#Reflexão: 33º domingo do Tempo Comum (19 de novembro)
A Igreja celebra o 33º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (19). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Pr 31,10-13.19-20.30-31
Salmo: 127(128),1-2.3.4-5ab (R. cf. 1a)
2ª Leitura:1Ts 5,1-6 ou mais breve 25,14-15.19-21
Evangelho: Mt 25,14-30
“Muito bem, servo bom e fiel”
Estamos terminando o Ano Litúrgico da Igreja. Tempo oportuno para fazermos um balanço de como estamos caminhando como discípulos de Jesus e irmãos e irmãs uns dos outros. Um dia estaremos diante de Deus Pai e teremos que apresentar a Ele o que fizemos com os dons que recebemos.
Usando a imagem de uma mulher virtuosa, o livro dos Provérbios (1ª leitura) procura traçar o perfil de como devemos conduzir nossa vida: deve ser semelhante a uma esposa que se ocupa com carinho e dedicação dos afazeres de sua família, mas também se preocupa em ajudar os mais pobres e indigentes; o autor bíblico nos lembra que a nossa história depende em parte de nós, de nossas prioridades e de nossas escolhas.
Por isso – como nos exorta Paulo na segunda leitura – devemos viver uma vida como filhos da luz, sem medo de nada e de ninguém, pois caminhamos para Deus e Ele nos espera após nossa existência neste mundo. O mais importante para nós não são os detalhes do “fim dos dias” deste mundo e como será o final de nossa história, mas se vivemos uma vida de encontros com Deus e com os irmãos na oração e na caridade, para um dia celebrarmos o encontro pleno e eterno com Deus nosso Pai.
Mateus no Evangelho nos chama atenção que o dia de nosso encontro com Deus poderá ser de alegria ou de juízo negativo e tudo dependerá de como conduzimos nossa vida. Jesus na parábola deste domingo procura demonstrar, no entanto, que o nosso próprio Deus é o primeiro a nos ajudar a construir a nossa salvação. Como em outros ensinamentos, esta parábola também nos dá pistas importantes para a nossa cristã.
O homem que “parte em viagem” na parábola é chamado de “senhor” tem todas as características que se trata de Jesus que após sua ressurreição confia “todos os seus bens” aos seus servos. Tudo o que possui é confiado aos seus servos, trata-se assim, de algo precioso e grandioso que simplesmente é dado àqueles que estão em sua casa. A relação entre eles é desigual: Senhor e servos, mas a confiança é plena por parte do Senhor o que torna todos co-responsáveis em relação ao bem maior doado. Tal senhor da história de Jesus não confia seus bens a banqueiros ou comerciantes (gente que mexe com dinheiro), mas a servos como um pai confia seus bens aos seus filhos. Assim, o senhor trata seus servos com se fossem seus filhos.
O Senhor da parábola confia cegamente em seus servos e doa sem dar nenhuma indicação de sua maior riqueza e cada um recebe segundo sua capacidade. O talento doado é proporcional à capacidade que cada um pode produzir e fazer frutificar, assim, o dom grandioso não é um peso, mas um bem precioso confiado pelo Senhor. Cada um já possui qualidades e dons pessoais e por isso, recebe os talentos sob medida e capacidade.
“Talento” era uma medida que corresponderia a uma grande soma de valor ou a 6.000 dias de trabalho (a paga por um dia de trabalho era de um denário), a soma de um só talento correspondia na época a mais de 16 anos de dias trabalhados, uma grande soma de dinheiro. Assim, o operário que recebeu cinco talentos ganhou o que levaria uma vida de trabalho, mas o terceiro que recebeu um somente, da mesma forma, não recebeu pouco.
Diz Jesus que o primeiro servo tão logo recebeu a imensa soma de dinheiro, imediatamente procurou trabalhar para fazer multiplicar o que lhe tinha sido dado. Entendeu que era algo não para usurpar ou desfrutar para si, mas algo que deveria multiplicar. O segundo que recebeu dois talentos, segundo sua capacidade, fez o mesmo.
