura. São pessoas próximas de Deus enquanto precisam de algo, mas se mostram incapazes de “retornar” e desviar de seus caminhos para se colocar diante de Jesus, rendendo graças (eucaristia), pelas coisas grandiosas e boas da vida e de tudo. A cura pela fé foi somente do corpo e não do coração.

Na primeira leitura vemos uma história semelhante de alguém que também precisou acreditar não em grandes sinais, mas na força de Deus que operava através de um simples profeta e de coisas simples (como banhar-se em um rio). O agradecimento de Naamã é profundo e sincero. Ao retornar para seu país, o funcionário do rei estrangeiro leva a terra daquele lugar como sinal da graça de Deus e assim, onde estivesse ele iria oferecer constantes sacrifícios de agradecimentos a Deus. Se a fé produz milagres (soluções para nossos problemas), Jesus alerta que somente o agradecimento constante em nossa vida é que produz realmente a salvação, dom eterno de Deus para todos nós.

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