#Reflexão: 2º domingo da Quaresma (25 de fevereiro)
A Igreja celebra o 2º Domingo da Quaresma, neste domingo (25). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18
Salmo: 15(116B),10.15.16-17.18-19 (R. Sl 114,9)
2ª Leitura: Rm 8,31b-34
Evangelho: Mc 9,2-10
O AMOR QUE TRANSFIGURA E SALVA
Nas leituras deste segundo domingo temos duas histórias de amor entre pai e filho. Dois exemplos do que pode fazer o amor. Abraão amava seu filho, pois era o único que possuía e tinha recebido como graça na velhice, mas ele também amava a Deus. Na segunda leitura, Paulo nos lembra do amor de Deus Pai por seu filho e também por cada um de nós. Abraão mesmo amando seu filho estava pronto para sacrificá-Lo, Deus Pai mesmo amando seu filho, entregou-O para nos salvar.
Deus para iniciar uma nova história para a humanidade, decidiu escolher um grande homem de fé: Abraão. A história deste grande homem de fé é uma antecipação de outra história, essa mais profunda, levada ao extremo por Deus com Seu Filho Jesus ao oferece-Lo para a salvação da humanidade em uma cruz. O sangue do Filho de Deus derramado pela humanidade selou em definitivo o compromisso iniciado com Abrão. Jesus é o filho amado por Deus oferecido por todos nós (cf. 2a leitura). Já Abraão foi impedido de levar a termo a morte de seu filho.
Com Abraão, os sacrifícios humanos terminam, pois Deus constitui uma nova aliança com a humanidade onde pessoas não são mais sacrificadas. Um animal ocupa o lugar dos filhos. Com Jesus encerra-se o sacrifício de animais, pois eram imperfeitos, pois a vítima mais sublime, Jesus Cristo, redime e salva todas as pessoas e o mundo com seu sangue derramado.
No Evangelho somos conduzidos com Jesus a uma nova experiência. Do deserto ao monte. Domingo passado estivemos no deserto com Jesus. As tentações do Filho de Deus são as tentações de todos nós: de prazer, de poder e de fama. Jesus é 100% humano e mesmo circundado pelos limites de nossa natureza e nossas fraquezas, Ele vence toda tentação de seguir o mal e suas propostas. Jesus foi conduzido pelo Espírito e escolhe continuar sendo levado por Deus e não pelo mal e suas propostas. No monte Tabor deste domingo, nós temos uma amostra do Jesus 100% Deus que se revela aos discípulos um pouco daquilo que Nele existe em plenitude e eternidade. Os discípulos puderam experimentar não somente um pouco da divindade e do céu, mas também a realidade que nos espera junto de Deus. Domingo passado e hoje, somos convidados a sair para encontrar; renunciar para algo para encontrar tudo que é Deus. Tempo de renúncia para encontrar o sentido profundo de tudo.
Sabemos muito pouco dos momentos íntimos de oração entre Jesus e o Pai. Mas, no Evangelho de hoje, Jesus decidiu, em um de seus momentos de oração, levar três discípulos não para serem espectadores, mas testemunhas daquilo que Ele próprio preparava para toda humanidade: abrir o acesso da comunhão com Deus Pai. As montanhas na Bíblia são consideradas lugares especiais, pois sem abandonar a terra, elas tocam o céu. As montanhas nos ajudam a ver longe, tudo que existe em torno a nós e nos presenteiam a beleza da criação e da natureza. Neste pequeno espaço que se aproxima do céu, Jesus trouxe o céu sobre a terra. A oração de Jesus, além de reforçar sua comunhão com o Pai, ela fortalecia também a comunhão plena de Deus com a humanidade e com toda a história. A glória de Jesus na transfiguração é a luz de Deus que brilha em sua plenitude, mas tudo na mais profunda humanidade. Não é Deus Pai que se revela, mas Jesus homem Deus que se mostra a todos; não as belezas do céu que brilham, mas o rosto e as veste (sinais humanos) que ganham esplendor do céu. A transfiguração de Jesus não é somente o céu que “desce” a terra, mas a terra começa a brilhar como o céu.
