#Reflexão: 3º domingo da Quaresma (12 de março)

8 de março de 2023

A Igreja celebra o 3º domingo do Tempo Quaresmal neste domingo (12). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Ex 17,3-7

Salmo: 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
2ª Leitura: Rm 5,1-2.5-8
Evangelho: Jo 4,5-42 ou mais breve 4,5-15.19b-26.39a.40-42

Acesse aqui as leituras.

ENCONTRO COM A SAMARITANA

A história do encontro de Jesus com a samaritana não possui nenhum milagre, nem algo fantástico ou surpreendente, Jesus é descrito como alguém que está sozinho e cansado, por isso se mostra como alguém necessitado de água: elemento essencial para a vida. Não há grandeza e nem esplendor, mas tão somente alguém que necessita matar sua sede. No deserto (1º domingo da Quaresma), Ele teve fome; agora, tem sede.

Foi exatamente nesta situação tão singular que aconteceu algo grandioso para uma mulher. Jesus não possui nenhum preconceito contra nenhum tipo de pessoa, pois  somos  filhos e filhas de Deus.

O local e a região eram conhecidos de todos, inclusive pela profunda inimizade que reinava entre os judeus e os samaritanos. Mas, lá também havia o poço de Jacó, personagem este que – de qualquer modo – unia a todos em um único passado. Muitas histórias de amor na Bíblia tiveram início ao lado de um poço. João evangelista, nos diz que era “meio-dia”, hora da plena luz quando Jesus se colocou ao lado do poço e uma mulher resolveu tirar água, justamente naquele horário, um momento nada adequado, por isso, ninguém estava no local e ela estava sozinha. Aquela mulher tinha escolhido aquele horário para não se encontrar com ninguém, pois se sentia rejeitada e discriminada por todos. Em nossa realidade atual, muitos grupos, inclusive de religiosos, fazem questão de eleger os “escolhidos” e “prediletos” de Deus, bem como aqueles que são colocados como “perdidos” e “condenados” por Deus, Jesus encontrava com uma pessoa colocada como desprezível pelos religiosos da época.

Jesus, vendo a mulher se aproximar, lhe pediu um pouco de água. Ele poderia resolver sozinho seu problema, mas era oportuno que solicitasse água para a samaritana, pois este seria o início de sua transformação. Jesus que é rico e sempre fez de tudo para os outros se mostrou necessitado e pediu algo que aquela mulher poderia conceder (ninguém nega um pouco de água a um necessitado).

A primeira reação da samaritana foi de espanto, pois ela sabia que Jesus não era um samaritano e ademais, ela era uma mulher e Jesus um homem. Ela não recusou, mas se espantou pela solicitação que vinha de alguém (um judeu) que jamais faria isso. O primeiro nível de relacionamento que ela lembra é do preconceito e da discriminação. Ela tinha sempre experimentado somente o negativo no relacionamento com as pessoas. Jesus não entrou neste jogo e nem rebateu suas observações, mas lhe ofereceu o essencial: “se conhecesses o dom de Deus…”, esse é totalmente contrário aos muros e aos obstáculos que as pessoas erguiam e erguem para isolar e discriminar outras pessoas.

Jesus iniciou um diálogo, procurando mostrar algo mais profundo e fundamental: tudo iniciou com “pouco de água” para matar a sede e Jesus lhe propôs de conhecer o dom de Deus que concede “água viva”. Entrando na conversa, a mulher questionou Jesus, chamando-o de “senhor” (sinal de respeito) e entrou no campo religioso, questionando se Ele era maior que “nosso pai Jacó”. Ela se mostrou uma pessoa religiosa que conhecia as Escrituras, mas ainda se revelou fixa a algo exclusivo e material.

Jacó deixou um poço que podia dar uma água que somente matava a sede do corpo; mas Jesus foi e é aquele que pode inundar toda a pessoa com uma água de “vida eterna”. A água do poço saciava uma necessidade física e pessoal; mas a água de Jesus transforma o discípulo em fonte de água viva para outras pessoas.

