#Reflexão: 23º Domingo do Tempo Comum (08 de setembro)
A Igreja celebra o 23º domingo do Tempo comum, neste domingo (08). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Is 35,4-7a ou Rm 8,28-30
Salmo: 145(146),7.8-9a.9bc-10 (R. 1.2a)
2ª Leitura: Tg 2,1-5 ou mais breve 1,18-23
Evangelho: Mc 7,31-37
JESUS CURA E RESGATA AS PESSOAS
Jesus sempre esteve aberto para acolher todas as pessoas, principalmente aquelas que eram excluídas e abandonadas pela sociedade e pela religião de sua época. Ele procurou percorrer todos os lugares: as terras de Israel e também regiões de outros povos (início do Evangelho deste domingo). Em todos os lugares, Nosso Senhor abraçou, tocou e curou do mesmo modo, pois para Ele o que importava era a pessoa e não a sua posição social (rico ou pobre) ou a sua religião (santo ou pecador).
Por isto Isaías fala na primeira leitura de uma “vingança” de Deus que não tem violência, ódio e nem mortes, mas uma profunda revolta contra a situação da época onde os mais necessitados estavam abandonados e sofrendo. Deus promete uma reviravolta contra aquele sistema que excluía os últimos, por isto, promete um tempo onde os doentes serão curados e acolhidos (até o deserto terá abundantes águas). Esta promessa se realiza com Jesus.
Em sintonia que esta promessa, mas principalmente com a atitude de Jesus que sempre teve grande atenção para com os pobres, Tiago na segunda leitura chama atenção da sua comunidade sobre o desprezo para com os mais simples e humildes. A divisão interna na comunidade entre tratar melhor os ricos e a indiferença para com os pobres, refletia ainda a mentalidade do mundo e em nada estava em sintonia com o exemplo e os ensinamentos de Jesus que sempre acolhia a todos, mas preferiu escolher os mais simples e pobres.
Entre os pobres que acorriam a Jesus, os doentes sempre tiveram especial atenção. Sabemos o que significa a nossa capacidade de ouvir e de falar. São dons que nos ajudam na comunicação com as pessoas e com o mundo. Marcos no Evangelho deste domingo nos conta que um dia Jesus se encontrou com uma pessoa que não possuía estas duas capacidades: não ouvia e falava com dificuldade. A cura que o evangelista narra, ganha uma importância muito significativa, pois Jesus procede de um modo único e especial para efetuar mais este milagre.
O início do Evangelho informa que Jesus encontrava-se na Decápole (significa “dez cidades”) que era uma região habitada por pessoas que falavam a língua grega (diferente da língua de Jesus) e era terra de gente que não tinha a mesma religião de Jesus e dos judeus, por isto, eram considerados como “impuros” (pagãos). Um judeu ou um fariseu jamais percorreria aquelas estradas e nunca pisaria naquelas terras de gente “indigna”.
Jesus, como de costume, nunca seguiu estas diferenças criadas pela sociedade e pela religião da época.
Estando em território de “impuros”, Jesus se depara com um grupo de pessoas que estava trazendo um doente surdo que fala com dificuldade. Uma pessoa presa no silêncio de seu mundo. Não ouvia nada e ninguém, mas seus amigos tinham ouvido falar de Jesus. A fama de Jesus tinha se espalhado pela região e todos vinham até Ele, por isto, certamente os amigos do doente já tinham ouvido e talvez até visto Jesus fazer alguma coisa, mas aquele doente – impossibilitado por não ouvir e nem falar – nada poderia fazer, somente confiar em seus amigos.
Eles pedem para que Jesus lhe “impusesse a mão”, mas Ele faz muito mais do que isso: quis oferecer àquele homem uma experiência pessoal, próxima e cheia de intimidade, algo que vai além de um simples gesto costumeiro de impor as mãos.
Jesus, diante do pedido dos amigos, realiza gestos novos para operar a cura. A primeira atitude de Jesus foi ficar sozinho com o doente surdo, longe da multidão que estava ao seu redor (não queria dar nenhum “showzinho” para ninguém). Até aquele momento, os amigos tinham feito tudo pelo doente, mas era necessário que ele mesmo tivesse um encontro pessoal com Jesus. Nosso Senhor “toma a parte” aquela pessoa, gesto frequente de Jesus para com os seus discípulos (em Mc ocorre seis vezes com os discípulos + uma vez com este doente). À parte, o Mestre lhe dedica especial atenção. Diante daquela pessoa, Jesus toca os ouvidos do doente com os seus dedos e depois toca a Sua própria língua para em seguida, com sua saliva, tocar a língua do surdo-mudo.
Assim, Jesus dá ao doente algo que é Dele.
Acreditava-se naquele tempo que a saliva tinha algo de medicinal, mas Jesus quis oferecer aquela pessoa marginalizada pela deficiência, algo que lhe era próprio e pessoal. Aquele surdo, além das limitações físicas, ainda sofria a exclusão por parte dos judeus que também o consideravam com um “pecador”, Jesus rompe todas estas barreiras e procura expressar com gestos profundamente humanos e íntimos, Sua proximidade e o Seu amor para com aquele doente.
Jesus – após tocar os ouvidos e a língua – completa com um gemido. Não um grito de potência, mas um som muito próprio daquele que sofre. Olhando em direção ao céu diz: “Éfata!” que significa: “abre-te!” Era uma palavra da língua familiar de Jesus, assim, trata aquele estrangeiro como alguém de sua casa (Ermes Ronchi). O comando dado por Jesus para operar o milagre é realizado com um suspiro, como um sopro divino.
O modo singular realizado por Jesus para curar, vai além de “mais um milagre”. Diante da pessoa com sérias deficiências e marginalizada de tantos modos (estrangeiro e doente), Jesus procura expressar a sua maior aproximação e intimidade. Não quer somente “curar mais um doente”, mas quase que “recriar” a pessoa.
Os gestos lembram Deus na criação que molda com a mão o barro e sopra sobre o boneco para criar o homem-Adão.
No Evangelho de Marcos, após o rito operado por Jesus, o doente tem os ouvidos abertos e a prisão da língua é desfeita, podendo assim, falar corretamente. O encontro com Jesus deve realizar em nós o mesmo resultado: abrir nossos ouvidos para a Palavra de Deus e anunciar a Boa Nova do Evangelho.
O Batismo que todos nós recebemos deve efetuar em nós, o mesmo efeito: predispor-nos para escutar a Palavra de Deus e anunciá-la.
Jesus é a realização das promessas de Deus, mas não somente aquele que realiza milagres e grandes prodígios como este que São Marcos nos narra. Acima de tudo, ele busca promover e resgatar as pessoas, tirando-as da situação de exclusão e marginalização onde elas se encontram. A lista de doentes que serão curados, conforme as palavras de Isaías na primeira leitura, são os últimos e os esquecidos em todas as sociedades, que também nós devemos ajudar. Jesus vai ao encontro de todos que estavam em terras de Israel ou em terras estrangeiras e ofereceu a todos a possibilidade de um encontro íntimo e profundo. Hoje, nós é que devemos assumir esta missão de conduzir todos ao encontro com Jesus para que Ele nos cure de nossa surdez e liberte nossas línguas para anunciar o seu projeto de vida e libertação que Ele veio inaugurar neste mundo.