No monte da transfiguração, os apóstolos testemunharam a extensão daquilo que Jesus estava por realizar neste mundo. Enquanto Jesus rezava, o melhor do passado do povo de Deus se encontra com Cristo. Segundo o evangelista, Moisés e Elias conversavam com Nosso Senhor em um gesto de confirmação e comunhão. Definitivamente, Jesus não era um aventureiro ou sonhador, mas a máxima realização de Deus neste mundo: Nele convergem toda história e todo passado, a partir Dele o mundo terá um novo caminho e futuro. Jesus une o passado da Lei (representado por Moisés) e dos profetas (com Elias) com o céu. A mesma passagem no Evangelho de Lucas nos diz que eles conversavam sobre a “partida de Jesus em Jerusalém”: as Escrituras confirmam o que irá acontecer.
Uma experiência esplêndida e sem igual: ver o passado glorioso do povo de Deus com o pedacinho do céu, envolvidos com a luz de Jesus e a Sua glória. Pedro sugere algo que teríamos proposto igualmente: permanecer para sempre sobre o monte. As tendas seriam uma forma de perpetuar aquela realidade sonhada por todos: ver e ouvir Moisés e Elias e ao mesmo tempo tendo uma porta aberta para o céu. Nem pensaram neles, mas em procurar assegurar que aquela realidade não cessasse jamais. Mas, Pedro propôs algo que em parte é acolhido por Deus, mas não daquela forma.
Mas, Deus não pensa assim. Ninguém pode parar a vida, ela é infinita e se esconde no comum da nossa existência, no cotidiano de nossa história e até mesmo na fragilidade das coisas. Deus não é uma realidade que se pode confinar em um momento ou espaço, pois Ele escolheu fazer história com seus filhos. Jesus procurou ensinar seus discípulos que o Reino de Deus é movimento de encontro, de abraços, de sorrisos e de choros, pois o Reino do Céus está entre nós. Os pobres discípulos de Jesus achavam que poderiam trancar a felicidade em simples cabanas. Mas, tudo tem seus passos seguintes e permanece somente a declaração de Deus Pai ao seu Filho. Quando experimentamos uma maravilha de Deus, devemos saborear ao máximo. Aproveitar e depois agradecer. Quando a luz se apaga e a chama da vida desaparece, é momento de agradecer e deixar partir.
Marcos diz que Pedro não sabia o que falava, pois todos estavam maravilhados com tudo que estavam experimentando. Uma nuvem surge no alto no monte. Na Bíblia, a nuvem é um dos sinais da presença de Deus Pai. Todos são envolvidos pela Sua presença e glória, mas o mais importante são suas palavras: “Este é o meu Filho Amado; ouvi-O”. Poucas palavras, mas cheias de significado. Pedro queria providenciar tendas, mas é Deus que cobre Seu Filho com a nuvem. A terra jamais irá apoderar-se de Jesus, pois pertence, desde sempre, a Deus Pai.
Deus confirma a grande relação que existe com Jesus: É o seu Filho; não se trata de outro ou alguém que virá, mas “Este”. Além de Filho é amado: a relação além de paterna (entre Pai e Filho) é profunda e plena no amor. Por fim, a principal exortação que é dirigida aos apóstolos e a nós: “ouvi-O”. Os apóstolos propuseram um modo de perpetuar aquele momento sugerindo três tendas, Deus Pai responde inicialmente relevando a todos os discípulos a profunda relação entre Ele e Jesus, mas também o modo como Jesus pode ser perpetuado na vida de cada fiel cristão: ouvindo-O sempre!
Toda vez que um discípulo se dispõe e procura realmente ouvir Jesus, o monte Tabor pode se repetir em cada pessoa. O meio ensinado por Deus Pai para que a nossa história possa ser marcada pela presença efetiva de Deus é através da escuta de seu Filho Amado Jesus. Ouvi-Lo é abrir a mesma porta que une o céu com a terra, é experimentar a mesma luz que resplandece e clareia a nossa história e ilumina o nosso futuro.