#Reflexão: 27º domingo do Tempo Comum (02 de outubro)
A Igreja celebra, no dia 02, o 27º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Hab 1,2-3.2,2-4
Salmo: 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
2ª Leitura: 2Tm 1,6-8.13-14
Evangelho: Lc 17,5-10
FÉ AUTÊNTICA E HUMILDE PARA SERVIR SEMPRE
As leituras e Jesus, neste domingo, nos ajudam a mergulhar com mais profundidade na questão da fé, grande dom de Deus, mas sem a nossa participação e a nossa contribuição, ela pode fazer muito pouco.
O profeta Habacuc apresenta a Deus uma grande lamentação e várias perguntas. Os desafios e os problemas que o povo estava enfrentando eram grandes e o rei estava indiferente a tudo, preocupado em construir seu palácio. Sensível aos problemas da sua gente, Habacuc pergunta, desesperadamente, porque seu povo estava passando por tanta dor, sofrimento e nenhuma solução se apresentava ao horizonte, seja por parte de um enviado como da parte de Deus. O profeta não questiona a autoridade de Deus, mas sente o peso da realidade ao seu redor. A resposta de Deus é um chamado a acreditar Nele, pois Ele não abandona jamais seu povo.
Fé em Deus também é o apelo que Paulo faz ao seu afilhado na fé: Timóteo. Na prisão e pressentindo o seu final, o apóstolo convida a não se deixar abalar por nada, a renovar sua confiança, não abandonar o que recebeu e não esquecer os princípios de sua fé em Cristo Jesus. Sabemos que “fé” é um dom de Deus. Ele é quem distribui a todos como Bom Agricultor que sai para semear a boa semente em todo lugar. Tudo parte de Deus, inicia-se com Ele, mas a fé precisa ser acercada de outras virtudes que cada pessoa deve acrescentar.
No Evangelho temos uma passagem que é consequência de um difícil ensinamento de Jesus. No texto anterior ao que ouvimos no Evangelho, Jesus ensina sobre a necessidade de perdoar sempre, incondicionalmente, mesmo quando o teu irmão pecar contra ti sete vezes ao dia (“sete” é número que significa perfeição, completeza) e se ele se arrepender e pedir perdão, você deve perdoá-lo sem colocar condições ou limites. Após este ensinamento, os apóstolos pediram a Jesus: “aumenta-nos a fé”. Eles perceberam que precisariam de uma “fé grande” para poder colocar em prática os ensinamentos do Mestre. Eles não pedem que lhes fosse dada fé, mas aumentar a que já possuíam. Como os apóstolos, também nós, teimamos em aceitar este tipo de perdão incondicional. Mas, a resposta de Jesus é muito mais profunda e ampla.
Jesus não concede o que lhe foi pedido pelos apóstolos, mas apresenta algumas questões sobre a profundidade da fé e inicia com uma pequena parábola do grão de mostarda. Se todos tivessem fé do tamanho do grão de mostarda poderiam fazer grandes coisas. Não se deve entender aqui: “fazer grandes prodígios” algo como “um grande show ou espetáculo” como transportar uma árvore de lugar, isto nem Jesus e nem os apóstolos fizeram, o sentido é outro. O termo original que é traduzido em português como “amoreira” está ligado a uma árvore que possuía raízes profundas e muito difícil de ser arrancada do solo. Segundo Jesus não é necessário uma “grande fé”, mas uma “fé autêntica” que, por si só, já é capaz de arrancar “grandes árvores” com suas raízes profundas que encontram-se em nossos corações. O principal obstáculo para perdoar incondicionalmente os outros são os grandes obstáculos (árvores com profundas raízes) que plantamos em nossos corações. Dessa forma, Jesus esclarece que basta ter uma fé autêntica, pois mesmo que seja pequena como um grão de mostarda já será capaz de fazer grandes coisas, principalmente, eliminar tudo que atrapalha a graça do perdão de Deus em nós e de nós para os outros.
