#Reflexão: 31º domingo do Tempo Comum (30 de outubro)

27 de outubro de 2022

A Igreja celebra, no dia 30, o 31º domingo do tempo comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Sb 11,22-12,2

Salmo: 144 (145),1-2.8-9.10-11.13cd-14 (R. cf. 1)
2ª Leitura: 2Ts 1,11-2,2
Evangelho: Lc 19,1-10

Acesse aqui as leituras.

NA CASA DE ZAQUEU

            A história de Zaqueu nos surpreende sempre que meditamos, pois os detalhes retratados por Lucas revelam a grandeza da misericórdia de Deus e as nossas misérias. A experiência do rico cobrador de imposto de Jericó mostra como nós temos muito que aprofundar sobre o amor de Deus e a acolhida entre nós.

O Evangelho deste domingo, Lucas retrata Jesus que estava atravessando Jericó. Entra em cena um personagem que o evangelista retrata com diversos particulares: ele possui um nome (Zaqueu), fato extraordinário, pois de mais nada se dirá dele no Evangelho; diz sua profissão (chefe dos cobradores de impostos) e sua posição social (era muito rico). Com estes detalhes, Lucas nos informa que ele era muito conhecido por todos e a sua profissão tornava Zaqueu um “pecador público” segundo os judeus. A sua riqueza conhecida era fruto do seu trabalho e da sua posição especial (chefe dos publicanos), isto denunciava a sua profunda ligação com o império romano. Zaqueu, certamente, era odiado por todos, tido com traidor e pecador, resumindo: o pior tipo do lugar. Lembrando que os cobradores de impostos eram quase sempre judeus, assim, eram odiados pelos próprios irmãos de pátria.

            Lucas retrata o desejo de Zaqueu e sua forma de agir. Ele queria ver “quem era Jesus” (no original está: “quem é Jesus”). Certamente as notícias sobre a chegada de Cristo na cidade tinham atirado a curiosidade de toda Jericó. Zaqueu deve ter ouvido histórias, pregações e milagres realizados por Jesus e tudo isto lhe chamou atenção. O evangelista dá a entender que ele tinha tentado e “não conseguia [ver Jesus] por causa da multidão”. Ele não tinha espaço no meio dos amigos que cercavam Jesus, sua estatura impedia que ele sequer enxergasse algo de Jesus (era como o cego a beira do caminho que Jesus encontrou antes de chegar em Jericó).

Zaqueu toma uma decisão surpreendente: ele corre à frente de todos e sobe em uma árvore para “ver Jesus”, pois Ele iria passar por ali. Um rico homem da sociedade e com uma profissão de alta estima, agora estava trepado em uma árvore como uma criança. Jesus estava passando pela cidade, estava passando por aquele lugar, era necessário fazer algo, mesmo que ele se expusesse ao ridículo.

“Quando Jesus chegou naquele lugar” onde o rico cobrador de impostos no meio das folhas da árvore estava, Ele vê Zaqueu, longe da multidão, quase que escondido no meio do sicômoro. Naquele momento inicia um encontro que Jesus não realizou com ninguém dentro de Jericó. Zaqueu queria ver, mas ele é que foi visto por Jesus. Queria conhecer Jesus, mas é Nosso Senhor que demonstra conhecer Zaqueu. Desejava matar sua curiosidade sobre o Mestre de Nazaré, mas é Jesus que demonstra ser íntimo do cobrador de impostos.

            Jesus não escolheu alguém ao acaso: conhecia e o chama pelo nome. Sabia de quem se tratava bem como toda sua fama e pecados que o publicano trazia consigo. Zaqueu era pequeno em estatura, mas sua fama era grande na cidade. Significativa é a expressão narrada por Lucas: “Jesus levantou seus olhos”. Interessante que a cidade de Jericó situasse na parte mais baixa de Israel (240 metros abaixo do nível do mar) e Jesus encontra-se naquele momento mais baixo que o pior sujeito da cidade: é a misericórdia de Deus que desce ao nível mais baixo para de lá atingir a todos.

