#Reflexão: 12º Domingo do Tempo Comum (23 de junho)
Leituras:
1ª Leitura: Jó 38,1.8-11
Salmo: 106(107),23-24.25-26.28-29.30-31 (R. 1b)
2ª Leitura: 2Cor 5,14-17
Evangelho: Mc 4,35-41
A FÉ EM JESUS QUE ACALMA O MAR
As leituras deste 12º domingo nos colocam em meio à tempestade e ao medo. Como Jó e os discípulos de Jesus, também nós nos vemos atingidos por males que desafiam a nossa confiança e a nossa fé.
Jó encontra-se no meio de uma tempestade que representa seus problemas e angústias diante de Deus. Não obstante sua fé e sua confiança, ele se encontrava miserável (havia perdido tudo) e estava com uma doença que matava aos poucos (a lepra). Ele não conseguia entender o porquê de tudo aquilo que estava passando, pois ele sempre foi fiel a Deus. Jó não se revolta, mas pergunta qual o sentido para tantos sofrimentos uma vez que ele foi fiel a tudo que lhe foi pedido para realizar em sua religião.
Deus pede a Jó que tivesse confiança e fé, pois somente Ele tem poder sobre todas as coisas do mundo e sobre cada pessoa, seja quando está bem ou quanto está com problemas.
Assim, Jó escolhe confiar nos desígnios de Deus, mesmo sem compreender tudo que estava acontecendo. No final da história do livro de Jó, ele foi recompensado por Deus.
No Evangelho, tudo também acontece em meio a uma tempestade. Jesus tinha escolhido seus discípulos, já havia realizado alguns milagres, curas, exorcismos e tinha passado um dia ensinando sobre uma barca (Mc 4,1). No início da noite, Jesus decide ir com os apóstolos para o outro lado do lago, lá ficava a terra dos pagãos. Ele é que toma a iniciativa. O evangelista diz que, em seguida, os discípulos fazem duas coisas: despedem a multidão e “levam Jesus consigo” é a única vez em que eles é que levam Jesus, em outras passagens eles é que são levados pelo Mestre Jesus. Completa São Marcos dizendo que havia outras barcas. Nos Evangelhos, a imagem da barca que navega sobre as águas, representa a Igreja ou as comunidades cristãs que navegam na missão de levar a boa nova de Jesus. Mas, tudo tem um seguimento não esperados por todos. Na noite, os medos aparecem e na tempestade eles se sobressaem.
Aqueles homens eram pescadores acostumados com barcos e tempestades, mas aquele fim de tarde, tudo foi diferente. Marcos nos conta com detalhes que “eles tinham levado Jesus” e Ele se acomodou “na popa do barco e dormia sobre uma almofada”. Era onde ficava o leme que guiava o barco. Jesus dormia tranquilamente, mas ao seu lado tudo estava agitado por uma tempestade. Os barcos estão seguros somente quando encontram-se ancorados em terra firma, mas eles não foram feito pra isso. Jesus queria os seus discípulos enfrentando os desafios da missão, das viagens e peregrinações para levar a Boa Nova; eles são enviados, mas não vão sozinhos. Durante as “noites com tempestades” é que nascem os maiores medos e as perguntas mais difíceis sobre a presença de Deus. Jesus confiava na capacidade daqueles pescadores de conduzir o barco, mas eles não expressavam a mesma confiança naquele que estava dentro da embarcação.
Jesus nos lembra Jonas que dormia tranquilo no ventre do barco enquanto o mar estava em meio a uma terrível tempestade. O profeta também confiava em Deus que, depois, acalma o mar; agora é o próprio Jesus quem irá tranquilizar a todos.
Não sabemos porque temos que enfrentar certas tempestades na vida, na família, na comunidade e na Igreja. Mas, sabemos que Jesus está conosco. Ele dorme porque nada pode abalar sua tranquilidade. Ele confia em nós e se confiarmos Nele, nosso barco jamais irá afundar. No fundo é uma troca de confiança que nenhuma tempesta deve abalar. É inevitável que os barcos enfrentem tempestades, mas é impressindível sabermos onde colocamos nossa confiança para conseguir atravessar os temporais de nossa caminhada de fé.
Os apóstolos – é certo – estavam ainda no início do seu apostolado. Acreditavam em Jesus e confiavam Nele mas enquanto tudo estava caminhando bem e sem “tempestades”. Ao iniciarem a viagem onde eles teriam que conduzir a barca para outros lugares e em terras de gente que não tinha a mesma crença que eles, tudo se apresentou desafiante e até desesperador.
