#Reflexão: 16º domingo do Tempo Comum (23 de julho)
A Igreja celebra o 16º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (23). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Sb 12,13.16-19
Salmo: 85(86),5-6.9-10.15-16ab (R. 5a)
2ª Leitura: Rm 8,26-27 ou mais breve 13,24-30
Evangelho: Mt 13,24-43
A MISERICÓRDIA E A PACIÊNCIA DE DEUS
Estamos acompanhando São Mateus nos Evangelhos nas celebrações dominicais. Domingo passado, ouvimos a primeira parábola de uma coleção de sete histórias do cotidiano que Jesus transformou em história de Deus. As parábolas retratam a vida simples do povo, mas revestidas com a Sabedoria de Deus. As pessoas ouviam e se encantavam com os personagens que agem de um modo que todos conheciam bem, mas com atitudes que somente encontramos na grandeza da Misericórdia Divina. Hoje ouvimos mais três parábolas do Reino.
O autor do livro da Sabedoria (último livro do AT, redigido em torno de 80 a.C.), um escrito que já respira a brisa do Novo Testamento, o escritor sagrado diz que nosso Deus se ocupa de tudo, nada é injusto ao seu julgamento, é indulgente com todos, julga com bondade, governa com grande indulgência, o justo deve viver da bondade e com renovada esperança que, mesmo após o pecado, sempre há tempo para arrependimento. Um Deus muito próximo daquele revelado por Jesus.
No Evangelho de Mateus nos deparamos com Jesus e mais histórias do cotidiano transformadas em mensagens eternas da bondade de Deus. No Domingo passado, as pessoas ouviram uma história de um semeador que não se comportava conforme os outros agricultores: semeia em todos os tipos de terreno. Hoje, a parábola continua sendo do cotidiano da roça. Jesus nos diz que um agricultor procurou semear boa semente durante sua jornada de trabalho, mas durante a noite um inimigo semeou joio. Quando ambos nasceram se constatou a praga no meio do trigo. Até este ponto a história possui as cores conhecidas do dia a dia das pessoas, mas a parábola não tem o mesmo fim costumeiro.
Os empregados da plantação, diante do ocorrido, primeiro acusam o patrão de não ter semeado boa semente e depois sugerem a solução que talvez todos eram acostumados a realizar diante de uma plantação cheia de pragas. Jesus explica, posteriormente, que a plantação é o mundo e o joio são os “filhos do maligno”. A parábola retrata muito bem como é o nosso mundo onde o trigo (filhos de Deus) divide o mesmo espaço com o joio (filhos do mal). O mal se esconde na aparência do bem; ilude as pessoas se apresentando como se fosse uma coisa boa, mas, no fundo, é somente uma praga. Talvez por isso que muitos ainda acusam Deus pelas coisas ruins que acontecem na humanidade, pensando que Deus é o responsável, mas na realidade é o mal agindo para destruir o bem. Diante do mal presente no mundo, acusam Deus de não fazer nada. Jesus nos dá a resposta a essas e outras acusações feitas contra no Deus.
Nosso Senhor através da parábola nos diz que Deus sempre faz tudo da melhor forma possível. Ele é responsável pela plantação e pela semente que se transforma em trigo; aqueles que usufruem da plantação e se comportam como joio – sementes plantadas pelo demônio – não pertencem a Deus. Mas, então, por que o dono desta grande plantação que é o mundo não faz aquilo que sugerem os empregados: arranca o joio e deixa somente o trigo?
Aqui começa a despontar, mais uma vez, a lógica de Deus diante das pessoas e dos acontecimentos do mundo. Os empregados, espertos em seu ofício, sabem perceber qual a diferença entre o joio e o trigo e eram acostumados talvez a resolver a questão arrancando a praga do meio da plantação, mas aqui estamos não diante de um agricultor comum. Jesus revela, novamente, a grandeza de Deus Pai.
O dono da plantação tem um modo diferente de julgar e medir as coisas e as pessoas. Os servos se fixam no joio como se fosse somente ele na plantação, o Bom Agricultor olha o trigo e teme pela parte boa, o joio é secundário. O dono da plantação tem receio que no desejo de limpar a plantação das pragas, sejam arrancados com o joio também o trigo, por receio de perder um pezinho de trigo que produzirá espiga e pão, o senhor da plantação polpa o joio.
