#Reflexão: 16º Domingo do Tempo Comum (21 de julho)
A Igreja celebra o 16º domingo do Tempo comum, neste domingo (21). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Jr 23,1-6
Salmo: 22(23),1-3a.3b-4.5.6 (R. 1.6a)
2ª Leitura: Ef 2,13-18
Evangelho: Mc 6,30-34
ERAM COMO OVELHAS SEM PASTOR
Uma das imagens mais significativas escolhidas por Jesus para se apresentar ao povo é a imagem do pastor. No Evangelho de São João, Jesus se apresenta com o Bom Pastor: Ele dá sua vida pelas ovelhas. No Evangelho de São Marcos, continuamos descobrindo quem é Jesus e qual deve ser a resposta daqueles que se propõem a segui-Lo.
É próprio do pastor, cuidar e zelar pelo seu rebanho, pois dele depende também seu sustento e sua sobrevivência. Jesus nos ensina como aplicar isto em nossa vida, mas conforme o seu exemplo e testemunho.
Jesus depois de passar por algumas decepções (com os seus parentes, por exemplo) resolveu investir mais intensamente naqueles que aceitaram deixar tudo para segui-Lo: seus discípulos. Mas, Nosso Senhor não montou um grupo de pessoas somente para aprender algo novo. Um “ensinamento novo” de Jesus só tem sentido quando a pessoa humana ganha o centro de tudo; quando os sofrimentos e as dores se tornam a preocupação principal daquele que quer ser seguidor de Cristo. As palavras de Jesus são “palavras de vida” porque brotaram de uma prática constante do amor ao próximo.
Os discípulos de Jesus são chamados a fazer o mesmo. Por isso, após um tempo de escuta e aprendizagem, eles foram enviados para colocar em prática tudo que aprenderam com Jesus. Uma peregrinação de Palavras e simplicidade de vida, tendo o necessário consigo de coisas, e plenamente livres de tudo para testemunha a misericórdia de Deus. Desprovido das coisas do mundo, o discípulo pode se aproximar de todos: deste os mais pobres até aqueles que estão cercados de muitas coisas. Além da evangelização, destaca-se nas palavras de Jesus (domingo passado), a preocupação pelas necessidades das pessoas (doentes e endemoniados).
O discípulo enviado deve ter consciência que é instrumento de uma graça que teve operar nele e através dele. No Evangelho deste domingo, Marcos nos relata o momento quando os apóstolos retornam da missão e contam tudo que fizeram. Mesmo cercados de tantos limites e dificuldades, eles conseguiram colocar em prática o que foi pedido por Jesus.
A batalha contra a oposição ao Reino de Deus que Jesus veio inaugurar tem dois instrumentos: o anúncio do ensinamento de Jesus que tem sua força nas próprias palavras, pois desperta uma nova esperança que não se fortalece com os meios que o mundo vivencia (morte, competição, desprezo, injustiças, desigualdades…), mas no amor vivido intensamente com Deus e com o próximo chamado de irmão e irmã. Outro meio fundamental é o testemunho é quando as palavras se tornam visíveis e realmente conquistam as pessoas. Ver a alegria do discípulo na vida que tem somente Jesus como centro de tudo, desperta uma esperança renovada que tudo tem sentido, mesmo tendo quase nada das coisas deste mundo. Doar-se completamente sem querer nada em troca; oferecer o melhor de si simplesmente movido pelo amor de Deus, tudo isso é um forte testemunho contra a ideia que as pessoas valem por aquilo que produzem; para Deus cada um é importante mesmo sem ter nada de material e até de saúde (doentes). Onde Jesus impera com palavras e testemunho, nenhum mal prevalece. Os doentes são ungidos com o óleo santo, expressão da presença e solidariedade da comunidade cristã.
Após contar tudo que fizeram, Jesus nota o cansaço de todos. Cristo, Bom Pastor percebe que precisa cuidar daqueles que foram enviados como pastores no meio do povo. Jesus era capaz de suportar um trabalho intenso, mas não os seus discípulos: estavam cansados. Ele lhes faz um convite de se colocaram à parte, pois não tinham nem tempo de se alimentar. Jesus constantemente enfrentava este dilema de não ter tempo para si, mas somente tempo para as pessoas. O Mestre não está tanto preocupado com os “frutos” da missão (Marcos nada diz sobre o que fizeram), mas com cada missionário, seu bem-estar, por isso, propõe um tempo de repouso.
