Quinto dia da Assembleia Eclesial aprofunda o tema da sinodalidade

25 de novembro de 2021

Nesta quinta (25), os delegados da Assembleia Eclesial participaram de sessão especial sobre a sinodalidade e hora santa.

 

Saudação de dom Jorge Lozano

O quinto dia da Assembleia Eclesial começou com a oração da manhã e, em seguida, dom Jorge Eduardo Lozano, secretário geral do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) e arcebispo de San Juan de Cuyo (Argentina), saudou os delegados.

Dom Jorge Lozano dá as boas-vindas aos delegados no quinto dia da Assembleia. Foto: Prensa CELAM.

Em sua fala, o arcebispo argentino declarou que “a escuta não tem finalidade de um marketing religioso”, mas “implica entrar com os pés descalços nos corações que se abrem e se expressam”.

Para ele, a Assembleia Eclesial não terminará com a Eucaristia de 28 de novembro, mas será um processo que compreende várias etapas e corresponde ao tempo de recorrer as necessidades de cada dia e continuar realizando o discernimento das opções pastorais para assumir novos desafios ao quais Deus nos impele a responder.

Dom Lozano recordou que, quando aconteceu a publicação do Documento de Aparecida, a prioridade era conseguir que os bispos se apropriassem do seu conteúdo, mas logo a preocupação se dirigiu à apropriação de seu conteúdo para as jurisdições eclesiásticas e o povo de Deus.

Essa mesma preocupação, segundo ele, sente-se na Assembleia Eclesial: como conseguir que os padres se motivem com a Assembleia Eclesial e o caminho sinodal que propõe o papa Francisco. O arcebispo completou dizendo que a resposta disso se encontra em cada um e na sua vontade de aderir à proposta do Senhor, assumindo os desafios da realidade.

Além disso, o arcebispo argentino explicou que o caminho sinodal não se trata de uma contraposição de vocações, mas de somarmos todos, homens e mulheres de fé, que, com diversos carismas, vocações e ministérios, constituem o povo de Deus que foi convidado a caminhar em unidade.

Sobre a Assembleia Eclesial, dom Lozano explicou que ela não trata de uma iniciativa formativa conclusiva, mas é um espaço em que se discute, compartilham-se inquietudes, faz-se o discernimento e se imagina o futuro. Nessa perspectiva, ele recordou as palavras do papa Francisco em sua mensagem: escuta e transborda.

Recordando a mensagem de Francisco, o arcebispo argentino reforçou a importância da escuta.

“A escuta será a base da construção de uma Igreja sinodal. Nesse sentido, é necessário ressaltar que entre a Assembleia Eclesial e o Sínodo dos Bispos não existe justaposição e menos ainda uma oposição. Esses eventos são impulsos do mesmo Espírito Santo no mesmo sujeito eclesial”, disse dom Lozano.

 

Mesa redonda sobre sinodalidade

Após a saudação de dom Jorge Lozano, os delegados participaram de uma conferência compartilhada com quatro palestrantes: os cardeais Marc Ouellet (prefeito da Congregação para os bispos) e Mario Grech (secretário geral do Sínodo dos Bispos); a presidente da Conferência Latino-americana dos Religiosos (CLAR), irmã Liliana Franco, e o leigo coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do CELAM, Mauricio López. Eles falaram sobre o tema “Da Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe rumo o Sínodo da sinodalidade”.

Cardeal Marc Ouellet fala na mesa redonda sobre sinodalidade. Foto: Prensa CELAM.

Cardeal Grech

Em sua fala, o cardeal Grech reconheceu que fala sempre da sinodalidade e que sentia-se honrado de poder se dirigir aos delegados da Assembleia Eclesial, que é uma continuidade de comunhão eclesial que pode ser exemplo para muitas conferências episcopais. Segundo ele, a Assembleia é uma expressão da visão pastoral do papa Francisco e uma ponte entre o Sínodo da Amazônia e o Sínodo sobre a sinodalidade.

Cardeal Grech, no quinto dia da Assembleia Eclesial. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

O cardeal Grech refletiu sobre a estreita relação entre sinodalidade e missão, presente na Evangelii Gaudium, que apresenta a dimensão missionária da Igreja. A partir daí, o secretário geral do Sínodo dos Bispos falou sobre a comunidade sinodal, que tem um desejo inesgotável de oferecer misericórdia, que sabe dar fruto, que sabe celebrar. Para ele, “a Igreja cresce em sinodalidade, assume uma forma cada vez mais sinodal quanto mais vive e pratica um estilo sinodal”. Com isso, ele convidou os delegados a pensarem num cenário da missão de uma Igreja não sinodal.

