#Reflexão: 1º domingo da Quaresma (26 de fevereiro)

24 de fevereiro de 2023

A Igreja celebra o 1º domingo do Tempo Quaresmal neste domingo (26). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Gn 2,7-9.3,1-7

Salmo: 50(51),3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a) ou ou mais breve 5,12.17-19
2ª Leitura: Rm 5,12-19
Evangelho: Mt 4,1-11

Acesse aqui as leituras.

TENTAÇÕES E LIBERDADE

Neste primeiro encontro dominical do tempo da Quaresma, nos deparamos com duas situações muito semelhantes que representam muito bem a nossa realidade humana: nossa liberdade e a nossa resposta em relação às tentações.

Conhecemos a história da criação do mundo, Deus, livremente cria o mundo e em cada ato como Criador, Ele dá existência a tudo da melhor forma possível. Não cria um mundo para si, mas para o homem e a mulher que Ele cria por último. Diferentemente das demais coisas criadas, ouvimos na primeira leitura que Deus expressou toda sua proximidade e intimidade ao formar o ser humano. Tudo criado antes do homem, Deus o fez com um ato e usando somente sua palavra; mas, a criação do homem foi diferente: foi algo que se aproxima a um parto, onde o ser foi formado, gerado e por fim, nasceu para este mundo com um sopro.

Desde o início, o projeto de Deus para com homem é de máxima proximidade, algo que nenhuma outra criatura possui. O homem Adão, não foi uma criatura (como as demais) que simplesmente passou a existir, mas foi gerado desde o início de uma forma única, pessoal e especial. O livro do Gênesis no capítulo 1º diz que Deus criou o homem e a mulher a “imagem e semelhança” Dele. Duas qualidades que distinguem o ser humano de todos os demais seres neste mundo. Com esta linguagem, a Bíblia expressa que temos muito em nós que nos liga e nos aproxima de Deus, mas seremos sempre sua “imagem”: necessitamos de Deus para existir! O mundo é o “espelho” e nós somos o reflexo de Deus na criação!

Há algo em nós que é exclusivo e nos coloca em proximidade com Deus: nossa liberdade. E Deus nos fez “semelhantes” a Ele (em relação à liberdade) para que pudéssemos exercer o seu principal dom: Amar. Somente quem é livre é capaz de amar. O dom da liberdade não foi para que o homem e a mulher fizessem o que bem entendessem, mas que usassem para amar, pois somente o amor vivido no máximo de sua intensidade aproxima o ser humano (criatura) de Deus Criador.

Neste mundo, mesmo sendo o Paraíso criado por Deus, era necessário ter um limite. Somente Deus possui liberdade plena e sem limites. Para vivermos e praticarmos o amor é necessário que respeitemos limites. No relato da criação são as duas árvores no centro da criação. Deus permitiu a Adão e a Eva de usufruírem de tudo, menos do fruto de duas árvores. Deus não lhes pediu tudo, mas o mínimo: não comer dos frutos da árvore do conhecimento e da árvore do bem e do mal.

Mas, a Mal entrou na história. Sugerindo dúvidas e questionando as próprias palavras de Deus, a serpente convenceu que os dois poderiam ser “iguais” a Deus (não estavam satisfeitos em ser imagem e semelhança). O desejo de romper seus limites e tomar posse de coisas materiais para serem iguais a Deus, tornou os frutos daquelas duas árvores, mais apetitosos dentre todos os demais no Éden. A liberdade, se fosse vivida em sua intencionalidade principal (o amor) tornariam os dois cada vez mais próximos do Criador, mas eles queriam superar tudo e serem “iguais” a Deus. A serpente usou de mentiras para destruir a relação perfeita que havia entre Deus, Adão e Eva. O paraíso foi perdido. Eles imaginavam que iriam possuir tudo e se viram sem nada, rebaixados a realidade de miséria e “indigência” espiritual (notaram que estavam nus).

No Paraíso, a serpente tentou Adão e Eva com o desejo de serem iguais a Deus. No Evangelho deste domingo, nos deparamos com Jesus que também sofre a ação do Mal expresso em toda sua realidade e nome. Jesus é Deus que se fez homem, por isso, as tentações são em relação às situações que iriam tornar Jesus um grande e famoso homem, mas Ele não caiu na conversa do tentador. Então, baseado nesse fato, Paulo na segunda leitura, chama Jesus de “Novo Adão”: aquele que refaz e ensina o caminho para reconstruirmos nossa relação com Deus. O Diabo esperou o momento oportuno para agir. Jesus foi tentado, não quando estava em suas perfeitas forças e com todo o vigor inicial da oração, mas quando sentiu fome. O deserto é lugar da presença e do forte encontro com Deus, por isso, as tentações também são fortes. Jesus nos ensina a repensarmos nossas relações: com as coisas materiais deste mundo (pão); nossos desejos e anseios em relação aos nossos irmãos (jogar-se do templo) e nossa fé em relação ao nosso Deus (quem realmente nós servimos e adoramos).

