#Reflexão: 26º Domingo do Tempo Comum (29 de setembro)

24 de setembro de 2024

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A Igreja celebra o 26º domingo do Tempo comum, neste domingo (29). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Nm 11,25-29 ou Ap 12,7-12a
Salmo: 18(19),8.10.12-13.14 (R. 8a,9b)
2ª Leitura: Tg 5,1-6
Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48

Acesse aqui as leituras.

RADICALIDADE EM FAZER O BEM SEMPRE

Domingo passado ouvimos de Jesus uma afirmação desconcertante: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e servo de todos” (Mc 9,35). Acolher e servir, gestos profundamente ligados a Cristo que somos chamados a assumir como nossa marca e identidade como discípulos de Jesus. Novamente, nesta celebração dominical Ele nos surpreende mostrando que o modo de pensar do mundo não é o mesmo do Mestre Jesus.

O Evangelho deste domingo retrata os apóstolos como um grupo fechado e ciumento. João conta a Jesus que tinha encontrado um que não era do grupo, mas que fazia o bem expulsando demônios e que eles tentaram impedi-lo que continuasse a fazer isto. O fato demonstra que eles tinham esquematizado tudo e se sentiam detentores de Jesus e até de seu nome; que Ele não poderia ser invocado por ninguém que não fosse do grupo dos apóstolos. Estavam profundamente enganados!

Tudo indica que eles queriam preservar o nome do grupo, da instituição que faziam parte (“os escolhidos de Jesus”). Nem deram valor àquilo que aquela pessoa tinha feito: alguém tinha sido curado de um mal. O doente podia ter esperado a instituição chegar e ela teria resolvido a situação. É quase como se dissessem: Os doentes não são um problema nosso, primeiro devem ser as regras e as normas, os doentes podem esperar quando a instituição puder atender. Mas, se esqueceram que Jesus é um homem sem fronteiras e que o mais importante são as pessoas!

Mas, os apóstolos ignoravam que o grande poder que Jesus estava ensinando não se encontrava na instituição dos apóstolos e nem na posse do poder de invocar o nome de Jesus, mas no serviço à vida, fazer o bem, promover a pessoa humana. Quem ajuda o mundo a florir fazendo o bem, quem é amigo e promove a vida, este também é dos nossos. Não podemos ser donos do bem que nos foi doado por Cristo. A verdadeira característica do cristão deve ser o serviço ao próximo e a construção de um mundo melhor. Ademais, o Reino de Deus é muito maior do que imaginamos. Ele se encontra-se no bem que fazemos e não nas regras que criamos.

 Devem existir, certamente, pessoas que seguem Jesus e que estão muito próximas Dele mesmo sem saber, porque fazem o bem, são caridosas e justas em tudo que fazem. Por isso, nós que nos definimos como seguidores e discípulos de Jesus devemos fazer o mesmo ou muito mais ainda que estas pessoas.

Na 1ª leitura temos o exemplo de Moisés. Para ajudá-lo a conduzir o povo, Deus decidiu “repartir” com 70 anciãos o espírito de animava Moisés em sua liderança. Dois não estavam no “lugar combinado”, mas receberam do mesmo jeito a força do alto. Para alguns, o “local do encontro” era fundamental. Para Moisés, o que vale é a vontade de Deus. Bom seria que todo o povo tivesse o mesmo espírito, conclui Moisés.

Jesus, no Evangelho, acrescenta às suas palavras uma exortação sobre o escândalo a começar dos pequenos (crianças) e os mais fracos da comunidade. Jamais devem ser induzidos ao pecado por parte daqueles que são discípulos de Jesus. A expressão usada por Jesus é forte: melhor seria desaparecer. O escândalo que corrompem inocentes é um pecado que fere profundamente a Deus, principalmente, feito usando o nome de Jesus.

