#Reflexão: 3º domingo do Tempo Comum (22 de janeiro)

17 de janeiro de 2023

A Igreja celebra, no dia 22, o 3º domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 8,23b-9,3

Salmo: 26(27),1.4.13-14 (R. 1a.1c)
2ª Leitura: 1Cor 1,10-13.17 ou mais breve 4,12-17
Evangelho: Mt 4,12-23

Acesse aqui as leituras.

JESUS, LUZ DO MUNDO, ESCOLHE SEUS OS DISCÍPULOS

Jesus, depois do Batismo de João e da consagração recebida de Deus Pai, inicia definitivamente a sua missão. Foi o momento de deixar para trás: terra, casa, familiares, parentes, amigos e partir sem nada do mundo e pleno de Deus. Mais do que motivações humanas e históricas, Jesus procurou responder ao chamado de Deus Pai, mesmo diante de sinais evidentes de perigo e desafios: João tinha sido preso. A perseguição e a prisão do precursor em nada alterou a resposta que Nosso Senhor deu ao chamado de Deus Pai, pois Jesus sabia que somente Dele e Nele (Deus Pai), Ele encontraria a força e as graças necessárias para a sua missão.

Livre de tudo e de todos, Jesus anuncia a Boa Nova do Reino, próximo de Cafarnaum, ao redor do lago de Genezaré. A Galileia não era uma região prestigiada e admirada pelos judeus, antes, era considera terra de pagãos mesmo ainda sendo território do povo de Deus. A cidade de Nazaré onde Jesus viveu não gozava de boa fama: “pode vir alguma coisa boa de Nazaré” (Jo 1,46). Os fariseus e judeus piedosos lá de Jerusalém na Judeia desprezavam ainda mais as terras de Zabulon e Neftali, pois eram consideradas “periferia” da terra de Israel, território de gente impura e pecadora. No passado, aquela região foi a primeira a cair nas mãos dos assírios que lá instalaram gente de outras nações com suas religiões. Isaías, na primeira leitura, lembra esse fato que para o profeta era ainda relativamente recente, mas o próprio profeta Isaías anuncia que, um dia, a esperança iria novamente brilhar naquela região, no meio daquele povo e nas ruas daquelas cidades.

Jesus decidiu iniciar sua missão naquela terra sem esperança, marginalizada por séculos e ultrajada pelos religiosos de Jerusalém. A luz anunciada por Isaías precisava iluminar lá onde as trevas e o desprezo humano eram mais fortes e onde a ausência de esperança era mais sentida.

O anúncio inicial de Jesus retoma a pregação de João Batista: “Fazei penitência, pois o reino dos céus está próximo”. Na terra marcada por conflitos e rejeição de tantos, de gente marginalizada e humilhada por uma história triste do passado, era necessário deixar tudo isto para trás e abraçar o “novo” da Boa Nova trazido por Jesus. A penitência foi o meio sugerido por Jesus como forma de abandono do peso do passado para reiniciar com nova esperança no anúncio trazido por Jesus. As trevas são somente vencidas com a claridade da luz, as sombras da morte somente com a luminosidade que Cristo, Vida Eterna, pode nos dar.

Na periferia de Israel, no meio daqueles que sofreram no passado a imposição de um forte reino, Jesus anuncia a vinda de um novo Reino não mais humano e terrível, mas o “Reino dos céus”. Os reis e os impérios costumam impor com a força e a espada a sua presença, não há liberdade e nem adesão, mas submissão; Jesus propõe a conversão e a penitência como meio de acesso. A Luz de Deus e o seu reino só podem existir em um coração livre e purificado das sombras do pecado. É um reino novo, sem limites e sem um território, sem definições étnicas e sem preconceito; um reino onde a arma principal são a fé e a esperança. Um tempo novo, um reino novo que acontece não em um lugar ou tempo, mas dentro de cada pessoa.

A missão era grande e Jesus sabia que deveria ser eternizada na história humana. Ele daria o pontapé inicial, mas tudo deveria continuar presente na realidade de todos os homens e mulheres. Segundo o evangelista Mateus, Jesus já no início de sua evangelização procurou definir o seu grupo de discípulos. Ele pessoalmente chamou cada um que livremente fez o que Ele propriamente já havia feito: eles deixaram tudo e todos para escolher viver ao lado do Mestre e Senhor Jesus.

