#Reflexão: 24º domingo do Tempo Comum (11 de setembro)

10 de setembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 11, o 24º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Ex 32,7-11.13-14

Salmo: 50(51),3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15,18)
2ª Leitura: 1Tm 1,12-17 ou ou mais breve 15,1-10
Evangelho: Lc 15,1-32

Acesse aqui as leituras.

A MISERICÓRDIA QUE FAZ FESTA

            Após ouvir o Evangelho de Lucas deste domingo, compreendemos como ainda estamos longe da Misericórdia de Deus. Somos um pouco como uma ovelha desgarrada e uma moeda perdida, mas principalmente como os dois irmãos da terceira parábola. Jesus nos encanta, mais uma vez, nos revelando um Deus no papel de um pastor, de uma dona de casa e um pai de família.

Lucas introduz este trecho do Evangelho lembrando dois grupos fundamentais na vida de Jesus: de um lado os pecadores e os publicanos e de outro os fariseus e os escribas. Jesus acolhe a todos e procura semear o bem através de seu ensinamento. Para Cristo o que importa é a pessoa e não seus títulos ou rótulos. O primeiro grupo se aproxima e procura escutar (Jesus nada pede e exige deles). Escutar é a primeira atitude do discípulo, mas também do pecador arrependido. O segundo grupo não escuta, mas somente diz, ou melhor, murmura contra Jesus. Não tem ouvidos, mas somente palavras de crítica. No mundo dos fariseus e dos escribas sumiram as pessoas e ficaram somente as leis e as normas. Vivem e anunciam um Deus juiz e severo em relação aos pecadores.

            Para o grupo dos doutores e sábios, Jesus é um “tal que come com os pecadores”. Não querem nem pronunciar seu nome. A atitude de Jesus, certamente, estava causando um grande embaraço para os grandes da religião da época, pois o povo estava cada vez mais interessado em escutar Jesus e acolher seus ensinamentos. A observação dos opositores de Cristo assinala algo marcante na vida de Nosso Senhor: se colocar a mesa, neste caso, junto com os pecadores. É a forma mais profunda depois de escutar e acolher a palavra: cear juntos. Reunir-se para cear torna-se uma marca entre os cristãos (a Eucaristia). Jesus fica sabendo da crítica que lhe foi feita. Nosso Senhor não discute e nem polemiza, mas ensina com três belíssimas parábolas.

Jesus usa um esquema fenomenal para mostrar a beleza da misericórdia. Ele não faz propaganda de si e nem diretamente de Deus, mas revela como é bom perdoar, acolher e semear misericórdia. Os personagens principais (pastor, mulher e o pai) não são nomeados como sendo Deus por parte de Jesus, mas os fariseus e os escribas não poderiam deixar de concluir que este modo de agir não era compatível a uma pessoa comum, mas somente a uma pessoa cheia de amor. No fundo, Jesus questiona que “tipo de Deus” cada um possuía. O ensinamento de Jesus foi construído em um crescente de valor e significado. As duas primeiras parábolas retratam situações do cotidiano, mas com uma originalidade que provavelmente espantou a todos.

A parábola da ovelha inicia com uma pergunta que provavelmente todos devem ter respondido negativamente. Quem é que deixa 99 ovelhas e sai à procura de uma ovelha perdida? Ninguém faz isto! Mas, Jesus insiste que há “um pastor” que costuma faz assim. Cada ovelha é importante e por isto, quando uma se perde, a paixão pela ovelha desgarrada faz com que aja com coração e não com a razão. Na parábola de Lucas, todos se encontram no deserto (lugar de inúmeros perigos) e o pastor deixa todas as outras para sair à procura da ovelha perdida e não descansa até encontrá-la. Quando a encontra, não lhe pune e nem faz “sermão”. Carrega sobre seus ombros para que não se canse na viagem de retorno. Em casa, a alegria é tamanha que faz festa com os amigos e vizinhos. Nenhum pastor fazia como na parábola, a única conclusão é que somente Deus é capaz de sair à procura da ovelha perdida e ao mesmo tempo manter as 99 em proteção.

Jesus insiste no mesmo princípio, conduzindo a todos para dentro de uma casa e no dia a dia de uma mulher que é atarefada em seus afazeres domésticos. Ao perceber a ausência de uma moeda, acende uma lamparina (a moedinha poderia reluzir com a claridade), revira tudo em casa, desorganiza o que está arrumado até achar a pequena moeda. Para se encontrar o que está perdido, a dona de casa abandona tudo e rompa a ordem das coisas até encontrá-la. Como antes, tudo culmina na alegria e na festa com outras pessoas.