Por isso, diante desta possibilidade de escandalizar, Jesus exorta a uma ação radical e profunda: desenraizar e cortar tudo que produz pecado em nossa vida. Romper radicalmente com o mal. Para tanto, Jesus usa expressões radicais: “cortar a mão” (representa nossas ações); “cortar os pés” (mudar nossos caminhos) e “arrancar o olho” (desviar radicalmente nossos olhares). Se é preciso ser radical, devemos ser radicais conosco mesmos, devemos brigar contra os nossos erros e pecados e não contra as pessoas, principalmente, aquelas que também estão fazendo o bem. Temos que cortar o que é errado em nós e dentro de nós e não nos outros.

Sabemos que não é a “mutilação” de partes do corpo que o Senhor nos pede, mas o corte decisivo e radical com o mal e o pecado. Não dar a culpa pelo erro e pecado aos outros, o mal está dentro de nós: naquilo que vemos, o que fazemos com as nossas mãos, por onde caminhamos, enfim, em nossos corações. Por isso, é preciso uma mudança radical de vida e de comportamento diante daquilo (ou de pessoas) que nos arrastam para o pecado. Não é o mundo ou os outros que têm que mudar: somos nós!

Em seguida Jesus nos dá um exemplo. A mesma mão que produz pecado deve ser usada para fazer o bem, como dar um copo d’água a alguém; usar os pés para ir ao encontro do próximo, enfim, fazer sempre o bem. As coisas grandes de Deus começam com simples ações feitas de coração e sempre procurando semear o bem. O Reino de Deus inaugurado por Jesus é muito maior que as instituições, pois começa com gestos simples e com aquilo que temos em nossas casas (como um copo d’água), no nosso dia a dia, na prática do bem.

Assim, quem dá um “gole de vida” pertence a Deus. Isto coloca-nos a todos, com serenidade e alegria, ao lado de tantos homens e mulheres, crentes ou não crentes, que, no entanto, se preocupam com a vida e são apaixonados por ela, que são capazes de inventar milagres para trazer um sorriso ao rosto de alguém. O Evangelho nos chama a “ficar ao lado deles, sonhando com a vida juntos” (Ermes Ronchi).

Para Jesus, tudo já é de Deus com um abraço, acolhida dos pequenos (marginalizados, crianças, doentes…) e um com um copo de água distribuído. Assim, certamente, temos inúmeros “irmãos de coração” na caridade que ajudam o Reino acontecer sem serem “irmãos de fé”.

Por isso, São Tiago chama atenção dos cristãos de sua comunidade que o pecado não é somente algo que atinge a Deus, mas também as injustiças sociais, os roubos, a corrupção, salários injustos, exploração… produzem riquezas malditas que não trazem nem o bem e nem a felicidade. Se o mundo pensa e vive assim, nós que cremos em Deus e em Jesus devemos dar o exemplo do contrário e viver do jeito que Jesus ensinou.

Assim, ao invés de sermos ciumentos porque existem pessoas que estão fazendo o bem em nome de Jesus, nós que acreditamos no Senhor, devemos viver a caridade e a fé com muito mais intensidade, pois tudo que fazemos, deve ser realizado por Jesus e para Jesus. Devemos ter um “espírito de competição” em fazer o bem e servir sempre o próximo. As pessoas devem nos identificar como seguidores de Jesus através do amor que vivemos, da paz que semeamos, da justiça que construímos. Ademais, sabemos muito bem, de que pouco adianta sustentar e impor a nossa fé e religião aos outros se damos péssimos exemplos em relação a vivência do amor, do respeito, da caridade, da justiça e da paz. Devemos passar do hostil “quem não é conosco é contra nós ” para as palavras de Jesus: “quem não é contra nós está consoco”. O mundo precisa de pessoas que vivam os ensinamentos de Jesus, muito mais de pessoas que briguem por causa de um grupo, uma sigla ou uma religião.

O grupo dos apóstolos precisava de uma profunda conversão a Jesus, pois confundiam: seguir Jesus com “fazer parte do grupo”. Estar mais próximo do Mestre Jesus não deveria ser visto como um privilégio de poucos, mas uma grande missão de conduzir muitos outros à fonte do Amor Perfeito que é Deus. Não fechar os caminhos à comunhão com Deus, mas abrir portas e construir pontes até Jesus.

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