O Mal propõe algo que, aparentemente, seria natural e compreensivo: matar a fome. Alguém poderia até argumentar que Jesus teria este direito, pois é necessário alimentar-se para sobreviver; ou ainda, “que mal teria feito Jesus se tivesse transformado uma simples pedra em pão (o deserto está cheio delas)?”. Foi o que fez a serpente com Eva quando “puxou conversa” e lhe fez uma pergunta, questionando as palavras do Criador. O mal, muitas vezes, pode se esconder em algo que é proposto como um direito, uma necessidade e até como uma obrigação (de se alimentar pra viver).

Jesus jamais fez algo em proveito próprio, nem mesmo um simples pão. Na realidade, Ele se transforma em pão para todos nós. Este é o pão verdadeiro que sai da “boca de Deus” e não do Diabo. Mas por que Jesus negou a proposta do Diabo? Apesar de estar com fome e ter poder para fazer o que Lhe foi proposto, Jesus recusou, pois a proposta não vinha de Deus, mas do tentador. Quantas vezes caímos em tentações, exatamente porque nos deixamos seduzir com algo que “aparentava” ser bom ou um “direito meu”, mas como não vem de Deus, jamais poderá nos levar até Ele.

A segunda tentação do Diabo foi de convencer Jesus a usar o seu poder para se “autopromover”. O tentador se apresenta como alguém que quer ajudar a promover a missão messiânica de Jesus. O povo gostava e gosta de milagres e certamente, Ele iria atrair multidões com sinais espetaculares, bastaria Jesus se jogar do Templo (forçar um milagre), isto é, forçar Deus vir em seu socorro para promovê-Lo como Messias. Mas, Nosso Senhor nunca usou qualquer dom ou poder para ganhar qualquer prestígio ou receber benefícios. Sempre colocou seus dons a serviço das pessoas, principalmente, dos mais necessitados.  Portanto, os nossos Dons que não são colocados a serviço do próximo, acabam corroendo a própria pessoa, pois cria um falso fascínio e brilho que não se sustentam por muito tempo.

Mostrando “os reinos do mundo com suas glórias”, o tentador procurou seduzir Jesus para construir uma realidade que satisfizesse todos os prazeres terrenos. É a terceira tentação. Mais uma vez, o Mal usou de mentira e prometeu aquilo que não pode dar, mas procurou fascinar Jesus com as riquezas deste mundo. O Mal propôs uma troca: os reinos e não a cruz; o domínio e as riquezas do mundo no lugar da pobreza e da simplicidade de vida. Tudo isso tinha o preço:  abandonar definitivamente Deus Pai. Mas, Jesus já tinha um Reino que vai muito além dos reinos que conhecemos. Seria trocar o eterno pelo fugaz e transitório como são todos os reinos que já conhecemos na história.

Em todas as tentações, o Mal usou até da própria Palavra de Deus para conseguir desvirtuar Jesus do Seu caminho. Em todas as situações, Jesus rebateu as tentações, usando também da Palavra de Deus, mas principalmente, não dando espaço para dúvidas. E a intimidade de Jesus com o Pai Lhe dava forças para sempre permanecer na confiança que Ele jamais O abandonaria. O tempo de oração e de deserto foi intenso e profundo de tal forma que nem a mais feroz ação e astúcia do Mal conseguiram destruir o projeto de Deus em Jesus Cristo.

O amor ensinado por Jesus é livre, intenso e profundo, pois resgata a realidade original que foi perdida pelos nossos primeiros pais. Nosso Senhor nos ensinou que dentro de nós mesmos, já possuímos a forma de refazermos o projeto original criado por Deus que também reconstrói a nossa realidade conosco e com nossos irmãos e irmãs. Nas tentações, o diabo tentou destruir a realidade de filiação de Jesus “se és filho de Deus…” para assim, se propor como novo guia e referencial em sua vida. Que jamais nos esqueçamos, que também somos filhos e filhas de Deus!

O tempo da Quaresma é um momento especial em cada um e é  chamado a rever sua relação com Deus, com o próximo e consigo mesmo, pois somente quando estamos seguros do Amor de Deus e da sua presença em nossa vida, nada neste mundo se mostrará mais necessário (pão), mais importante (pular do templo) e fascinante (reinos deste mundo) do que o próprio Amor Deus por nós.

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