#Reflexão: 3º domingo do Advento (17 de dezembro)
A Igreja celebra o 3º domingo do advento, neste domingo (17). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Is 61,1-2a.10-11
Salmo: Lc 1,46-48.49-50.53-54 (R. Is 61,10b)
2ª Leitura: 1Ts 5,16-24
Evangelho: Jo 1,6-8.19-28
JOÃO BATISTA, VOZ E TESTEMUNHO DA LUZ
Estamos já próximos do Natal do Senhor e neste domingo nos deparamos, novamente, com João Batista e o seu testemunho de vida. Na primeira leitura, temos uma perfeita descrição do Messias que o povo de Deus do AT esperava. Estas duas figuras, de fato, representam muito bem o que deve significar para nós o Natal de Jesus.
Isaías descreve o Messias como alguém revestido do poder de Deus, mas tal poder será usado para promover vida e o bem entre as pessoas.
O ungido de Deus deverá oferecer aos mais necessitados, tudo aquilo que este mundo não pode dar: boa nova, cura, redenção e anúncio de liberdade, enfim, o consolo aos aflitos.
A salvação que será apresentada pelo Messias será como um compromisso de matrimônio e Deus fará justiça como brotos que nascem em uma planta. No entanto, olhando a vida de Jesus, tudo foi realizado do “modo de Deus” e seguindo o seu próprio esquema.
O quarto evangelista procura, já desde o início do seu escrito, esclarecer quem foi João Batista: ele veio para dar testemunho da luz. João evangelista deixa claro: João, a testemunha, foi “enviado por Deus” (a frente aparecerá outros enviados “da parte de Jerusalém”). A melhor forma de resumirmos a vida do precursor é em relação ao modo de vida e suas palavras. No quarto Evangelho, João não é jamais chamado de “Batista”, mas sim de “testemunha”. Ele mesmo dá testemunho através de sua vida e da sua missão, do tempo novo que estava para acontecer. Notemos a insistência do autor do quarto Evangelho em afirmar que João é “testemunha da luz”; depois, na 2a parte do texto Evangelho de hoje, João, ele mesmo, se apresenta como “voz”.
João, a testemunha, incomodou muito as pessoas em seu tempo. Jerusalém e o Templo Sagrado tinham recuperado o centro da vida dos judeus e a Cidade Santa, de fato, passou a ser o lugar privilegiado da experiência de Deus. O esplendor prometido pelos profetas tinha se concretizado nas belas celebrações e festas tradicionais. Os rituais de sacrifícios no altar do Templo atraiam fiéis de todas as partes e até de nações vizinhas.
No entanto, João, enviado por Deus, faz o processo contrário: ele atraia as pessoas para fora de Jerusalém, lá para o deserto e praticamente no lugar por onde o povo de Deus, no passado, tinha atravessado para entrar na “Terra Prometida”.
As palavras e principalmente o testemunho de João tinham se tornado mais forte que as festividades de Jerusalém e isto tudo passou a incomodar os sacerdotes da Cidade Santa. Assim, mandam uma comitiva para verificar e entender quem era João que atraia pessoas ao deserto. O evangelista faz questão de frisar: “os judeus enviam sacerdotes e levitas”. Eles não são enviados por Deus, mas por homens (os judeus). Os sacerdotes queriam saber que ligação ele tinha com as profecias sobre o Messias; os levitas eram também guardas do Templo, assim, dependendo do que eles averiguassem, João a testemunha, poderia ser preso.
A primeira questão (“Quem és tu?”) foi básica e geral, dando a chance do Precursor João se apresentar e falar quem ele pensava que era.
João vai direto ao assunto com sua resposta, pois já tinha percebido que eles queriam saber se ele, João, era o Messias. A resposta foi clara: “Eu não sou o Cristo!” “Cristo” em grego significa “ungido = messias”.
A forma “Eu sou” é empregada no 4o Evangelho somente para Jesus, aqui João Batista usa para negar a si mesmo como o Messias esperado. É o primeiro e significativo testemunho de João (“declarou sem restrição, declarou…”): negar que é o Messias.