No estranho modo de ver a plantação, o bom patrão prefere deixar que trigo e joio usufruam de todos os benefícios da plantação: da terra boa, da irrigação, do cuidado contra as pragas, da proteção contra os animais do campo, etc. Ao cuidar do trigo durante todo o processo de maturação são oferecidas iguais oportunidades: a quem é filho de Deus (trigo) e também filho mal (joio). Todos recebem os mesmos cuidados, não porque são iguais aos olhos do dono da plantação, mas pelo risco de extirpar um único pé de trigo. A bondade não vê quantidade, mas cada pessoa. Como na parábola do Bom Pastor e do Bom Semeador, o agricultor salva todos os joios de serem arrancados antes da hora por receio de atingir um único pezinho de trigo. Decisivamente, não é a nossa lógica e o nosso modo de resolver as coisas, mas imaginem quantas injustiças são cometidas contra pessoas do bem quando se visa somente a maioria?
Os empregados da parábola conseguiam, pela aparência, distinguir quem é joio e quem é trigo na plantação, mas Deus que conhece toda a vida e o interior de cada um, mesmo assim, não se comporta da mesma forma que os empregados. Mas, novamente, por quê? Nosso Deus é Senhor da Misericórdia e bondade plena, Ele prefere dar oportunidades iguais a todos que, livres, possam fazem suas escolhas e construírem seu destino. Até o último momento, diante do arrependimento e da conversão, a misericórdia de Deus pode imperar sobre tudo, mas depende de cada pessoa mudar de vida.
Em nosso modo de ver as coisas, o joio deveria ser arrancado enquanto é somente um broto “pelo mal que poderá fazer no futuro”, mas Deus dá chance até o último momento da vida de cada um, para que cada pessoa possa, mesmo que seja no finalzinho, mudar de vida.
Ninguém nasce já santo e bom, como também ninguém nasce ruim, maldoso e assassino. Inúmeros fatores podem influenciar para que uma pessoa se torne “trigo” ou “joio”; se todos nascem iguais, cabe a cada um, mediante suas opções, escolher como quer chegar ao fim de sua vida. Deus oferece o melhor e de forma igualitária a todos: é a bondade perfeita como a terra que aceita qualquer semente; dá forças para que todos brotem; é o amor que rega cada broto que ganha vida, o sol que da força tanto para o joio quanto para o trigo; bondade perfeita e desmesurada para todos. Mas, igualmente, Deus é imenso em sua misericórdia como também é justo.
Jesus afirma que chega um momento em que cada um tem que prestar contas de suas escolhas e da sua vida. Antes, a preocupação era pelo trigo no receio de ser confundido com joio e serem arrancados juntos, mas o que distingue o bom do ruim são os frutos. Quem é trigo, produz espigas de trigo e recebe o seu prêmio, mas quem é joio, nada produz e no momento da colheita nada pode oferecer. No momento da colheita, no final da vida, o dourado das espigas é o sinal de que o trigo está pronto para a colheita, ele vai para os celeiros e o joio para o fogo, pois para nada serve. Até o final, há chances de mudança, mas se até o final o joio terminar como praga, não há mais nada a ser feito. Da parte de Deus sempre impera a paciência sobre todos. Ele espera como Pai Bondoso que todas as pessoas terminem sua jornada neste mundo como trigo; até o final dos seus dias, há esperança da parte de Deus.
Além da parábola do joio e do trigo, Nosso Senhor acrescenta duas outras parábolas (grão de mostarda e do fermento) que possuem algo em comum: o tempo é o melhor meio para se descobrir a grandeza ou não das coisas. O pequeno grão de mostarda com o tempo se transforma em uma grande árvore e o fermento transforma a massa em pão.
O Reino de Deus segue o esquema da bondade divina infinita, que pode ser “estranha” como a bondade do dono da plantação ou insignificante como grão de mostarda ou simples como fermento. Entretanto, há sempre um grande desejo da parte de Deus que a vida seja plena e total para todos como a plantação da parábola, como árvore que acolhe a todos os pássaros ou como a pitada de fermento que transforma a massa e pão que sacia todos.