#Reflexão: 10º Domingo do Tempo Comum (09 de junho)
A Igreja celebra o 10º domingo do Tempo comum, neste domingo (09). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Gn 3,9-15
Salmo: 129(130),1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 7)
2ª Leitura: 2Cor 4,13-18.5,1
Evangelho: Mc 3,20-35
ESCUTAR A PALAVRA DE DEUS PARA SE TORNAR DISCÍPULO
O Evangelho deste domingo retrata ainda o início da vida pública de Jesus e tudo até então estava incerto entre Jesus, seus discípulos, parentes e o povo. Mas, algumas coisas já começavam a se revelar e, depois, se tornarão constantes ao logo do Evangelho: a rivalidade entre os responsáveis pela religião judaica (fariseus, doutores da lei) e Jesus. O final do Evangelho de domingo passado, ouvimos Marcos nos informar que os fariseus e os herodianos tramavam um modo de destruir Jesus. Eles logo perceberam que, através de debates, eles não conseguiriam nada, assim, passaram a usar outra estratégia: a mentira, e com ela, a fofoca.
A primeira leitura também retrata outro início, mas neste caso, do pecado presente no mundo. Os primeiros versículos da Bíblia nos mostram a forma carinhosa com que Deus criou o mundo colocando o homem e a mulher como parceiros e cooperadores. Com nenhuma outra criatura, Deus se relacionava como o fazia com o primeiro casal, pois estes eram a imagem e semelhança do próprio Criador. Mas, a serpente (que representa todas as tentações mundanas) semeou o desejo de serem iguais a Deus. A consequência é que perderam tudo e se viram sem nada. A mentira foi o meio usado para a queda de Adão e Eva. A serpente disse que seriam iguais a Deus, mas o resultado foi o exato oposto: viram se contra Deus e sem nada.
A primeira consequência após pecarem foi perceber que os dois estavam nus, isto é, que não tinham nada (queriam tudo, não ganharam nada e perderam o que já possuíam). Ao ouvir Deus que se aproximava como sempre fazia, eles se esconderam. Os passos de Deus se tornaram “barulhos” e a sua presença despertava “medo”. A segunda consequência do pecado foi o abismo que se criou entre Deus Pai Criador e o pecador. Deus se tornara um juiz para eles, um patrão que pune, alguém que castiga, um árbitro que é severo no julgamento. Na realidade, foram os dois que mudaram em relação a Deus e não o contrário. O Criador se aproximou de Adão como sempre fazia e diante da estranha reação, fez o que era seu costume: estabeleceu diálogo com Adão. Dessa forma, Deus deu chance do homem se explicar e pedir perdão. Mas, Adão preferiu jogar a culpa em Eva. O pecador não arrependido sempre procura alguém para culpar. Adão ao afirmar que foi “a mulher que pusestes ao meu lado” não somente põe a culpa em Eva como também afirma que Deus errou ao dar uma companheira para ele. No fundo, Adão afirma que o erro está em Deus por ter dado a mulher e essa o teria levado a pecar.
O espaço para o diálogo e a reconciliação são oferecidos também a Eva que segue o exemplo do marido: joga a culpa na serpente. Ela afirma que foi “enganada” pela serpente. A mentira sempre foi instrumento do mal, nunca do bem. O mal em nossa vida sempre age desta forma: oferece algo que não pode dar, tudo com intuito de atrair as pessoas ao pecado e assim, romper a comunhão com Deus. A possibilidade de pecar é algo presente na realidade humana, por isso, o arrependimento é o caminho para reatar a comunhão com Deus com um pedido de perdão, algo que Adão e Eva não fizeram.
O castigo no relato de Adão e Eva acontece depois que Deus ofereceu condições para que eles refizessem e recomeçassem tudo, mas os dois demonstraram que não queriam reconhecer o erro e procuraram justificativas para aquilo que tinham feito. Sem arrependimento e reconciliação não é possível existir a comunhão.
Mas, o relato termina com uma promessa sobre “a mulher” e sua descendência que conseguirá reverter esta história, eles não se deixarão seduzir pela serpente e a sua descendência e, assim, se iniciará uma nova geração de vencedores: a serpente e seus descendentes continuarão a importunar (mordendo o calcanhar), mas a mulher e seus descendentes esmagarão a cabeça de todos.