O que seria “talento” segundo Jesus na parábola? Não se trata de capacidades pessoais, pois isto cada um já possui, mas de algo como uma “grande riqueza” que é dado por Jesus. O maior dom deixado por Jesus é o Espírito Santo e do seu Reino que nos são confiados através do Batismo. Somos chamados a multiplicá-los!
Aos dois primeiros servos que prestaram contas do que conseguiram fazer frutificar com os talentos que receberam, eles escutam a mesma resposta do seu Senhor: “servo bom e fiel”. Com a mesma fidelidade o Senhor tinha doado seus talentos, os dois souberam cuidar e multiplicar o que receberam, demonstraram assim serem fiéis e servos bons, por isso receberam muito mais. Chama-nos atenção que os dois primeiros produziram muito, mas quantias diferentes e receberam o mesmo elogio. Para Deus não importa a quantidade, mas sim o esforço de produzir e multiplicar o que cada um recebeu, mesmo que o resultado seja diferente, serão elogiados igualmente.
Mas, a atenção da parábola recai de modo especial sobre o terceiro servo que recebeu também uma soma significativa simbolizada em um talento. A relação que ele possui com seu Senhor é baseada no medo e na desconfiança; acredita que seu Senhor é infiel, injusto e até preguiçoso, pois recolhe onde não semeia. O terceiro servo não entendeu a relação de amor e confiança de seu senhor ao lhe confiar parte de sua riqueza, mas demonstra ser um servo malvado e infiel. Sua atitude de “enterrar o talento” revela sua indiferença para com o dom doado pelo seu Senhor e ao dizer que tem medo, demonstra não conhecê-lo e se revela distante e desinteressado pelas coisas de seu Senhor.
O medo faz com que o operário veja o talento como uma maldição e não um dom, algo que atrairá coisas ruins e o bloqueia em relação ao seu Senhor que ele vê como um simples patrão. Os dois primeiros ao receberem os talentos constroem uma relação de responsabilidade com os dons doados e por isso, correm para fazer frutificar; já o terceiro servo vê o talento como algo exclusivo do seu patrão.
O Reino de Deus (talento) é baseado, sobretudo, na confiança que inicia por parte de Deus que dá dons preciosos muito acima daquilo que merecemos ou poderíamos conquistar sozinhos. Ele dá aquilo que lhe é próprio e exclusivo, e nos dá para o nosso bem, pois ao multiplicar o que nos é dado, o prêmio que se recebe é muito maior conforme diz o senhor na parábola: “foste fiel no pouco, recebe muito mais da alegria do seu Senhor”. A parábola não segue a lógica do mundo que paga segundo um valor de mercado.
O terceiro operário possuía uma imagem distorcida em relação ao seu patrão que também lhe dá uma grande soma. O operário infiel vê maldade em tudo e em todos até no seu Senhor. O Patrão na parábola é extremamente generoso e gratifica de uma forma mais exagerada ainda, não é de nenhuma forma do jeito que o servo malvado julgava que ele fosse. Tudo indica que o terceiro operário é que se enquadra na descrição que ele projeta em seu senhor; não é somente o medo que o coloca distante do seu patrão, mas também a maldade em seu coração.
No final da parábola, o servo infiel é punido. O que ele tinha foi-lhe retirado e depois restou somente o vazio do seu egoísmo e de suas maldades. Os talentos, assim, são dons que nos ajudam em nossa salvação. Multiplicando aquilo que recebemos generosamente de Deus, construímos nosso próprio futuro junto com Deus.
O prêmio maior que os dois primeiros servos receberam é “participar da alegria do Senhor”, assim a prática de fazer multiplicar os talentos nos prepara para uma recompensa muito maior que é ser feliz na casa do Senhor. Os dois servos souberam administrar o tempo que tinham para fazer multiplicar os talentos doados. O terceiro servo usa do seu tempo para projetos próprios e não se preocupou em fazer nada com o talento de Deus.