#Reflexão: 11º Domingo do Tempo Comum (16 de junho)
Leituras:
1ª Leitura: Ez 17,22-24
Salmo: 91(92),2-3.13-14.15-16 (R. cf. 2a)
2ª Leitura: 2Cor 5,6-10
Evangelho: Mc 4,26-34
REINO DE DEUS A PARTIR DAS COISAS PEQUENAS E SIMPLES
Neste domingo, Jesus nos explica a grandeza do Reino de Deus que acontece a partir de coisas simples. Marcos, depois de contar a parábola do semeador, Jesus continua ensinando as multidões apresentando as duas primeiras parábolas do Reino de Deus. Duas histórias da terra que Jesus transforma em histórias de Deus.
Na primeira leitura, temos uma profecia que apresenta a vocação universal do povo de Deus. O profeta Ezequiel foi chamado para semear a esperança de Deus em um tempo muito difícil para povo. O país tinha sido destruído pelo babilônicos, muitos tinham morrido; a classe mais instruída – como os nobres – tinha sido conduzida para terras estrangeiras como escravos. Deus, no entanto, procurou falar através do profeta deixando uma promessa ao seu povo: de transformar sua gente em um cedro grandioso. Israel, um pequeno galho que se transformará em um arvoredo no alto da montanha, assim Deus promete transformar aquela porção de gente em uma grande nação. Sabemos que é Deus quem conduz a história, mesmo quando os homens e as mulheres atrapalham seu projeto, Ele sabe reconstruir tudo até das cinzas.
No exílio, o povo de Deus sabia que estava pagando as consequências de tantos pecados. Todos sabiam que a causa de tanto sofrimento foi porque todos tinham se esquecido da aliança com Deus e seus Mandamentos. Mas, Nosso Deus é o guardião do seu povo, mesmo diante de tantos erros e pecados, Ele sempre procura reconstruir sua relação de criador e Pai com sua gente. O povo de Deus será, novamente, uma grande nação!
Jesus no Evangelho anuncia e esclarece com dois exemplos como é o Reino de Deus que Ele veio implantar definitivamente neste mundo. Nosso Senhor fala do Reino partindo das coisas do cotidiano. Fascinante ver o mundo com o olhar de Jesus que apresenta tudo como foi sua vida: pura simplicidade, não como um cedro imponente e gigante (1ª leitura), mas como o olhar de uma criança ou de um camponês que se alegre e se enche de esperança com uma plantação pronta para a colheita. Bonito ver o mundo de baixo, dos simples e pequenos que nasce e desponta para a vida sem ser notado e visto. As coisas mais importantes não devem ser procuradas, mas esperadas, não dependem de nós e nem das nossas forças (Ermes Ronchi).
Os exemplos citados por Jesus nos dão a ideia da simplicidade e da pequenez das coisas e ao mesmo tempo da força grandiosa que elas escondem e do maravilhoso efeito que produzem. O Reino de Deus acontece a partir das coisas simples e do nosso dia a dia, dentro de nossas casas, no nosso campo e em nossas famílias.
Na primeira parábola, Jesus afirma que “um homem” do campo se põe a semear. Ele sabe bem o que toca a ele fazer e procura fazer da melhor forma possível, mas também tem consciência que certas coisas ele não possui nenhum poder e nem sabe explicar como acontecem. Ação conjunta e harmoniosa onde o semeador inicia e termina o processo, mas toda parte principal, ele não possui nenhuma influência.
O Reino de Deus, assim, é algo que se constrói no cotidiano da vida das pessoas, em uma ação feita consciente e responsável. Se o semeador não semeia, nada acontece; se tudo está pronto, mas ele não recolhe, tudo está comprometido. Jesus chama atenção daquilo que o agricultor não tem poder, aquilo que ele não pode influenciar de nenhum modo: todo o processo logo depois do plantio até o grão das espigas. A ação de Deus de implantar seu Reino neste mundo necessita de “agricultores” de sua palavra, que semeiem e saibam esperar; que façam sua parte, mas deem espaço para ação de Deus; que sejam aliados e companheiros, e não opositores e destruidores da Palavra.
Chama-nos atenção nas palavras de Jesus, os detalhes sobre o processo da produção da espiga. Tudo tem o seu tempo e o seu ritmo para acontecer. Se o semeador não confiar e se também não tiver paciência tudo pode se comprometer. A natureza nos ensina isto: tudo tem o seu momento justo para acontecer!
