Acervo divino citado pelo humano

5 de julho de 2024

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Além de organizar os textos bíblicos em blocos temáticos, capítulos e versículos, facilitando a localização de perícopes e frases da Bíblia para o uso litúrgico e catequético, a Igreja também desenvolveu ao longo do tempo um sistema de referenciação que permite citar, de maneira universal, passagens e versículos do acervo divino contido na Sagrada Escritura. De forma geral, a citação bíblica apresenta a seguinte estrutura: abreviatura do título do livro, número do capítulo, que se encontra ampliado no início de um bloco textual bíblico, e número(s) do(s) versículo(s), que fica(m) entre as frases que compõem o capítulo.

Embora haja pequenas variações no modo de abreviar os nomes dos livros sagrados, convencionou-se padronizá-los da seguinte forma: Gênesis (Gn), Êxodo (Ex), Levítico (Lv), Números (Nm), Deuteronômio (Dt), Josué (Js), Juízes (Jz), Rute (Rt), Primeiro Livro de Samuel (1Sm), Segundo livro de Samuel (2Sm), Primeiro livro de Reis (1Rs), Segundo livro de Reis (2Rs), Primeiro livro de Crônicas (1Cr), Segundo livro de Crônicas (2Cr), Esdras (Esd), Neemias (Ne), Tobias (Tb), Judite (Jt), Ester (Est), Primeiro livro de Macabeus (1Mc), Segundo livro de Macabeus (2Mc), Jó (Jó), Salmos (Sl), Provérbios (Pr), Eclesiastes (Ecl), Cântico dos cânticos (Ct), Sabedoria (Sb), Eclesiástico (Eclo), Isaías (Is), Jeremias (Jr), Lamentações (Lm), Baruc (Br), Ezequiel (Ez), Daniel (Dn), Oseias (Os), Joel (Jl), Amós (Am), Abdias (Ab), Jonas (Jn), Miqueias (Mq), Naum (Nm), Habacuc (Hab), Sofonias (Sf), Ageu (Ag), Zacarias (Zc), Malaquias (Ml), Evangelho segundo Mateus (Mt), Evangelho segundo Marcos (Mc), Evangelho segundo Lucas (Lc), Evangelho segundo João (Jo), Atos dos Apóstolos (At), Carta aos Romanos (Rm), Primeira carta aos Coríntios (1Cor), Segunda carta aos Coríntios (2Cor), Carta aos Gálatas (Gl), Carta aos Efésios (Ef), Carta aos Filipenses (Fl), Carta aos Colossenses (Cl), Primeira carta aos Tessalonicenses (1Ts), Segunda carta aos Tessalonicenses (2Ts), Primeira carta a Timóteo (1Tm), Segunda carta a Timóteo (2Tm), Carta a Tito (Tt), Carta a Filemon (Fm), Carta aos Hebreus (Hb), Carta de Tiago (Tg), Primeira carta de Pedro (1Pd), Segunda carta de Pedro (2Pd), Primeira carta de João (1Jo), Segunda carta de João (2Jo), Terceira carta de João (3Jo), Carta de Judas (Jd) e Apocalipse (Ap).

Sabendo como são citadas as abreviaturas dos livros, faz-se necessário compreender os significados dos números, dos sinais e das letras que são utilizados no processo de referenciação da Bíblia. O número do capítulo aparece logo em seguida à abreviatura, separando-se do(s) número(s) referente(s) ao(s) versículo(s) por uma vírgula. Tomando como exemplo a perícope de Gn 2,4-25, o número 2 alude ao segundo capítulo do livro de Gênesis, ao passo que os números 4 e 25 determinam o intervalo de versículos a ser lido. A vírgula (,) separa o capítulo dos versículos, ao passo que o hífen (-) orienta o número de versículos a ser lido: deve-se ler, no caso da citação acima, do versículo 4 ao 25. Vale ressaltar que o protestantismo separa o capítulo dos versículos através de dois pontos (por exemplo, Gn 2:4-25), não sendo o modelo oficialmente utilizado pela Igreja católica; isso é relevante porque a forma de citação não se trata somente de uma questão metodológica, mas, sobretudo, de conteúdo: a citação que separa o capítulo dos versículos com dois pontos revela uma tradução protestante da Sagrada Escritura, que, no caso de passagens específicas, causa prejuízo para a compreensão teológico-católica dos textos.

