#Reflexão: 3º Domingo do Advento (15 de dezembro)
A Igreja celebra o 3º domingo do Advento, neste domingo (15). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Sf 3,14-18a
Salmo: Is 12,2-3.4bcd.5-6 (R. 6)
2ª Leitura: Fl 4,4-7
Evangelho: Lc 3,10-18
CONVERSÃO, OBRAS DE JUSTIÇA E CARIDADE
O Natal que estamos para celebrar traz sempre consigo uma atmosfera de alegria e paz. Mesmo vivendo um tempo com tanto barulho, insegurança e diversos temores, o Natal nos convida a nos alegrarmos, pois Deus se fez e continua a se fazer presente em nossa história. No Natal recordamos que Deus se reveste de uma realidade que nós não estamos acostumados a perceber. A misericórdia de Deus o conduziu até a nossa miséria, não em sua grandeza e onipotência, mas em uma criança. Nos deparamos com uma cena que nos espanta, pois Aquele que é tudo quis se aproximar de nós com quase nada (o que há de grande no presépio onde Jesus nasceu?). Um filho é a imagem daquilo que temos de mais belo e humano. Deus escolheu fazer parte de nossa realidade, dentro de nossa história e vida humana.
O modo de Deus agir, sempre vai além, nos surpreende continuamente, rompe o nosso esquema e o nosso modo limitado e mesquinho de ver o mundo, os outros e nós mesmos. Deus não “se contentou” em nos amar e nos perdoar, Ele quis ir além. Misericórdia em Deus é abraçar e envolver o pecador para fazê-lo sentir o Seu coração bater próximo do coração de cada pessoa.
Na primeira leitura temos a Palavra de Deus expressa com termos que nos dão a ideia de um Deus que está em festa e em plena alegria: “Solta gritos de alegria!”, “Solta gritos de júbilo!”, “Alegra-te e rejubila-te!”, “transporta alegria por ti!, “exulta de alegria a teu respeito!”. Não obstante os temores pelos quais o povo passava (em terra estrangeira e escravo), Deus usa palavras de esperança e encorajamento: “O Senhor revogou tua sentença”, “afastou teu inimigo”, “não temas!” e, por duas vezes enfatiza: “O Senhor está no meio de ti!” São palavras que descrevem nosso Deus como que envolvendo, protegendo e carregando o seu povo em seus braços.
Neste terceiro domingo do Advento, também chamado de “Domingo da Alegria” (Gaudete), as duas leituras falam de alegria e louvor a Deus, mas a carta de São Paulo aos Filipenses chama atenção, pois foi escrita quando o autor estava na prisão e mesmo próximo de uma execução, Paulo nos convida ao louvor e a celebrar com alegria em todos os momentos de nossa vida: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças”.
No Evangelho de Lucas temos a figura de João Batista. Ele pregava longe da cidade e do Templo, mas multidões iam ouvi-lo no deserto, muitos procuravam mudar de vida e questionam João. Eram pessoas que não frequentavam o templo, pessoas comuns, publicanos (cobradores de impostos) e soldados. Eles vão até aquele homem do deserto com uma única pergunta que não estava ligada a teologia e nem a doutrina, mas que vai diretamente ao coração da vida: o que devemos fazer? Porque a vida não pode ser só trabalhar, comer, dormir e depois voltar a trabalhar (Ermes Ronchi).
As palavras do precursor Batista eram fortes e decisivas contra aqueles que, mesmo estando em pecado, não queriam abandonar o pecado. Mas muitos procuravam saber o que era necessário realizar em suas vidas para abandonar o pecado. A pregação de João Batista tocava e questionava a todos. O evangelista Lucas menciona três grupos de pessoas que perguntam a João o que deveriam fazer.
Ao povo, João Batista reforça a necessidade da caridade. Não ordena que multiplicassem orações e realizassem exercícios extremos de penitência, mas que deveriam pensar no próximo. Naquela época, o povo possuía, praticamente, o extremo necessário, mas havia muitos que estavam desprovidos até do mínimo para ter dignidade (roupa) e para a sobrevivência (se alimentar). João conhecia bem o povo simples que o escutava, por isto, não pede gestos extremos, mas a partilha. Ele não aconselhou que deveriam dar a roupa que possuíam, mas somente quem possuía duas roupas (túnicas), ele que nem sequer tinha roupas (usava peles de camelo). Quem tinha um pouco mais, foi chamado a partilhar pensando não naquilo que iria perder (a segunda túnica), mas naquela pessoa que nada possuía. O mesmo sugere sobre o alimento: pensar naquele que não tinha nem o necessário para sobreviver, lembrando que João Batista se alimentava de quase nada (mel e gafanhotos).
Os publicanos eram responsáveis em cobrar os impostos e taxas. Quem assumia este trabalho, deveria cobrar das pessoas os valores devidos e repassar aos romanos. O conselho que João Batista dá aos cobradores de impostos nos leva a entender que muitos exploravam e extorquiam muito além do justo valor, por isto, afirma João que o caminho era ser justo e não fazer nada além daquilo que tinha sido combinado.
Os soldados tinham a função de manter a ordem, mas muitos aproveitavam do poder que possuíam e maltratavam e defraudavam as pessoas. Um típico caso de abuso de poder. João, novamente, insiste que deveriam cumprir o dever de forma honesta e correta, bem como, se contentar com o salário devido.
Em todos os casos, João Batista não aconselha as pessoas a abandonarem seus serviços, mas a serem um sinal de justiça e honestidade. De fato, em todos os ambientes que hoje identificamos como de “pecadores”, precisamos de pessoas que testemunhem aquilo que é justo e correto. O mundo somente irá mudar quando os bons e justos começarem a testemunha decisivamente onde vivem, os valores do Evangelho de Jesus.
Paulo espera que os membros da sua comunidade sejam conhecidos pela bondade que cada um deve mostrar para as pessoas. É o que João Batista aconselha as pessoas: que a caridade seja a luz na vida daqueles que têm fé e que esta luz brilhe neste mundo onde nós nos encontrarmos.
Lucas no Evangelho deste domingo completa dizendo que, o modo como João Batista conduzia sua missão era algo tão diferente e inovador que as pessoas começaram a pensar que talvez ele fosse o Messias. João não tinha medo de anunciar a Boa Notícia da vinda do Messias, de pregar a penitência como caminho de preparação para a chegada do Salvador, mas ele também tinha palavras contra os tiranos e injustos de seu tempo. Por isto, a multidão acreditava que ele talvez fosse o Messias esperado por todos.
João não é um relaxado ou liberal, pois não cobra práticas religiosas rigorosas, mas procura mostrar que para sermos especiais aos olhos de Deus precisamos começar dando um sentido diferente e especial para as coisas simples da vida, aquilo que realizamos diariamente, onde vivemos, trabalhamos, estudamos e com quem convivemos.
Muito belo é o gesto do Batista que se revela como alguém a serviço de Deus e que, em relação ao Messias, não era ninguém. Ele era somente a voz, Jesus é a Palavra. A voz desaparece, mas a Palavra de Deus permanece. Diante de Jesus, João Batista se coloca como alguém que não serve nem como um servo que arruma as sandálias do seu Mestre. Até seu batismo é limitado (de penitência), por isso é de água e precisa ser repetido, mas o Batismo de Jesus é único e definitivo como fogo que queima e deixa sua marca.