Os monges e a Quaresma

8 de março de 2023

Estamos vivendo na Igreja o tempo da Quaresma. Ao longo de quarenta dias, percorremos um caminho cujo ponto de chegada é a Páscoa do Senhor. Este período é um tempo de preparação para a Páscoa, marcado pela sobriedade e recolhimento interior e exterior. Encontramos na regra de São Bento, no capítulo 49, um pequeno, mas profundo, tratado dedicado à observância da Quaresma, escrito para os seus monges e é útil a todos nós.

A sabedoria dos monges ultrapassa o tempo e se faz para todos um caminho espiritual a ser trilhado em nossos dias. São Bento orienta os seus filhos espirituais a fazerem de sua vida, em todo tempo, uma observância quaresmal. Reconhecendo os limites que cada um carrega em si, ele prossegue aconselhando os monges a guardarem, com toda pureza, a vida nos dias de Quaresma.

Esse convite é atual. É válido para nós. Neste tempo litúrgico, vivamos os quarenta dias com pureza de coração, buscando um crescimento espiritual que nos prepare para bem celebrarmos a Páscoa.

São Bento convida seus monges a apagarem nos dias santos da Quaresma toda a negligência de outros tempos. Negligência significa desleixo, falta de cuidado e zelo, preguiça, desatenção, falta de compromisso ao assumir alguma tarefa. O que temos negligenciado na vida que precisa ser melhorado neste tempo da Quaresma? Olhemos para nossa própria vida e busquemos viver estes quarenta dias atentos ao que em nós precisa ser modificado.

A vivência espiritual proposta por São Bento aconteceria se os monges se preservassem de todos os vícios, entregassem-se à oração com lágrimas, à leitura, à compulsão do coração e a abstinência. Temos aqui um caminho espiritual belíssimo a ser vivenciado nestes dias.

Muitos são os vícios que carregamos em nós. É Importante cada um olhar a sua vida e ser consciente dos seus vícios que precisam ser trabalhados e abandonados. Cada um sabe de si e do que necessita ser mudado na vida e no coração.

O tempo da Quaresma é um convite a intensificação da vida de oração. São Bento orienta seus monges a entregar-se a oração com lágrimas. Orar é entregar-se, abandonar-se nas mãos de Deus. As lágrimas são um símbolo da sensibilidade humana. Elas exprimem nossa emoção e sentimento diante de variadas realidades. Ela representa a capacidade de nos emocionarmos com o que é alegre ou triste. Entregar-se à oração com lágrimas significa mergulharmos com toda a nossa alma na presença do Amado de nossa vida. É nos deixar tocar por Deus e nos emocionarmos com sua presença e suavidade. Na oração, entramos em diálogo com Aquele que é a fonte de nossa existência. Abandonamo-nos nos braços d’Aquele que nos gerou por primeiro em seu Amor.

Os monges são convidados a viverem a Quaresma com compunção do coração. Compunção significa arrependimento, pesar profundo de haver cometido um pecado ou ação má, remorso. Vivamos a Quaresma a partir desta perspectiva beneditina. Arrependamo-nos sinceramente de nossos pecados. Busquemos a reconciliação com Deus confessando nossos pecados a um presbítero. Experimentemos, neste tempo, a alegria de sermos perdoados.

A abstinência também é importante para que os monges vivam a Quaresma a partir de uma perspectiva espiritual profunda. Abstinência significa abster-se, privar-se de algo que se gosta muito. A Igreja nos convida abstinência em dois dias do ano: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira da Paixão. Contudo, muitos estendem a abstinência durante toda a Quaresma, retirando do cardápio algum item de que gostam muito. Além disso, essa prática espiritual pode também ser estendida a outros setores da vida. Cada pessoa pode fazer um propósito pessoal de abster-se de algo, para que, privado do consumo, abra seu espirito a outras realidades e trilhe o caminho da conversão.

A sabedoria dos monges ensina-nos a viver a Quaresma em profundidade espiritual, recolhimento interior e conversão de vida.

 

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