Zaqueu é chamado pelo seu nome próprio. A cidade o conhecia como os piores adjetivos (traidor, pecador, impuro, ladrão…), Jesus o conhece pelo seu nome. A frase que o chefe dos cobradores de impostos escuta surpreendeu a todos: “Desce depressa: hoje preciso ficar em tua casa!” Zaqueu faz tudo correndo e Jesus convida a “descer depressa” (com urgência!), pois há um encontro que Jesus deseja realizar com ele.

Inúmeros defeitos e pecados, Zaqueu carregava consigo, ele não possuía nenhuma qualidade aos olhos do povo para ser o mais digno de se encontrar com Cristo, muito menos hospedá-Lo, mas Jesus não viu desse modo. Intrigante: Nosso Senhor não colocou nenhuma condição ou fez alguma exigência para aquele encontro; Jesus não pediu a Zaqueu para realizar algo de bom, antes Dele ir se hospedar em sua casa; Cristo não exigiu sacrifícios, reconciliação antecipada ou penitência… Jesus simplesmente ordena para “descer depressa” (naquele momento) e acolhê-Lo hoje (por aquele dia) em sua casa.

Tudo inicia com um desejo de Zaqueu de ver Nosso Senhor, mas Jesus mostra que havia algo mais profundo, pois também deseja se encontrar com ele: um encontro, dentro de sua casa, ser hospedado por um pecador público. Quantas barreiras nós costumamos colocar entre nós e os outros; quantos rótulos negativos nós colocamos nas pessoas, principalmente naquelas que estão no pecado e longe de Deus. Para Jesus, basta desejar vê-Lo que tudo se transforme em encontro.

Zaqueu desceu depressa e acolheu Jesus com euforia. Dentro da casa, aconteceu um encontro alegre entre o pecador e o Salvador. Lucas nos diz que aqueles que ficaram do lado fora “murmuravam” contra Jesus. Para aquelas pessoas excluídas do encontro, na cidade existiam homens mais dignos e santos onde Cristo poderiam se hospedar, mas Ele foi se hospedar na casa de um pecador. Aqueles que estavam ao redor de Jesus se mostram tão pecadores quando o pior sujeito de Jericó e parece que não queriam mudar de vida (podemos imaginar que até os discípulos estavam no bolo também). A grandeza da misericórdia de Deus se transforma em escândalo para todos que estavam com Jesus.

            Deus possui uma misericórdia e uma compaixão sem limites e que busca o bem de todos, isto nos diz o autor da primeira leitura. Um Deus que não deseja nada de ruim pra ninguém e quer o bem de toda criatura que Ele mesmo criou.

Jesus na casa de Zaqueu prossegue seu encontro em torno de uma mesa. Toma refeição com ele, sinal de comunhão e intimidade. Nada sabemos do que eles conversaram, Lucas nos conta o final daquela acolhida. Zaqueu “se levanta” (pois estava sentado com Jesus) e apresenta seu novo projeto de vida. Era muito rico, mas tinha percebido que a riqueza maior era Jesus. Possivelmente, os pobres não faziam parte de sua vida, no encontro com Cristo, ele se lembra dos pobres e comunica que iria dar metade de sua riqueza a eles. Diante de seus pecados na profissão, manifesta que irá dar quatro vezes mais a quem ele tivesse defraudado.

            O encontro e a conversão diante de Jesus abriram os olhos não somente diante dos pecados (roubo ou fraude), mas também dos mais pobres e necessitados. De fato, o caminho mais curto para chegarmos a Deus e a caridade para o próximo.

Jesus finaliza falando a multidão que somente sabia se colocar entre Jesus e os mais necessitados e só sabia murmurava: “Hoje veio a salvação a esta casa”. Primeiro o encontro, a comunhão da mesa, depois a resposta, a reconciliação e a partilha com os mais necessitados. Precisamos ajudar as pessoas a se encontrarem com Jesus, pois Ele deseja que “depressa” O acolhamos em nossas “casas” (nosso coração e nossa vida). A experiência do amor de Deus abre os olhos, ajuda refazer o passado, mas principalmente a projetar nosso futuro. Todos somos pecadores e estamos perdidos, cabe a cada um escolher ser: ou multidão que não experimenta Jesus e impede outros de experimentá-Lo ou pessoas prontas a acolhê-Lo em suas casas.

Faça o download da reflexão em PDF