O cardeal secretário aprofundou que um projeto missionário só pode surgir do processo sinodal de escuta-discernimento, que é, além disso, um exercício de discipulado. Assim, ele recordou o conceito de “sinodalidade missionária”, que aparece no Documento Final do Sínodo da Amazônia. Com isso, ele lançou um desafio aos delegados: “o aprofundamento do vínculo entre essas dimensões da Igreja pode ser uma das contribuições mais significativas da Assembleia Eclesial e do caminho sinodal das Igrejas da América Latina e do Caribe”, dando continuidade a um caminhar juntos histórico na Igreja do continente.

Por fim, o cardeal Grech destacou que espera uma contribuição da Igreja latino-americana e caribenha que abra perspectivas sobre o modo de ativação das instâncias intermediárias da sinodalidade. Para isso, segundo ele, é necessário entender a Igreja como Povo de Deus, o que demanda uma conversão sinodal e superação das divisões na Igreja, por grupos cristãos que promovem uma compreensão individualista e intimista da fé. Diante disso, a melhor resposta, segundo ele, é “a comunhão em uma Igreja, na qual e Tradição não é um canto uníssono, mas uma sinfonia, na qual cada voz, cada registro, cada timbre vocal enriquece o único Evangelho, cantado em uma infinita possibilidade de variações”.

Leia na íntegra a palestra do cardeal Grech.

Cardeal Marc Ouellet

O cardeal Ouellet, inicialmente, fez algumas provocações: Qual é o sonho de uma Igreja sinodal? Uma nova moda? Uma estratégia de comunicação? Uma ideologia disfarçada de programa pastoral? Um método para a conversão missionária da Igreja?

Cardeal Ouellet, em sua palestra, no dia 25 de novembro. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

O cardeal canadense ressaltou que o tema da Igreja sinodal do papa Francisco provoca reações diferentes. Ele deixou claro que o papa acredita no Espírito Santo e deseja que todos O escutem melhor em todos os níveis da Igreja. Para ele, o papa não deseja um novo modelo de Igreja, mas Francisco está preocupado com a fé dos batizados e daqueles que serão batizados.

Feitas essas considerações, o cardeal prefeito falou sobre a importância da certeza da fé, muito presente na Bíblia. Para ele, uma Igreja sinodal é uma Igreja que caminha na fé, conforme orienta o papa Francisco e se faz presente na história da Igreja latino-americana e caribenha, inclusive com o testemunho e o sangue de tantos mártires.

Além disso, o cardeal Ouellet destacou que uma Igreja sinodal na América Latina e no Caribe precisa ser mariana. Ele relacionou também a Assembleia Eclesial com o Sínodo dos Bispos, ressaltando a importância das dimensões da participação, comunhão e missão. Também agradeceu e parabenizou o CELAM pelo esforço na organização complexa e criativa da Assembleia, mesmo neste tempo da pandemia. Por fim, ele reconheceu que a Assembleia Eclesial irá incentivar o Sínodo dos Bispos e falou sobre as vocações em uma Igreja sinodal.

Leia na íntegra a palestra do cardeal Ouellet.

Irmã Liliana Franco

A presidente da Conferência Latino-americana dos Religiosos (CLAR), irmã Liliana Franco, ODN, falou em nome da vida religiosa do continente. Inicialmente, afirmou que estamos diante de um processo, um caminho de encontro e conversão, no qual é necessário nos situarmos na humildade, reconhecer nosso pecado e mudar os modos de relação.

Irmã Liliana Franco, ODN, em sua palestra no quinto dia da Assembleia Eclesial. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

Para ela, estamos diante de uma nova perspectiva contemplativa, mais teologal e encarnada, que deve nos levar a afinar a visão para contemplar a realidade e aguçar o ouvido para escutar o Espírito que não cessa de clamar.

Com isso, constrói-se a comunhão, a partir do claro-escuro do ser humano, entre a fragilidade e a graça, segundo a irmã presidente, que ressaltou a importância das testemunhas que tornam as narrativas credíveis. Para ela, isso se dá com discernimento, atenção à realidade e a capacidade de escutar o clamor de Deus.

“Quem nos anima a construir no cotidiano o vínculo, a relação, a amizade, o afeto e nos impulsiona a nos querer, crer e cuidar, a nos dar um lugar, a não nos excluir é o Espírito”, explicou a irmã Liliana.

Para ela, isso acontece numa dinâmica eclesial, de continuidade e avanço, concretizada na diversidade dos dons, carismas e estilos, reconhecendo que no encontro autêntico não se eliminam as identidades pessoais.

A vida religiosa no continente está convencida da necessidade de reforma que acontecerá em um laboratório de encontro, um novo modo relacional mais contextualizado, encarnado na realidade, capaz de escutar e fazer ressonância, expressou a irmã Liliana.

Isso se dará colocando-se em movimento, tendo a certeza de que, como Povo de Deus, estamos chamados a trilhar novos caminhos com referência em Jesus Cristo e convencimento de que é hora de escuta e discernimento.