Acreditar (ter fé) não é conhecer doutrinas e estar ligado a uma instituição, mas confiar em Deus. Muitos possuem a fé original semeada por Deus, mas não somam a ela a confiança e a fidelidade. Ninguém confia em coisas, mas em pessoas! Confiar é depositar nossas seguranças e certezas não em nossos princípios e valores, mas em Deus. Tal confiança e entrega devem ser traduzidas no seguimento de suas Palavras (Jesus é o “Verbo” de Deus) e pronto para cumprir Sua vontade. Para Jesus é fundamental e inseparável: fé e confiança.
O Evangelho prossegue com Jesus apresentando algumas perguntas que retratam aquilo que todos conheciam muito bem: relação entre um servo e o seu patrão. Aqui Jesus não quer confirmar que tudo deve ser assim, mas esta era a realidade que conheciam e viam como algo comum.
A cena construída por Jesus com perguntas mostra um servo que é aplicado ao seu ofício. Ele trabalha o dia todo no campo e quando retorna à casa do seu patrão, ele ainda realiza outras atividades (prepara a mesa para seu senhor). Trabalhar para o seu patrão é estar disponível sempre e em todos os momentos estar preocupado em atender as necessidades do seu senhor. Jesus pergunta se tal servo faz algo de extraordinário. Certamente, todos devem ter confirmado que não fez mais que a obrigação. Estar atendo às necessidades do seu senhor e da sua propriedade era a única realidade que o servo deveria ter em sua vida. Não é um favor que o servo faz, mas sua obrigação e dever para continuar naquela casa.
Jesus, partindo deste quadro conhecido por todos, aplica também à realidade de todos os seus apóstolos e discípulos. Cada um depois de ter trabalhado no campo (no mundo) e na casa do seu senhor (na comunidade ou Igreja) deve dizer a si próprio: somos meros servos e iguais a todos os outros: inúteis aos olhos do mundo. Não é o senhor quem diz ao servo, mas cada um deve dizer para si mesmo. Deus não considera nenhum como um “escravo”, mas cada um deve se colocar como um servo diante de Deus.
Com esta história, Jesus também critica a mentalidade vigente entre os fariseus que pensavam adquirir algum direito diante de Deus ao cumprir as leis e os Mandamentos. Nós não fazemos nada mais que nossa obrigação e dever, pois são para o nosso bem. Todos nós estamos em profunda dependência em relação a Deus, assim, ninguém deve pensar em um dia se apresentar diante de Deus com alguma pretensão ou exigência, exatamente como Jesus afirma através de suas perguntas sobre o servo ao final do seu dia de serviço.
“Servo” na boca e na vida de Jesus não significa alguém que é escravo ou insignificante para Deus (assim, pensavam muitos na época de Cristo). Mas, é expressão do total serviço, sem pretensões, feito na gratuidade (sem pagamento, senão seria um empregado). Jesus se coloca como servo de todos e convida todos a serem servos uns dos outros. Ele lava os pés dos discípulos (como no Evangelho de João) e pede que todos façam o mesmo. Cada um que se coloca como servo no amor e na misericórdia uns dos outros é servo como Jesus mesmo foi servo. Mesmo que aos olhos do mundo seja um “servo inútil”, mas para Deus será expressão do mesmo Jesus que foi o maior Servo do amor de Deus. Assim, na parábola deste domingo, o servo não foi inútil, pois cumpriu com prontidão todas as suas tarefas, mas ele deve dizer (“em seu coração” ou “dizer pra si mesmo”): “não fiz nada mais que minha obrigação, pois diante de Deus, nada somos (“inúteis”)”, fugindo assim, à tentação de se vangloriar diante de Deus.
Percebemos segundo as palavras de Jesus que fé é confiar plenamente nas mãos de Deus, viver uma vida de serviço sempre e, acima de tudo, com um coração humilde e desprendido de tudo e de todos, para incondicionalmente confiar plenamente em Deus e no Seu amor, Jesus.