Mas, é o mesmo Jesus de sempre que estava com eles. O Mestre precisava prepará- los para o tempo em que teriam que remar movidos pela fé que Ele está sempre presente.
A tranquilidade de Jesus é vista pelos discípulos como um descaso. Nosso Senhor é “acusado” de abandonar os discípulos em meio à tempestade. Mas não é assim! Ele confiava nos apóstolos em guiar o barco que estavam (Jesus dormia tranquilamente); os apóstolos é que tinham se esquecido de que era Jesus. Os discípulos deveriam fixar-se em Jesus: Ele estava ali com eles!
Muitas vezes, nós preferimos olhar as tempestades, nos deixarmos amedrontar pelos ventos fortes, pelo mal que aparenta querer afundar nossa barca, mas não deve ser assim: Jesus está conosco! Ele prometeu permanecer conosco até o final dos tempos e nada pode ser maior que Jesus!
Colocar-se em missão, viver a vontade de Jesus e procurar “transportá-lo” aos outros, as tempestades serão inevitáveis, os desafios imensos, os problemas e perseguições constantes, mas jamais devemos nos esquecer de que Jesus está sempre ao nosso lado. Somos nós que devemos conduzir nosso barco, mas é Jesus quem nos protege e nos guia.
Os apóstolos se deixando abater pela tempestade ao acordarem Jesus, chamam Sua atenção reprovando a sua aparente indiferença. Nosso Senhor, primeiro, acalma o mar e a tempestade com o mesmo gesto e palavras que expulsou demônios e curou as pessoas: Jesus é o mesmo sempre! As palavras duras vão para os males que tentam atacar a barca; para os apóstolos, palavras de questionamento: por que estais com medo? Por que não tendes fé?
Para Jesus, o contrário da fé não é a descrença, mas o medo de que Jesus não é o mesmo de sempre.
Muitos seguem Jesus ancorados em milagres e poderes que Ele possui. É uma fé que Jesus precisa sempre provar seu poder. Mas, Jesus não nos quer como crianças que os pais têm que fazer tudo; pessoas sempre reclamando da ausência. Na primeira dificuldade, no primeiro vento contrário e mais forte, se perdem na relação com o Mestre; Jesus está na barca da nossa vida ao lado do leme que guia o barco. Como na história de Jó, Deus sempre nos lembra que é Ele quem nos guia se confiamos plenamente Nele, pois Nosso Senhor sempre intervém quando precisamos de um auxílio para algo que está além de nossas forças. É a confiança que Paulo (2ª leitura) nos lembra: Ele enfrentou o principal inimigo da humanidade, a morte para que vivamos como pessoas novas e confiantes em Jesus que provou a grandeza de seu amor por nós, amor que nenhuma tempestade pode abalar ou irá nos submergir.
A realidade atual, muitas vezes, nos joga em um mar de inseguranças e medos, mas Jesus está sempre conosco! Está sempre presente, mas do seu modo! Ele não intervém e não fará nada no nosso lugar, mas conosco. Os discípulos esperavam que Ele, novamente, agisse e resolvesse tudo (como depois Ele fez). Eles cobram de Jesus por não agir, demonstrando uma fé muito frágil e fraca: bastou um mar agitado para se esquecerem de quem era o Mestre Jesus. Cristo Deus não nos protege do medo, mas nos protege no medo; Não nos tira dos desafios, mas nos protege nos desafios. O mesmo que Deus Pai fez com Seu Filho: Não o salvou da cruz, mas na cruz (D. Bonhoeffer).
Um grande desafio para os discípulos e para nós é acreditar que Jesus sempre está presente mesmo que não mais se sinta sua presença física. Ele nunca nos abandona, mesmo quando não se veem mais milagres e prodígios.
Eles ainda acreditavam que Jesus, sozinho, teria que resolver tudo como sempre. Jesus sempre pode fazer isto, mas Ele nos dá forças nos braços para enfrentar as ondas; nos fortalece na luta para que o nosso barco não vire; ilumina nossa visão para encontrarmos terra firme. Queremos muitas vezes desistir de lutar, mas Ele será sempre a nossa energia e perseverança. Ele quer agir em nós e sempre conosco!
Senhor Jesus, que nossa fé nos torne pessoas novas e nos fortaleça diante das tempestades e dos desafios. Seja nosso guia em nosso barco e ilumine sempre nossa jornada até a terra firme dos seus braços!