#Reflexão: 10º domingo do Tempo Comum (11 de junho)
A Igreja celebra o 10º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (11). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Os 6,3-6
Salmo: 49(50),1.8.12-13.14-15 (R. 23b)
2ª Leitura: Rm 4,18-25
Evangelho: Mt 9,9-13
VEM E SEGUE-ME
Estimados amigos e amigas, após termos celebrado os grandes mistérios da nossa fé, Paixão, Morte e Ressurreição até a solenidade da Santíssima Trindade e a celebração Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, retomamos nossa caminhada cotidiana dominical, este ano, rezando e refletido São Mateus. Os momentos marcantes de nossa história (os bons e os ruins) revelam sempre algo que define a nossa caminhada. Mas, também no dia a dia de nossa existência, somos chamados a experimentar a presença de Deus como vemos no exemplo do evangelista Mateus.
No Evangelho deste domingo, temos o momento decisivo que Mateus experimentou algo que definiu sua vida. Não foi a partir de um milagre ou um grande prodígio, mas a partir de um olhar e de algumas palavras. O evangelista possuía uma profissão que de um lado lhe dava uma posição social ótima, possuía um bom salário; por outro lado, por cobrar impostos, ele era considerado ser um traidor, pois trabalhava para os romanos opressores, tocava na moeda que tinha a imagem do imperador e muitos deles se enriqueciam de forma ilícita ao cobrar as taxas exigidas pelo império, assim, os publicanos (cobradores de impostos) eram considerados também ladrões (veja o caso de Zaqueu). Mateus tinha sua vida social definida, mas lhe faltava um sentido profundo dentro de si. Um vazio que precisava ser preenchido.
Mateus era um homem sozinho, estava sentado no balcão de impostos. Alguém lhe notou, não com desprezo, como um traidor ou um ladrão, mas com um olhar acolhedor que cruzou o seu olhar. Bastou uma palavra: “Segue-me”. E Mateus descobriu algo que nunca tinha experimentado; o cobrador de impostos abandonou, por um olhar e por uma palavra, a lógica tranquilizadora do dar e do ter, deixou tudo e foi atrás de Jesus, sem calcular mais nada, sem sequer se perguntar para onde ia.
O centro da cena é todo de Cristo. Não foi a palavra “segue-me” a razão de deixar tudo, mas sim, a pessoa de Cristo que é a causa, o sentido, o último horizonte. Mateus foi “convertido” a Jesus, porque Cristo volveu a ele o seu olhar e não tinha raiva, ódio ou preconceito. No olhar de Cristo, Mateus descobriu alguém capaz de lhe dar um sentido profundo e único em sua vida.
A vocação não começa com sacrifícios ou renúncias, traz sobretudo um crescimento de seres humanos. De fato, na casa de Mateus, antes era uma vida solitária, veste-se de festa, está cheia de rostos, de amigos. São acolhidos como pessoas necessitadas, são recebidos como são, ainda marcados com feridas sociais e religiosas (publicanos e pecadores), mas Jesus os trata como pessoas. Certamente, na convivência, no acolhimento e ao redor de um prato de comida, experimentam um sentido e uma motivação para mudarem de vida. É o amor que nos converte, pois foi o amor que nos salvou na Cruz.
Jesus se espanta com o apego das pessoas que insistem em machucar quem já está doente; em oprimir quem já vive na opressão dos preconceitos e do abandono. É uma visão manchada por leis que não promovem vida, mas que se afundam ainda mais na miséria humana.
“Não quero sacrifícios!”, disse Jesus tentando tirar seus acusadores de uma doença tão maléfica quanto aos pecados: o preconceito. Esse determina que a pessoa não existe mais, mas somente seus erros e pecados; olham para as leis e não conseguem enxergar pessoas machucadas e feridas. Jesus alerta que a religião não deve ser um simples sacrifício ou uma mortificação. O louvor mais profundo a Deus deve ser a vida plena.
Jesus se põe a mesa com Mateus, o Mestre se aproximou daquele que era o último para transformá-lo em amigo e discípulo. Mateus experimentou que o princípio da salvação não está em um simples jejum por Ele, mas em Jesus e comer com ele. Cristo nos cura estando conosco: sua proximidade é um remédio, um fluxo de vida que Ele nos entrega junto com novos caminhos, festas, sonhos e comunhão.
“Eu não vim chamar os justos, mas pecadores”. Qual é o mérito dos pecadores? Nenhum. São aqueles que não conseguem, que não estão à altura, mas descobrem um Deus que parou para olhar para eles. Deus não se merece após sacrifícios, mas simplesmente deve ser acolhido.
Jesus sempre encontrou dificuldades muito mais entre os religiosos da época do que nas pessoas simples e entre os pecadores. Ele era livre e sem preconceitos, pois colocava a pessoa e os seus sofrimentos no centro de tudo. Sua palavra era sempre de apoio, de reerguimento e de alento. As dores e os sofrimentos das doenças e dos pecados já eram grandes para aquela gente que não podia contar com mais nada até mesmo esperar algo da religião e dos seus guias.
As palavras daquelas pessoas confirmavam o abandono de todos e afirmavam ainda que até Deus os tinha abandonado. Mas, não o Deus que Jesus veio anunciar e revelar. Excluído por todos, Jesus procurou mostrar que Deus não concordava com aquelas ideias. Que Deus é sempre bom e pronto a perdoar e a curar. E Jesus mostra que sua bondade possui uma grande esperança em cada pessoa: ninguém é último, ninguém está perdido, todos têm um futuro e não um passado que aprisiona e sufoca o presente. Nosso Deus tem um olhar para o futuro e não é apegado ao passado.
O profeta Oseias procura lembrar seu povo da grandeza de Deus que mesmo diante de nossas fraquezas e inconstâncias, Ele é sempre fiel a nós. Deus espera do seu povo, gestos profundos de amor e misericórdia e não de condenação.
Paulo nos lembra da fé e da esperança de Abraão, que mesmo diante de desafios imensos, colocou toda sua confiança em Deus. Ele acredita em Deus sem ter o exemplo de ninguém. É desafiado em suas escolhas, tendo somente uma promessa. Acredita sem pedir provas, mesmo quando tudo se mostra incompreensível e a sua razão não consegue entender, Abraão prefere ficar com a promessa de Deus.
Somos o povo difícil que não age como Deus age, mas insistimos em trilhar caminhos que aprofundam nossas dores e sofrimentos; pessoas são abandonadas e em muitos casos usando o nome de Deus. Misericórdia é olhar o rosto de cada pessoa, não seus pecados; e pegar nas mãos dos fracos e enfraquecidos pelos pecados e não em pedras para machucar ainda mais quem já está tão ferido. É seguir Jesus que também nos convida a fazer o que Ele fez; viver como Ele viveu e amar com Ele nos amou.