#Reflexão: 30º Domingo do Tempo Comum (27 de outubro)
A Igreja celebra o 30º domingo do Tempo comum, neste domingo (27). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Jr 31,7-9
Salmo: 125(126),1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
2ª Leitura: Hb 5,1-6
Evangelho: Mc 10,46-52
ACREDITAR NA COMPAIXÃO DE DEUS
A passagem do Evangelho deste domingo assinala o último evento antes de Jesus chegar a Jerusalém. Ele estava fazendo o mesmo caminho dos peregrinos: saiam da Galileia percorriam o Jordão e, depois em Jericó, subiam para a Cidade Santa. Mas, Marcos nos diz que tudo iniciou no ponto mais extremo ao Norte, no limite das terras do povo de Deus: Cesareia de Felipe. Neste caminho, Jesus foi se revelando aos poucos e principalmente, procurando antecipar parte daquilo que aconteceria em Jerusalém. Nesta jornada de peregrinação, o povo que seguia Jesus estava mais interessado em sinais e prodígios, e os apóstolos, mais interessados em coisas terrenas: “quem era o maior entre eles” e “quem iria ficar a direita e a esquerda na glória de Jesus”.
Jericó encontra-se abaixo do nível do mar: um dos lugares mais baixos da terra. Nos Evangelhos, poucos são os casos em que os personagens possuem um nome. Na passagem de hoje, o cego chama-se Bartimeu e Marcos reforça: “filho de Timeu”. Ele era cego e mendigava ao longo da estrada. Naquele tempo de Jesus, qualquer doença era encarada como um castigo e a cegueira impedia a pessoa de realizar qualquer atividade, assim, uma pessoa sem enxergar, restava somente mendigar para sobreviver.
Bartimeu sendo cego era considerado um pecador e era desprezo por todos. Mas naqueles dias em que Jesus estava passando por ali, era uma ocasião especial: estava próxima a Páscoa dos judeus, muitos estavam fazendo aquele mesmo caminho para chegar a Jerusalém. Havia o preceito de dar esmolas nesta festa judaica. Assim, o cego estava sentado enquanto a multidão caminhava para a Cidade Santa. Desprezado, sozinho e fora da cidade, ele encontrava-se à margem do caminho. Dos peregrinos, esperava qualquer moeda que alguém jogasse em seu manto colocado sobre suas pernas.
Os relatos de curas de cegos possuem uma importância singular nos Evangelhos. Incapazes de enxergar, eles têm que acreditar no que escutam (como no tempo do anúncio da Igreja). Ao redor de Jesus, a multidão esperava sempre “ver” prodígios e curas. Muitos até cobravam sinais antes de acreditar (como os fariseus). No entanto, o cego Bartimeu sem ver nada, manifesta uma fé imensa em Jesus, certamente, ouvindo aquilo que as pessoas falam do peregrino Mestre Jesus.
Ele não podia ver, mas demonstrava que estava sempre atendo ao que os outros falavam. Estando naquele lugar (à beira da estrada), certamente, tinha ouvido inúmeras histórias sobre “um tal Jesus”. Ninguém lhe dava importância, mas ele estava atento às conversas de todos. Bartimeu está sentado e todos caminhando; todos enxergam Jesus e ele nada vê; todos estão com Jesus e ele esquecido à beira da estrada. O cego estava sentado à beira do caminho o que impedia Jesus de vê-lo, mas ele não teve dúvidas quando percebeu que Jesus estava passando por ali. A fama de Jesus tinha chegado até ele não pela visão, mas pelos ouvidos (evangelização!).
Neste caminho, os discípulos não se mostraram em sintonia com a proposta de Jesus. Eles juntamente com o povo que buscava sinais, impediam os mais necessitados de se aproximarem de Cristo. Mas, com Bartimeu foi diferente. A multidão impedia Jesus de ver o cego, Ele já estava passando, por isto o cego começou a gritar (era cego, mas não mudo) e o faz de um modo forte para que todos percebessem. “Muitos o repreenderam” – nos diz Marcos – talvez pessoas do povo ou os discípulos. Terrível pensar que o sofrimento possa perturbar a Deus (Ermes Ronchi). Jesus já tinha feito tantos e todos os tipos de milagres, estas pessoas se sentiam no direito de “escolher” quem Jesus deveria dar atenção. Eles se comportavam como um obstáculo e intermediários, e não como ponte e caminho para que as pessoas chegassem até Jesus.