O ponto (.), colocado após a vírgula, entre os números de versículos, indica a omissão de versículos durante a leitura. Por exemplo, em Gn 2,4.18-22, deve-se ler o versículo 4 do capítulo 2 de Gênesis e depois os versículos de 18 a 22 do mesmo capítulo, omitindo-se os versículos de 5 a 17; no caso de Gn 2,4-10.18-22, deve-se ler os versículos de 4 a 10 e, depois, de 18 a 22, omitindo-se os versículos de 11 a 17. Além dos sinais gráficos apresentados até aqui (; – .), algumas letras podem ser utilizadas na referenciação versicular. O “s” colocado após um versículo indica que, além daquele que é explicitamente citado, deve-se ler o próximo: na citação Gn 2,4s, o “s” de “seguinte” pede a leitura dos versículos 4 e 5. Nessa mesma lógica, o uso de “ss” após um versículo determina a leitura de mais de um versículo após aquele que está apresentado na citação: na citação Gn 2,4ss, o “ss” de “seguintes” pede a leitura dos versículos 4 em diante (nesse caso, deve-se ler os versículos que completam a ideia daquele que é claramente citado). Já as letras “a”, “b”, “c” e “d”, colocadas após o número de um versículo, indicam que o versículo é longo e formado por frases com sentido completo; nesse caso, as letras correspondem à divisão frasal de um versículo e evidenciam-se no texto pelo uso de sinais gráficos como vírgula (,), ponto e vírgula (;), dois pontos (:) ou ponto final (.). Por exemplo, em Gn 2,4a, a leitura do versículo deve ser feita até o primeiro ponto e vírgula (“estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados;”); a partir disso, começa o versículo 4b (“no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus,”).

Além de toda essa complexa organização na maneira de citar os versículos, há algumas peculiaridades na forma de citação capitular: o travessão (—), posto entre os números que aparecem após a vírgula, designa um intervalo de leitura que abarca mais de um capítulo. De acordo com a citação de Gn 1,1—2,4a, a leitura começa no primeiro versículo do capítulo 1 do livro de Gênesis e só termina na primeira frase do versículo 4 do segundo capítulo. De igual maneira, o travessão presente na citação de Gn 1—11 refere-se a um bloco capitular: nesse caso, os onze primeiros capítulos do livro de Gênesis que narram a origem do mundo natural e da humanidade. Já o ponto e vírgula (;) indica uma descontinuidade entre os capítulos ou a separação de blocos capitulares: de acordo com Gn 1,1-3;2,1-4, deve-se ler os versículos de 1 a 3 do primeiro capítulo de Gênesis, e depois pular para os versículos de 1 a 4 do capítulo 2; o mesmo sinal gráfico na citação Gn 1—11;12—50 sinaliza a subdivisão do livro em dois blocos capitulares: as narrativas sobre a origem do mundo natural e da humanidade (do capítulo 1 ao 11), e sobre a origem do povo de Israel (do capítulo 12 ao 50). Dessa forma, a sigla de um livro seguida de um número ou dezena significa capítulo completo: pela citação Gn 1, entende-se o capítulo 1 inteiro.

Há que se observar que cinco livros bíblicos (Abdias, Carta a Filemon, 2ª e 3ª Cartas de João e Carta de Judas), dada sua pequena extensão, são formados por um único capítulo, de modo que, ao serem citados, o(s) número(s) depois da abreviatura referem-se ao(s) versículo(s): Fm 6 diz respeito ao versículo sexto da Carta de Filemon. Conhecer e utilizar conscientemente os elementos e a estrutura de citação bíblica apresentados são propósitos importantes para aquele que deseja se familiarizar com a Bíblia, seja com o interesse de estudá-la ou utilizá-la na catequese e na oração. A estruturação normativo-universal de citação dos textos bíblicos, embora seja complexa, colabora para que o acervo divino da Sagrada Escritura seja facilmente referenciado e acessado pelo ser humano.

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