A samaritana viu uma solução para parte de seus problemas: não teria mais sede e nem viria até aquele lugar ao meio dia, horário de sol escaldante. Jesus trouxe a questão para a principal fonte de seus problemas: sua vida familiar. Ao pedir para que ela chamasse seu marido, Jesus tocou o campo pessoal e ela simplesmente poderia ter dado várias respostas, mas resolveu ser sincera: ela já estava no sexto casamento. Naquele tempo, somente o homem é que pedia divórcio e assim, repudiava sua mulher, a Samaritana estava no sexto marido. Talvez ela tivesse ficado viúva, ou teria sido repudiada por todos os cinco e o atual não a tinha ainda efetivamente como sua mulher. Essa história era conhecida de todos e ela tinha escolhido pegar água no poço para não ter que enfrentar a discriminação de seu povo. Uma história pessoal de rejeição e abandono, mas Jesus lhe ofereceu a solução.

Na Bíblia, o número seis está ligado à imperfeição e o sete é o número que completa tudo. Jesus se apresenta com o verdadeiro marido (o sétimo), mas não como os outros como da mesma forma que a água viva e eterna não era aquela do poço. A samaritana ao ouvir parte de sua história com os maridos, reconheceu Jesus como um profeta. E Jesus não lhe fez nenhum sermão ou exigência, muito menos qualquer discurso moralista ou de ameaça.

A samaritana, após reconhecer Jesus como um profeta, lhe apresentou outro drama que todos viviam: o local de adoração. Os samaritanos não tinham mais o templo no alto do monte Garizim e não podiam jamais adorar em Jerusalém. A pergunta da mulher sobre o local de adoração revelou uma necessidade de adorar a Deus e Jesus aprofundou mais uma vez a questão, mostrando que o primeiro e o principal local de adoração é em Espírito e Verdade. Deus Pai quer seus filhos e filhas em uma vida de pleno amor (Espírito) e de testemunho (Verdade).

A samaritana deu mais um passo em relação ao conhecimento de Jesus e Lhe apresentou a questão do Messias e Jesus, sem nenhum rodeio, lhe disse que era Ele. A samaritana, com a chegada dos discípulos abandonou seu jarro e retornou à cidade. Até aquele momento, a água do poço era o mais importante. Jesus tinha dito que a sua água transformaria todos em fonte de água viva, assim, ela convocou e disse a todos o que aconteceu. A sua fraqueza e sofrimentos (sua realidade pessoal com os maridos) se transformaram em motivos para o início de seu anúncio. Ela anunciou a partir de sua experiência pessoal e profunda com Jesus, revelando-O como o Messias esperado por todos.

Aquela mulher vivia fugindo das pessoas e a sua experiência profunda com Jesus lhe deu coragem e firmeza em suas palavras, de tal forma que muitos samaritanos passaram a acreditar em Cristo por causa de suas palavras. Eles mesmos confirmaram pessoalmente tudo que ela tinha narrado e também se tornaram em novas fontes de água viva. Este é o principal instrumento hoje da Evangelização: pessoas inundadas do amor de Deus que testemunham a partir de suas vidas.

Deus sempre faz de tudo para nos dar o que realmente precisamos. Na primeira leitura, o povo mais uma vez se mostrou ingrato para com Deus e sempre reclamando pelas coisas que faltavam. O relacionamento para com Deus foi se tornando seco e árido. Aquela gente, mesmo bebendo água que saia da rocha não se deixava inundar pela plena confiança em Deus. O grande problema não eram as dificuldades encontradas no deserto, mas a falta de confiança e fé do povo. Deus sempre fará de tudo para nos ajudar a enfrentar os desafios de nossa jornada neste mundo, basta confiar Nele. Os desafios permanecerão e serão sempre corriqueiros, mas a forma de enfrentá-los, será diferente: será com Deus! Deus sempre fará o máximo por nós, até mesmo tirar água de pedra, mas é fundamental acreditar e confiar!

Paulo lembra do imenso amor de Deus por nós até ao ponto de dar sua vida por todos. Ele já provou que não somente é capaz de fazer jorrar água de pedra, mas derramou o seu próprio sangue para nos libertar do principal desafio para a humanidade que era o pecado. Quando o coração se transforma em pedra, é difícil fazer milagres, por isto é necessário se deixar tocar por Jesus que se coloca ao nosso lado, não para nos incriminar em relação aos nossos erros e  pecados, mas para nos ajudar a experimentar da verdadeira água viva que jorra do coração de Deus e consequentemente, deve jorrar de nossos corações e de todos que estão ao nosso lado.

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