Vivemos em tempo da agitação, dos grandes acontecimentos, do tempo “sem tempo” pra nada. As pessoas estão cada vez mais iludidas que o bom é aquilo que ainda não se tem: o celular novo, carro novo, a roupa nova… Não se tem paciência mais para ninguém (família, amigos, idosos, parentes…), nem para as coisas do dia a dia (trânsito, TV, internet….) e nem pra Deus. Hoje em dia, tudo tem seu tempo e espaço, menos tempo pra Deus. Uma das grandes ilusões de nosso tempo é que as pessoas estão no controle de tudo e que podem comandar tudo. Grande ilusão! O verdadeiro sentido da vida está nas pessoas preciosas que temos ao nosso lado, nas coisas simples do nosso dia a dia, nas coisas gostosas do nosso cotidiano: amizade, conversa despreocupada, do abraço amigo, do sorrido das pessoas. Não se tem mais tempo para o maior e o melhor amigo que temos: nosso Deus.
O homem que trabalha a terra, respeita a natureza; ela não é inimiga, mas uma grande aliada para nossa sobrevivência, desde que saibamos respeitá-la e trabalhar juntos. A vida é feita de parcerias e de relações onde cada um tem sua missão. O Reino de Jesus caminha da mesma forma. Deus precisa de nós como semeadores, a semente é a sua palavra, o terreno é o mundo e as pessoas. Tudo é chamado a acontecer no cotidiano das nossas relações, onde cada um é chamado a traduzir as coisas boas de Deus em gestos e palavras que são as sementes da vida de Deus em nossas vidas.
A segunda parábola completa a anterior. O Reino de Deus, em confronto a muitas coisas neste mundo, é comparado a um grão de mostarda: minúsculo e quase imperceptível, mas quando é semeado e tem oportunidade de crescer, se transforma em uma árvore que acolhe a todos. A força não está na aparência e nem no tamanho, mas na generosidade daquele que se imola como semente e se transforma. A semente de mostarda como de qualquer outra semente, enquanto permanece um grão jamais se transformará em árvore. O grão de mostarda possui uma imensa força e futuro que vai além da aparência e do seu tamanho.
Como na primeira parábola, a semente de mostarda precisa ser semeada com zelo e atenção por parte do semeador e tudo o mais acontecerá. Não existe semente pequena ou grande, não existem gestos e palavras de Deus considerados insignificantes. Somos chamados a ser semeadores do grão de mostarda e acreditar que a força e a grandeza, tudo está com Deus que fará tudo que não conseguimos fazer com as nossas mãos.
Nos tempos atuais é crescente a ideia do Deus que tem que fazer tudo: Deus dos grandes prodígios e milagres. Jesus nos convida a sermos parceiros neste seu Reino, pois a força e a grandeza da semente (Palavra de Deus) Ele mesmo nos fornece para transformar este mundo em uma grande plantação de Deus onde todos se transformem em espigas cheias de vida. Mas, poucos querem ser semeadores da Palavra. O mundo precisa ser transformado dentro de nós e através de nós como o agricultor da parábola que semeia, mas sabe que a maior parte do processo é necessário ter paciência e confiança, pois Deus precisa transformar tudo de dentro pra fora, como a semente que se transforma em um broto, depois espiga e por fim, os frutos. Tudo começa no grão colocado na terra e termina nos grãos abundantes na espiga. Cada um precisa receber, primeiro a semente no coração como a terra recebe o grão, depois deixar se transformar de dentro pra fora até dar frutos de amor para o mundo.
Esplêndida visão de Jesus sobre o mundo, sobre as pessoas e sobre a terra: o mundo é um imenso parto, onde tudo caminha com o seu ritmo misterioso, rumo à plenitude do Reino. Rumo ao florescimento da vida, O Reino apresenta-se como um contraste, não um choque, mas um contraste de crescimento, de vida. O Evangelho sonha com colheitas seguras, frutos prontos e pão na mesa. Pura e simples positividade e alegria da colheita (Ermes Ronchi).
Tudo pode acontecer se soubermos realizar tudo em parceria com Deus, enquanto caminhamos neste mundo procurando fazer o melhor possível, pois um dia, nós estaremos diante Dele para compartilhar aquilo que construímos de bom no Reino de Jesus (2ª leitura). Para muitos, esse dia será de alegria em descobrir que foi um bom semeador; para outros, será de tristeza em descobrir que foram somente obstáculo no Reino de Deus.