Para romper a ignorância dos discípulos, Bartimeu grita mais forte duas vezes: “filho de Davi, tende compaixão de mim!” Ele reconhece que Jesus é da linhagem messiânica de Davi, mas apela para sua compaixão. Bartimeu não pediu “perdão por seus pecados”, o seu pedido foi de misericórdia e compaixão. Ele era cego, ninguém o via, mas implora que Deus o enxergasse. Diante dos gritos insistentes do cego, Jesus para sua caminhada e pede para que alguém chamasse aquele que gritava, provocando a multidão a se envolver na questão, mas de um modo novo e verdadeiramente humano e “eles o chamaram”. No meio da multidão, alguém se comporta do modo que Jesus deseja e traz até Cristo aquele que gritava. Esta pessoa se aproxima do cego e lhe diz três palavras de encorajamento: “coragem” (iniciativa determinada), “levanta-te” (depende de ti para começar a mudar) e “Ele te chama” (há um pedido que já é uma resposta).
Bartimeu demonstra já se tornar outra pessoa somente pelo fato de alguém lhe referir as palavras de Jesus. Antes, já tinha “gritado” para ser ouvido. Agora, ele “não deixa”, mas “joga fora seu manto” que era a única coisa que possuía e servia para pedir esmolas e se proteger do tempo; ele não teve dúvidas e cheio de confiança, crê e confia que tudo será diferente e a sua vida vai ser transformada, não está apegado a nada nem ao mínimo (diferente do jovem rico, de dois domingos passados, que possuía muita riqueza). Depois, ele “não se levanta”, mas “dá um salto”, fazendo algo extremamente decisivo e confiante, nem espera a ajuda de alguém, pois era cego, mas não era paralítico. Por fim, vai até Jesus. Com limites profundos (cegueira) caminha firme decisivo como discípulo ideal que Jesus desejava. São impressionantes os gestos de profunda confiança e fé, sem “ver” nada acontecer em sua vida, ele deixa tudo e caminha para Jesus; nenhum milagre tinha acontecido ainda, mas o cego abandona o pouco que tinha e deposita toda sua vida e confiança em alguém que ele somente ouvir falar.
No encontro com o Mestre, Jesus lhe faz a mesma pergunta que fez aos apóstolos que estavam interessados em reservar posições de poder ao lado de Jesus: “Que queres que eu te faça?” Diante da pergunta de Jesus, apresenta sua necessidade fundamental. Ele introduz com palavras de alguém que se sente discípulo: “Rabôni” (“meu Senhor”) e o seu pedido: “que eu recupere a vista”. Ele pede aquilo que lhe poderia devolver dignidade. Os dois discípulos pediam para participar de “glórias” deste mundo; Bartimeu pede a luz, pede para “ver”. Dois tipos de cegueiras (pelo poder e pela doença), mas somente Bartimeu teve sua cura.
Jeremias na primeira leitura, escreve em um período de reconstrução e volta do exílio, retrata um tempo onde as necessidades mais fundamentais do ser humano serão atendidas por Deus, entre elas a cegueira. Jesus cumpre esta profecia. Por fim, Jesus atende ao pedido de Bartimeu, mas com uma ênfase fundamental: “tua fé te salvou”. Ele sim, possuía uma fé especial que Jesus procurava em meio aos discípulos e na multidão. Bartimeu, ao se ver curado da cegueira, resolve se tornar discípulo de Jesus, “seguindo pelo mesmo caminho”. Para Bartimeu, a fé chegou até ele através das histórias e até testemunhos de outras pessoas que lhe narravam sobre Jesus. Agora, ele mesmo poderá testemunhar aos outros aquele que lhe devolveu a luz e a vista.
Esta deve ser a nossa missão através de nosso testemunho, de nossa humanidade na prática da compaixão, de nossas palavras e de nossa vida anunciar e fé em Jesus de Nazaré como sugere a 2ª leitura, onde o autor sagrado depois de ter afirmado que Jesus é o Sumo sacerdote, diz que há aqueles que devem ser sacerdote, devem ser “ponte de ligação” a Deus; tais devem se reconhecer necessitados da compaixão divina, mas também ajudar tantos outros a se aproximarem de Cristo e da sua misericórdia.