O Evangelho de Marcos nos apresenta a continuação dos milagres que Jesus tinha realizado, bem como curava em dia de sábado, inclusive na sinagoga. Jesus se mostrou alguém perigoso para os judeus, pois curava em dia proibido (sábado), não respeitava as normas e leis sobre a pureza (toca um doente considerado impuro) e se colocava como Senhor do sábado.
A fama de Jesus se espalhou e Ele e seus discípulos não tinham nem tempo para comer. A notícia sobre o confronto com os fariseus, as curas que Jesus estava operando e as multidões que corriam até Ele, tudo isto chegou até seus familiares que estavam em Nazaré. Seus familiares ficaram preocupados, inclusive em relação ao confronte com os doutores da Lei. Esses tinham espalhado uma falsa notícia que Jesus realizava tudo sendo usado pelo mal. E para evitar que Jesus fosse morto por seus opositores, eles decidiram levá-lo para longe de Cafarnaum alegando que estava fora de si: um louco.
Até os dias atuais, ainda muitos querem “enquadrar” Jesus em esquemas úteis segundo interessem pessoais. Preferem certas frases, ideias e atitudes que “batem” com seus princípios e visões pessoais, mas consideram “uma loucura” certas afirmações e ensinamentos.
Já as autoridades religiosas (escribas), não conseguindo dar uma resposta diante de tanta sabedoria e tantos sinais de Deus como curas, milagres e exorcismos, apelam para o extremo da rejeição: “Ele está possuído por Belzebu (príncipe dos demônios)”. Foi uma atitude desesperada para tentar distanciar o povo que cada vez mais buscava a Jesus e se distanciava da religião oficial da época.
Jesus demonstrou que não tinha lógica o que eles afirmavam. O mal tem sempre o objetivo de distanciar as pessoas do bem e de Deus. Cristo estava exatamente fazendo o contrário: semeando o bem no meio do povo com palavras e ações. No pecado de Adão e Eva, o casal após o pecado se sentia longe de Deus; Jesus sempre procurou aproximar o povo de Deus. Ademais – como afirma Jesus – o mal é mestre para semear a divisão, mas eles (os demônios) estão muito bem unidos para separar e distanciar as pessoas de Deus.
O pecado de Adão e Eva foi de querer se colocar no lugar de Deus. Os escribas queriam fazer a mesma coisa ao se sentirem no direito de afirmar que Jesus agia em nome do Mal e não de Deus. Eles estavam fechados em seus esquemas religiosos e cegos em relação ao modo de interpretar a ação de Deus. Para eles: Aqueles que não se “enquadravam” nos seus esquemas, eram julgados como endemoniados.
O erro dos mestres da lei foi de atribuir uma ação de Deus a Satanás (Belzebú), se fechando, assim, completamente a graça de Deus. Este é um pecado (como diz Jesus) que não tem perdão, pois é uma radical renúncia da comunhão com Deus.
Marcos retoma a informação dos parentes de Jesus, colocando que também a “mãe de Jesus” estava entre eles. O detalhe quando chegam onde Jesus estava é significativo: eles ficam fora e mandam chamar Jesus. Ao redor de Jesus estava a multidão, Ele ensinava a todos e esses escutavam seus ensinamentos. Jesus cumpria sua principal missão que era formar discípulos (não tanto curar). Seus parentes queriam que Ele abandonasse tudo e “saísse” para ir ao encontro deles. Mas, Jesus convida a fazerem o contrário: eles é que deveriam entrar na casa e fazer parte da assembleia que estava sendo instruída por Jesus. A “casa” (comunidade) é o lugar onde se formam os discípulos, aos pés do Mestre Jesus. O Evangelho termina sem nos dizer quem aderiu ao convite de Jesus e se tornou “verdadeiramente” parente de Jesus: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Podemos supor que, pelo menos, a sua mãe aderiu ao convite e deixou também Nazaré para ficar ao lado e acompanhar seu filho Jesus, completando a sua missão, não mais somente de mãe, mas também de discípula.