Nestas duas parábolas a atitude é a mesma: procurar até achar. O pastor não tem interesse em saber o motivo que levou a ovelha a se perder; o mais importante é reconduzi-la ao convívio comum com as outras ovelhas e sob a sua tutela. A mulher não despreza o valor da pequena moeda (servia para pagar um dia de trabalho), mas procura até achar.

            A terceira parábola é um convite a entrar realmente no mundo da misericórdia. Desta vez, são dois filhos ao mesmo tempo distantes e tão próximos em muitos particulares. O filho mais novo convivia com todos, mas seu coração e seus sonhos estavam longe. Quando pede sua parte na herança, ele já tinha abandonado todos para seguir seus projetos pessoais. Ao deixar a casa da família, abandona tudo que lhe era importante. No início desta parábola temos o silêncio respeitoso do Pai que nada exige, não lhe impõe condições, não procura lembrá-lo dos diversos riscos. O filho ao desprezar sua presença e pedindo sua parte da herança, decreta já a morte do pai (a uma herança somente é repartida com a morte do pai). É um silêncio de respeito e dor do pai que vê seu filho sonhar um futuro onde ele e todos de sua família não faziam parte. Diferentemente das outras parábolas, este Pai não sai à procura do filho. Ele não está perdido (desorientado), ele sabe o caminho de volta; ele não se perdeu no caminho, escolheu uma estrada desprezando todo o seu presente e passado.

Longe de casa, o filho mais novo experimenta tudo que o mundo pode oferecer, mas como são coisas materiais e prazeres de momento, tudo acaba e ele termina em uma situação mais baixa que alguém poderia chegar. Tudo começou a mudar quando percebeu que “ninguém lhe dava importância”. A perda maior não foi no campo material, mas na dignidade humana: valia menos que os porcos. Ele se lembra de sua casa e o arrependimento (início da conversão) começa com a saudade dos “pães em abundância” que até os servos na casa de seu pai comiam. O caçula não se lembrou do Pai que deixou com o coração arrebentado e certamente chorando quando partiu. Deseja voltar para poder alimentar-se, pelo menos, como os servos de seu Pai. E para tanto, ensaia um discurso.

O Pai esperava o retorno do filho. Esperava o seu mínimo desejo de voltar para a família. Ao ver o filho no horizonte, o Pai lhe sai ao encontro. O filho aprontou e fez tudo de errado: gastou tudo que tinha, estava sujo fedendo porcos, sem nada e sem dignidade, mas para o Pai o simples gesto do retorno já foi suficiente. Com um abraço, o Pai encerra o passado e resgata o filho; Com um beijo sepulta suas palavras ligadas ao passado; E com uma nova roupa, sandálias e o anel lhe restitui a dignidade de filho e pessoa. E tudo se encerra com uma festa e com um grande banquete em família.

            Entra em cena o filho mais velho. Ele permaneceu com o Pai e fazia tudo que ele pedia, mas se revela tão distante do Pai cheio de Misericórdia quanto o irmão mais novo e descabeçado. O filho mais velho enxerga seu pai como um patrão e como um senhor. Não tem coragem de lhe pedir nem um cabrito para festejar com os amigos (também ele tem seus desejos, mas sem o pai e a família). O filho mais velho ficou fora da casa (como o mais novo) cheio de raiva. Mas, o Pai é cheio de amor para com todos os filhos. Todos são importantes e lhes oferece o mesmo acesso ilimitado a sua misericórdia. O Pai também sai para se encontrar com o filho-teimoso que ficou fora de casa e não queria festejar com todos.

É muito marcante nas três parábolas a alegria e a festa. Mesmo em se tratando de coisas simples (ovelha e a moeda) tudo termina em festa. Com Deus é sempre assim: Ele nos surpreende com seu amor, mas muito maior com a festa que faz quando somos resgatados. Na terceira parábola tudo se transforma em um grande banquete e muita alegria. A felicidade em Deus jamais é egoísta e exclusiva (como no caso dos dois filhos), ela é sempre comunitária, envolve e se espalha por todos que possuem o mesmo sentimento.

Podemos imaginar o desconcerto que as parábolas devem ter causado nos fariseus e nos escribas que diante dos personagens nas parábolas que se alegram com coisas simples (ovelha e moeda) e um Pai que não pune e nem castiga, mas faz festa com o retorno do filho perdido, eles devem ter percebido como estavam distantes da Misericórdia (Deus) e da alegria (sentido da vida). Para eles, a vida tinha se tornado um mar de leis e um mundo frio de normas. Assim, longe do amor de Deus, as pessoas perdem não somente o sentido da vida, mas também a alegria de viver.

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