Diante da negação categórica e principal do Batista, os enviados de Jerusalém perguntam se ele era Elias. Em torno deste profeta no AT tinha nascido uma lenda: como Elias foi conduzido ao céu em um redemoinho quando apareceu uma carruagem de fogo (2Rs 2,11), se acreditava que o profeta Elias iria retornar antes da manifestação do Messias esperado (cf. Ml 4,5). Mas, João, a testemunha, também nega tal título, pois o Precursor sabia que a esperança na volta do profeta Elias estava também ligada a mentalidade e a ideia de messianismo do Templo (um messias revolucionário e político).
Os enviados de Jerusalém perguntam se, pelo menos, João se considerava como um profeta. Os profetas do AT enviados de Deus sempre surpreenderam a todos pela originalidade de suas vidas e mensagens.
Mas, surpreendentemente, João não se sente enquadrado também como mais um profeta do AT. As três negações de João (“eu não sou”, “não sou” e “não”) deixaram os inquisidores sem saber o que perguntar, pois achavam que João estava se tornando famoso e teria “assumido” um destes títulos do AT.
Por fim, deixam em aberto e solicitam que o próprio João se apresente ou se revele a eles.
João ao responder aos enviados dos sacerdotes não se coloca como alguém especial ou usa imagens significativas. No texto do Evangelho, João responde: “Eu [ ] uma voz que grita no deserto…”, evita dizer “Eu Sou”. No Evangelho de João, nos primeiros versículos, o autor descreve Jesus como “Verbo de Deus”. Nosso Senhor é a Palavra que possui conteúdo e sua origem é do “interior”, do coração de Deus.
Assim, quando João se revela como “uma voz”, ele se apresenta como um simples instrumento, um meio para o Verbo chegar até as pessoas. A “voz” é algo passageiro, apenas é pronunciada, ela desaparece. O que permanece realmente é a mensagem (a Palavra).
João evangelista esclarece que entre os enviados de Jerusalém havia alguns fariseus. Este grupo era conhecido por suas tradições e rigorosidade em conduzir os costumes judaicos e entre eles, eram comuns os rituais de purificação (batismos). Esses emissários fariseus pedem esclarecimento sobre o Batismo que João realizava. Para eles, o precursor necessitava de alguma autoridade pessoal para realizar algo que eles, os fariseus, também realizavam.
João, novamente, se mostra como alguém diferente de tudo que eles imaginavam, sinal do tempo novo que estava para se iniciar com Jesus. Ele esclarece que eles sabiam muito bem sobre o batismo, mas nada sobre Aquele que estava por chegar. Se eles achavam que ele, João Batista era alguém importante, Jesus é alguém muito maior ainda. “Arrumar as sandálias”, de um lado, demonstra a simplicidade de João que nem se coloca como um servo, de outro lado, revela a grandeza do Messias Jesus.
Muito importante para nós este testemunho de João. Ele tem consciência que quem ele é, qual a sua missão e principalmente, sua importância em relação a Jesus. João, a testemunha, ele é algo passageiro, mas instrumento de Deus (voz); alguém que prepara a todos para aquele que vai permanecer em definitivo.
João Batista foi questionado porque apresentava Deus de um modo novo e diferente: com sua palavra e vida. O testemunho é o melhor instrumento para anunciar a Boa Nova deixada por Jesus.
O precursor João no deserto, com roupas de miserável e sem oferecer nada de mais belo e sublime, revelava uma grande presença de Deus para as pessoas. Neste ponto, João e Jesus são semelhantes na simplicidade, no estrito necessário, na força da palavra e do testemunho.
Uma religião cheia de ritos, solenidades e festas sem vida nova e sem testemunho, é uma religião vazia de Deus e cheia de vaidades humanas.
O Natal é um momento de nos confrontarmos com o que é essencial em nossas vidas. Paulo nos lembra na 2a leitura: “examinai tudo e ficai com o que é bom”. Deus decidiu vir a este mundo e ser um como nós em uma realidade onde nada de grande se apresenta, somente uma simples família com um filho recém-nascido. A simplicidade de João, o local onde se encontrava (deserto) e o anúncio de conversão foram as condições colocadas pelo precursor para todos se prepararem para acolher o Messias, condições também fundamentais para realmente nos prepararmos para celebrar o nascimento do Menino Jesus.