#Reflexão: 29º domingo do Tempo Comum (16 de outubro)
A Igreja celebra, no dia 16, o 29º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ex 17,8-13
Salmo: 120(121),1-2.3-4.5-6.7-8 (R. cf. 2)
2ª Leitura: 2Tm 3,14-4,2
Evangelho: Lc 18,1-8
REZAR SEMPRE E CONSTANTEMENTE
Jesus no Evangelho deste domingo exorta sobre a necessidade da oração. Lucas inicia lembrando que Jesus insistia na necessidade de rezar sempre, “constantemente e não desanimar jamais”. As expressões traduzem algo como fundamental e essencial para nós discípulos. Não se trata de passar o dia e a noite em oração (nem os religiosos nos conventos conseguem isto), mas de uma atitude de comunhão e intimidade para com Deus que seja constante e perseverante, não porque Deus necessita disto, mas nós é que precisamos para “não desanimar” em nossa vida espiritual.
Contando uma parábola, Jesus parte de uma situação negativa e extrema entre uma viúva e um juiz para tirar uma lição para nós e nossa vida de oração. Na história, os personagens são imaginários e não representam necessariamente os cristãos (viúva injustiçada) e nem Deus (juiz iníquo). Mais uma vez, temos uma parábola que encontramos somente no terceiro Evangelho e com características próprias: duas pessoas em posição oposta; personagem que pensa (fala) consigo mesmo…
Tudo ocorre em uma cidade onde todos se conhecem. Jesus descreve inicialmente o juiz e o apresenta como alguém infiel a sua profissão e aos mínimos princípios humanitários. O juiz é descrito como injusto e nada se sabe sobre o seu modo de agir. Ele nega auxiliar a viúva somente porque não quer agir, é um profissional que não faz o que se deve e age somente quando há vantagens pessoais. De fato, naquele tempo, muitos se deixavam corromper e esperavam sempre tirar vantagens financeiras dos casos que julgavam, na parábola, o juiz não via nenhuma vantagem pessoal. Eram os corruptos da época que agiam somente por interesses pessoais. Por isto, por duas vezes, lemos que o juiz “não temia Deus e nem respeitava os homens”.
A viúva é retratada no seu modo de agir, nada se diz sobre sua pessoa, mas que é insistente na busca de justiça para uma situação de injustiça pessoal. A mulher não pede algo exagerado ou além da capacidade do juiz de realizar, solicita somente que ele cumpra o seu papel de mediador e que resolvesse sua situação contra um adversário. Sua ação é descrita como persistente e continuada, isto por um bom tempo.
Jesus prossegue a história nos apresentando o que pensou o juiz depois da insistente solicitação por justiça por parte da viúva. Ela não usa de injustiça, não apela com ameaças e não lhe oferece vantagens, ela não se iguala ao juiz. Pensando consigo, ele se mostra em toda sua arrogância e soberba. O juiz, em relação a Deus, ele não O teme, assim, não se trata de alguém que não crê em Deus; segundo Lucas, o juiz não O temia, pois se sentia como igual a Deus. Em relação aos homens, ele “não respeita”, isto é, age somente segundo suas vantagens e caprichos pessoais. Com este pensamento, o iníquo juiz vê todos os homens como inferiores e submissos a sua vontade. Ele avalia a sua influência sobre a vida dos outros como se fosse uma divindade e assim, não age segundo as leis, mas segundo seus desejos pessoais.
Com este autorretrato de extrema arrogância, no extremo oposto, encontra-se uma mulher, viúva que não tinha nenhum poder (ainda por cima sofria injustiça de alguém). Mas, ela tinha uma preciosa “arma” para pressionar o juiz injusto: a insistência. Certamente, a mulher ao exigir que o juiz cumprisse sua obrigação e resolvesse o seu problema – isto cotidianamente – depois de certo tempo, o juiz se aborreceu. A mulher era a “consciência” do ofício de juiz que ele tinha perdido, ela funcionava como um alerta para aquilo que ele realmente deveria ser e fazer em sua profissão: cumprir a lei e auxiliar as pessoas em casos de injustiça. O aborrecimento que o juiz quer se livrar ao atender a viúva, na realidade, era a sua consciência que pesava. Ainda por cima, ela poderia manchar sua imagem de juiz e atrapalhar futuros serviços com outras pessoas, pois, ele era juiz da cidade e, certamente, era conhecido. O magistrado, por fim, decide agir como juiz não por nobres motivos (atender uma viúva injustiçada), mas para se livrar de um aborrecimento e por temor de um vexame que a mulher poderia cometer no futuro. Ele age para preservar sua situação, sua imagem e não ser prejudicado em suas vantagens. Entre os dois existe um abismo e se aproximam somente por obrigação da parte do juiz e por necessidade da parte da viúva.