O chamado foi feito a pescadores, irmãos e gente simples. Jesus vai ao encontro (caminha) e vê, é o modo novo do agir de Deus cheio de misericórdia. Os dois primeiros, Pedro e André, deixam o seu ofício e instrumentos de trabalho (barcos e redes) para seguir Jesus com uma nova promessa onde suas habilidades seriam remodeladas segundo a proposta do Reino dos Céus: passariam a ser pescadores de pessoas. Para isso, era necessário se colocar atrás do Mestre e reaprender a arte de pescar. A segunda dupla de irmãos, Tiago e João, também era de pescadores e os dois trabalhavam com seu pai; o anúncio foi semelhante e a resposta igual aquela de Pedro e André: deixaram as redes, as barcas e o pai. Eram mais jovens que os primeiros, tinham ainda o privilégio da presença e do exemplo do pai que trabalhava e normalmente ensinava o ofício aos filhos. O convite de Jesus foi, no entanto, mais forte e a resposta mais exigente ao ponto de deixarem para trás os sonhos da profissão, o convívio da família e até a presença do pai. Zebedeu tinha sido mestre de Tiago e João seus filhos, agora Jesus se apresenta como novo Mestre em uma nova missão.

O Reino de Deus se inicia com um duplo convite de Jesus: mudança interna (penitência e conversão) e atitudes externas (abandonar família para constituir nova família com novo Mestre). O primeiro pedido é algo que toca as convicções e os princípios; o segundo, redireciona as atitudes e a ação. Jesus não pediu àqueles homens algo impossível e difícil, mas convidou-os para colocarem seus dons (eram pescadores) a serviço do Reino de Deus (pescadores de pessoas); foram chamados a aprender a nova arte de viver um projeto novo não mais limitado a uma profissão, ao convívio familiar e a uma terra, mas sem limites e fronteiras. Deixam para trás a gostosa convivência familiar com os pais e a respeitada profissão de pescadores para responder ao chamado de Jesus. A missão era muito grande e desafiante que exigiu uma adesão total e tempo pleno.

Muito tinha que ser feito, muitos lugares eles deveriam percorrer, muitos ouvidos e corações precisavam receber o convite para participar deste novo Reino não mais humano e viciado de pecados, mas divino e eterno. Jesus percorreu aldeias, sinagogas, vilas e casas anunciando o início de um novo tempo de Luz na humanidade. Esta é a marca do Reino de Deus: ir ao encontro das pessoas, oferecer projeto de vida, de liberdade, de respeito e de vida nova.

Os discípulos deveriam primeiro aprender a caminhar com o Mestre para depois continuar a Sua missão. Ser discípulo é a primeira e fundamental identidade do cristão: somos cristãos, pois seguimos o Mestre Jesus. Nosso Senhor nos deu a dica, ao escolher discípulos, que a missão deve ser assumida por todos e cada um deve seguir e aceitar Jesus como Mestre em sua vida. Começou com os apóstolos, mas não se limitou a eles.

O Reino dos Céus acontece principalmente nos corações das pessoas, mas foi também da vontade de Jesus que esse Reino tivesse sua maior presença e expressão em sua Igreja. Que mesmo com seus defeitos e limites, ela tem a missão de perpetuar na história a presença de Deus, ser a fonte principal e maior do amor de Deus.

Paulo chama atenção que Jesus e o seu anúncio de salvação, sua morte e ressurreição, é que devem ser o centro da vida da Igreja. As pessoas na Igreja de Cristo passam, mas ela continua sempre presente na história, mesmo com os pecados e erros cometidos em seu interior, a graça de Deus é sempre maior. Paulo exortou a comunidade de Corinto sobre o pecado da divisão interna, as “panelinhas” em torno de pessoas e relembrou a todos aqueles cristãos que em Deus não há conflito, divisão ou competição, mas harmonia e paz. O anúncio do Reino de Deus, com essas qualidades lembradas por Paulo e tantas outras, precisa acontecer primeiro dentro de nossas comunidades para depois se tornar o sinal mais visível para todos que somente e realmente a luz de Jesus tem poder de dissipar do coração e da história humana as trevas do ódio e do pecado.

Os apóstolos deixaram tudo e colocaram seus dons de pescadores a serviço do Reino. Deveriam mudar de vida (conversão) para serem pontes que conduzem as pessoas a Deus e ao seu reino. Eles teceram novas redes e assumiram novos barcos com suas palavras e principalmente com seus testemunhos, esses são os novos instrumentos do Reino de Deus que todos nós devemos usar para que novas pessoas possam também fazer parte do Reino que Jesus iniciou neste mundo.

Faça o download da reflexão em PDF.

Privacy Preference Center