“Como mulher, de fé e consagrada, lhes proponho que optemos de novo pelo Caminho para sair de todas as nossas paralisias, que o percorramos juntas, juntos, que façamos redes novas, que não nos despertemos medo e não tenhamos medo do Caminho nas sombras desta história (…) Nos chama, nos convoca, nos mobiliza a Páscoa”, finalizou a irmã.

Leia na íntegra a palestra da irmã Liliana Franco.

Mauricio López

A partir das intervenções anteriores e do processo da Assembleia Eclesial nos últimos meses, Mauricio López, leigo mexicano e coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do CELAM, disse que a sinodalidade é inerente ao ser da Igreja, citando a Episcopalis Communio que insiste em escutar a Deus para escutar o povo e escutar o Povo para entender aquilo a que Deus nos chama.

Mauricio López, em sua palestra, no dia 25 de novembro. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

Para o mexicano, a sinodalidade não depende de nós, mas é uma experiência de graça, que tem como base a escuta. Escutar a Deus que necessita da colaboração humana para que possamos abraçar o clamor do povo e escutar ao povo para poder entender a vontade de Deus.

O leigo coordenador falou também que o povo revela no sensus fidei o pensar de Deus, citando a Carta de São Paulo aos Filipenses, na qual o Apóstolo entende sua vida a partir de Cristo, que gera comunhão de sentimentos e um mesmo amor ao Senhor.

Além disso, ele se recordou da celebração feita pelo papa Francisco em 27 de março de 2020 na Praça de São Pedro (Statio Orbis), no início da pandemia, que nos fez ver que estamos na mesma barca e somos desafiados a remar juntos, não só para nos salvar, mas para eleger o que realmente é importante. Com isso, ele destacou que há enfermidades que dificultam a sinodalidade, como uma esclerose farisaica, que nos endurece, e a misofobia sinodal, o medo de contaminação, próprio dos essênios, que depreciavam quem não era do seu grupo, com uma tentação de imposição ideológica.

O leigo mexicano também refletiu sobre a bidimensionalidade baseada na universalidade e particularidade do próximo Sínodo dos Bispos. Falou sobre temporalidade, referindo-se à tensão entre kairós e cronos e uma terceira dimensão que tem em curso uma reforma, que é a tensão entre o diálogo da fé e o sensus fidei. Por fim, refletiu sobre as chaves sinodais: a periferia é o centro, não perder o foco e a perspectiva do transbordar, como elementos que não podem ser deixados de lado.

Jovens animaram a hora santa no encerramento do quinto dia da Assembleia Eclesial. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

Após a mesa redonda, aconteceram sistematizações dos trabalhos em grupo, sala de imprensa, reflexão e testemunhos dos delegados. Para o encerramento do dia de trabalhos, os participantes realizaram hora santa, adorando o Santíssimo Sacramento.

O Santíssimo Sacramento é adorado por delegados da Assembleia Eclesial, nesta quinta (25), dia dedicado à Eucaristia, conforme costume da Igreja. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

A última atividade do dia dos delegados foi a participação na missa, presidida pelo cardeal Álvaro Leonel Ramazzini Imeri, bispo da diocese de Huehuetenango (Guatemala). Em sua homilia, o cardeal guatemalteco refletiu sobre o Deus vivo que permanece para sempre, cujo Reino não será destruído. Nos dias em que a linguagem apocalíptica está presente na liturgia, o bispo de Huehuetenango falou sobre as realidades desconhecidas, como a pandemia. Ele se questionou sobre o sentido verdadeiro da História em relação com os demais acontecimentos, apresentando o discernimento espiritual, colocado pelo Documento de Aparecida, por meio do qual somos chamados a distinguir os sinais dos tempos, algo presente na Assembleia, ou seja, descobrir o que Deus nos pede em cada uma das realidades que cada pessoa vive.

Cardeal Álvaro Leonel Ramazzini, na missa do dia 25 de novembro. Foto: YouTube Asamblea Eclesial.

Ao final da missa, o cardeal Álvaro convidou todas as mulheres presentes na missa a estarem diante do altar e pediu que elas fizessem uma oração e abençoassem todos os presentes, pedindo a bênção de Deus e a misericórdia para os pastores da América Latina, um gesto que expressou a sinodalidade.

Mulheres rezam pelos cardeais, bispos, padres, religiosos e leigos presentes na missa do quinto dia da Assembleia. Foto: Asamblea Eclesial.

Com informações e imagens de Prensa CELAM. A Imagem destacada da notícia é da Sala de Imprensa do dia 25 de novembro, que trouxe a participação do cardeal Mario Grech, Emilce Cuda, da irmã Birgit Weiler (teóloga alemã) e do padre Juan Luis Negrón.