O convite de Jesus para que todos se retirassem para descansar, também foi um aprendizado para os apóstolos. Era muito importante que eles aprendessem a dosar suas atividades com momentos de descanso. Ninguém deve agir fazendo tudo como se tudo dependesse somente dele; é fundamental equilibrar as atividades para que cada um possa fazer tudo sempre e com boa qualidade. Jesus convida os apóstolos para uma pausa e repouso para que pudessem trabalhar na messe do Senhor sempre e não somente por um tempo. É o perigo do excesso de atividade (ativismo), pois cansados os pastores muitas vezes passam a maltratar o próprio rebanho.
São Marcos relata que todos partiram em uma barca. O pequeno repouso proposto por Jesus foi das atividades e missão, mas não de sua convivência e presença. O melhor meio de se “reabastecer” de novas energias é a convivência à parte, mas com Jesus. Mas, ao chegarem do outro lado do lago, uma multidão vinda de diversos lugares já estava lá esperando a todos. Jesus muda seus planos de estar um pouco à parte com seus apóstolos, mas não pede a eles para abandonar o pequeno repouso. Jesus, Bom Pastor, procura cuidar daqueles que Ele mesmo estava preparando para ocuparem a missão de pastor neste mundo: seus apóstolos. Ele sabia que precisava zelar deles, pois eles deveriam ser instrumento e canal da graça para muitas pessoas.
Jesus nos ensina uma dinâmica importante para continuarmos a ser missionários nos dias de hoje: encontrar-se sempre, na intimidade com Jesus, para continuar encontrando-se com Ele em cada pessoa, a começar pelos mais simples e necessitados. Acolher os doentes e os pobres é ser instrumento para essas pessoas que Deus está com eles. A nossa caridade não é algo nosso, mas deve ser expressão do amor que experimentamos na nossa proximidade e intimidade com Deus. Se alguém se sente muito próximo de Jesus, mas longe das pessoas, não entendeu o grande sentido do amor de Deus.
Ao desembarcarem do outro lado do lado, Jesus novamente se mostra preocupado com aquela multidão que vê como “ovelhas sem pastor”. Jesus não teve “pena” ou “dó” daquelas pessoas, Marcos diz que Ele “teve compaixão”, uma marca fundamental em Cristo. É algo que nasce do mais profundo do Seu interior e O move; é sentir dor com a dor do próximo. Ele se encontrava dividido entre o cansaço dos amigos e a desorientação da multidão e, assim, se põe a ensinar e oferece a todos o que Ele tem de melhor. Seja em relação aos apóstolos como à multidão, o centro de tudo são as pessoas e as suas necessidades. Mas, mais do que coisas materiais e físicas, Jesus lhes oferece o seu ensinamento e a sua presença como Mestre. Talvez muito precisariam de alguma cura, mas certamente, todos precisavam de uma palavra que brotava não da sabedoria deste mundo, mas de um coração cheio de compaixão. Jesus ensina os apóstolos o sentido profundo da “compaixão”: mover-se a partir do amor e oferecer o melhor de si mesmo. Deus nos atende, por que se move por compaixão e não por conta dos nossos méritos, o mesmo devemos fazer com as pessoas que nos cercam.
Na primeira leitura, temos as palavras de Deus através do profeta Jeremias contra os falsos pastores e mestres que estavam mais preocupados em explorar o povo de Deus. São falsos pastores interessados somente em se apropriar e roubar algo do rebanho. Esses falsos líderes não se preocupavam com as ovelhas, mas somente do lucro que poderiam obter do rebanho, por isso, não se importam que os mais simples e os mais humildes se percam e se extraviem. Anunciam prodígios como se tudo dependesse deles e convencem as pessoas a pagarem por aquilo que Deus dá gratuitamente.
O discípulo que Jesus deseja é aquele que se dedica e faz tudo segundo a graça de Deus, pois tudo nos foi dado gratuitamente por parte de Deus que não nos pediu nada em troca. Paulo na 2ª leitura nos lembra a grande missão de Jesus de unir todos até aqueles que estavam divididos na sociedade; de semear a paz a todos, pois sua morte foi para toda a humanidade. Assim, se a missão está pesada e desgastante, se retirar por um tempo para se reabastecer com mais graça de Deus para continuar doando-se sem limites ao serviço do povo de Deus.
Que o Senhor nos ensine o sentido profundo da compaixão e nos coloquemos a serviço daqueles que buscam o próprio Cristo Jesus sendo sempre um canal de ligação através de nosso amor de discípulos.