#Reflexão: 3º domingo do Advento (11 de dezembro)
A Igreja celebra, no dia 11, o 3º domingo do Advento. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Is 35,1-6a.10
Salmo: 145(146),7.8-9a.9bc-lO (R. cf. Is 35,4)
2ª Leitura: Tg 5,7-10
Evangelho: Mt 11,2-11
A BELA SURPRESA DE DEUS PARA NÓS
O Natal é a realização da promessa de Deus para a humanidade, mas de qual promessa estamos falando? As leituras deste 3° domingo do Advento nos ajudam a aprofundar aquilo que Deus prometeu realizar com a vinda de Jesus em nosso meio.
Na primeira leitura, nós temos, nas palavras de Isaías, o anúncio de um tempo novo e uma realidade nova neste mundo. Para expressar esta mudança, o profeta usa de imagens de algumas realidades extremas que serão transformadas: deserto vai florir com alegria e se transformará em júbilo. Mas, a principal novidade acontecerá na realidade humana: Os fracos serão fortificados, os desanimados reencontrarão alegria, Ele mesmo (nosso Deus) virá nos salvar. Será um tempo de liberdade e felicidades para aqueles que reencontrarem o caminho de Deus. Vai acontecer, enfim, o “tempo de vingança”, não contra pessoas, mas de tudo que provoca o mal e a tristeza entre nós.
O profeta Isaías pontua que a principal transformação será na realidade que marca a vida das pessoas. O Messias será aquele que vai resgatar o homem de tudo que produz sofrimento e distancia todos de Deus. Infelizmente, a mentalidade que se desenvolveu ao redor da esperança em relação ao Messias concentrou-se sobre mudanças estruturais, políticas e sociais. O Salvador, para muitos em Israel, seria mais um rei como foi o rei Davi. Mas, Deus surpreendeu a todos ao decidir realizar suas promessas em Jesus.
No Evangelho de Mateus encontramos novamente João Batista, mas desta vez, ele estava na prisão. Herodes gostava ouvi-lo, mas João não poupou suas palavras em denunciar seus pecados, por isto, o Batista foi parar na prisão. Não teve uma morte imediata, pois o governador romano temia a reação das multidões. De dentro da prisão, João teve liberdade de receber visitas e ficou sabendo das “obras de Jesus”. Aquilo que lhe foi contado deixou-o pensativo e cheio de dúvida.
Nós sabemos que a ligação entre Jesus e João era muito grande, pois, desde criança, suas vidas foram interligadas principalmente pelo laço de parentesco entre seus pais. Os dois certamente se encontraram com frequência na infância e na adolescência, mas em certo momento da vida, cada um seguiu seu caminho.
João tinha uma ideia clara sobre sua missão e também “daquele que deveria vir” (Messias), mas Jesus não se enquadrava em seus esquemas. O Batista pregava um tempo de austeridade e rigor na observância dos princípios fundamentais da fé judaica. Para ele, a missão do Messias seria de separar os pecadores dos justos, os observantes da verdadeira religião, daqueles que não se preocupavam em praticar os princípios da lei. Mas, Jesus não estava fazendo isto. Pelo contrário, as atitudes de Jesus não se enquadravam na ideia que João tinha do Messias.
Discípulos são enviados para perguntar a Jesus sobre quem Ele se considerava. Para João, o modo de vida de Jesus despertava mais dúvidas do que certezas, pois aparentemente Ele estava fazendo tudo ao contrário. Jesus desde o início pregou o perdão dos pecados e não a penitência; um Deus da misericórdia e não da vingança; um tempo de igualdade e não de privilegiar os justos. Jesus convivia com os pecadores, com os publicanos e outras pessoas de má fama (como certas mulheres) e pouco falava sobre o Templo, bem como criticava certas tradições. Jesus foi uma grande surpresa também para João Batista!
Jesus rompeu todas ideias que existiam sobre o Messias, mas foi uma “feliz surpresa” de algo que ia muito além dos esquemas pensados por todos. Tudo isto questionou João se tudo o que ele mesmo tinha realizado estava na direção certa, conforme vemos na própria pergunta dos discípulos.
O Natal é o primeiro momento em nossa caminhada de fé em que somos chamados a entrar no esquema de Deus e abandonar certas certezas pessoais. O Natal nos desnuda de nossas falsas seguranças e nos propõe a simplicidade do presépio e da manjedoura. O centro é a pessoa de Jesus, como para Ele, foi cada pessoa que Ele encontrou em Sua vida.
Diante da pergunta dos discípulos de João, Jesus propõe um caminho que devemos seguir sempre: analisar os sinais ao nosso redor. Nosso Deus não realiza sua vontade de uma forma obscura e distante de nós, mas sim através de sinais e indícios que somos convidados a perceber. Nosso Senhor convida os discípulos para “ouvir”, “ver” e depois “anunciar” a João aquilo que Ele estava realizando: pessoas estavam sendo resgatadas de suas tristezas e libertadas de seus sofrimentos, a vida estava sendo revalorizada exatamente para aqueles que eram já considerados sem esperança: cegos, paralíticos, leprosos, surdos etc. O mundo novo prometido pelas Escrituras estava sim acontecendo ao redor de todos, não nas estruturas sociais e religiosas, mas nos corações e na vida das pessoas.
Jesus provocou uma crise não nas promessas divinas, mas nos “esquemas pessoais” que todos possuíam inclusive em João Batista. O Natal possui este encanto de nos convidar para a simplicidade, a humildade e para as pequenas coisas da vida, lá onde o Reino de Deus possui sua força e dinâmica salvadora.
Após a partida dos discípulos do Batista, Jesus continua aprofundando a questão, mas desta vez, usa a própria figura conhecida de João Batista. Jesus foi questionado, agora Ele questiona quem é João: “Quem vocês foram ver?” Jesus parte daquilo que todos viam em João (alguém simples e frágil como uma cana, com roupas humildes, em um lugar sem riquezas) para lembrar a todos da força que o Batista representava dentro do projeto de Deus: ele era somente o predecessor do Messias. O Esperado por todos (Jesus), na realidade, não rompeu este caminho, mas ampliou para todas as pessoas.
Deus tem essa força de transformar aquilo que é simples e aparentemente fraco em fonte de graça para seu povo. João é o maior dos profetas do AT, pois teve a missão de preparar a chegada do Messias, mas com a vinda de Jesus, todos agora podem usufruir perenemente desta fonte, basta saber observar e perceber os sinais de Deus ao nosso redor, para isto é preciso abandonar os nossos esquemas e entrar na lógica de Deus.
Tiago na segunda leitura nos convida a perseverar na esperança e também estar atentos aos sinais de Deus, pois Ele está sempre próximo de nós, sempre vem ao nosso encontro através das pessoas e um dia se manifestará novamente com toda sua glória. O cristão atento é chamado a viver sempre nesta expectativa diária e constante do encontro com o Senhor: nas coisas simples, em cada irmão e irmã e um dia em sua Glória.