O juiz faz o certo com motivações erradas. O que lhe foi pedido era simples e fácil, mas como se tratava de uma viúva e sem nenhum benefício em vista, a arrogância pessoal somente lhe trouxe aborrecimento. A mulher se transforma em sua consciência pública e ele teme sair prejudicado em suas futuras vantagens. Fazer o certo com motivações corretas e justas seria mais fácil e até mais vantajoso para o juiz, pois lhe traria prestígio entre as pessoas, mesmo que não tivesse vantagens financeiras.
Partindo desta história, Jesus procura transportar tudo para uma história positiva, de relacionamento fecundo entre Deus e o fiel que reza sempre. Com palavras firmes, Jesus parte das palavras do juiz injusto que, mesmo não querendo, faz algo por causa da insistência da mulher. Pois bem, Deus não age e nem se comporta do mesmo jeito. Ele escuta seus filhos e filhas em suas constantes orações (dia e noite); não deixa ninguém esperando e faz justiça bem depressa. Isto porque Deus é sempre misericordioso para cada pessoa, conhece nossas necessidades e está pronto a nos ajudar. Mas, por que nem sempre isto acontece em nossa vida? Por que temos a sensação que algumas de nossas orações não são atendidas por Deus?
É necessário recordar que tudo está sendo usado para mostrar a necessidade da oração, mas o que é realmente rezar para Jesus? Não oramos a Deus para convencê-Lo sobre nossos problemas, nem para exigir que atenda nossos pedidos, nem para conseguir mudar Sua vontade e Ele, assim, se conformar aos nossos pedidos. Deus não é como o juiz na parábola: interesseiro, injusto e vê somente proveitos pessoais. Deus nos conhece, sabe de todas as nossas necessidades e realmente aquilo que precisamos, quando e como precisamos.
Devemos rezar sempre para mantermos sempre um canal de comunicação aberto para Deus. Diante de um problema, nós vemos o momento e o seu drama diário, Deus vê com profundidade toda nossa história. Deus sempre está pronto a nos ajudar, mas sempre nas circunstâncias que Ele achar melhor. Mesmo que não nos conceda exatamente aquilo que pedimos, somente nosso Deus é capaz de perceber o que é melhor para cada um de nós. Precisamos rezar sempre para adequarmos nossos corações à vontade e à providência de Deus para que, no momento certo e na circunstância justa, Ele possa nos ajudar sempre.
A oração constante nos ajuda a moldar nossa vida ao amor de Deus, mas também ao tempo de Deus. Os santos aprenderam a não pedir a Deus por suas necessidades, mas a se colocar diante de Deus para cumprir sua vontade. Precisamos ser pessoas de oração que ampliem sua relação com Deus saindo do campo somente pessoal e quase egoísta (somente meus problemas). Moisés (na primeira leitura) tinha descoberto que o seu modo de oração e intimidade com Deus influenciava todo seu povo. Enquanto intercedia por todos, tudo transcorria positivamente, mas quando desanimava, até mesmo pelo cansaço, tudo acontecia ao contrário.
A Palavra de Deus (cf. segunda leitura) é um precioso instrumento para nos ajudar a entender a vontade de Deus bem como nos ajuda em nossa comunhão para com Ele. A oração para Jesus é como a paixão que une um casal: Mesmo distante fisicamente, cada um se sente sintonizado no amor e no carinho da outra pessoa. Nosso Deus e Pai quer sempre o nosso bem, mas precisamos aprender a nos conformar a esse bem e aceitar sua vontade no tempo e no modo que Ele conhece e acha melhor para cada um de nós.