#Reflexão: 4º Domingo do Advento (22 de dezembro)

18 de dezembro de 2024

A Igreja celebra o 4º domingo do Advento, neste domingo (22). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Mq 5,1-4a
Salmo: 79(80),2ac.3b.15-16.18-19 (R. 4)
2ª Leitura: Hb 10,5-10
Evangelho: Lc 1,39-45

Acesse aqui as leituras.

MARIA, A MÃE DO MEU SENHOR!

Estamos próximos de celebrar o Natal. E como é próprio desse tempo, pensando nos momentos que pretendemos passar juntos com os nossos familiares. No Evangelho também fala de viagens, encontros e alegrias.

Lucas no Evangelho deste domingo relata o momento que sucedeu ao anúncio do anjo Gabriel a Maria. Ela foi correndo à casa de Isabel. Gabriel lhe tinha anunciado outra obra de Deus que estava a caminho: sua parenta, apesar da idade avançada e esterilidade, estava grávida. A jovem Maria foi às pressas oferecer alguma ajuda e ser solidária a uma mãe tão especial que estava no sexto mês de gestação. Maria há uma fé que se transforma em movimento, em corrida. Ela acredita no anjo Gabriel e acredita pra valer! Acredita que será mãe do salvador, por isso, acredita também que sua prima Isabel está grávida, assim, corre já com a alegria da notícia.

Ao se encontrar com Isabel, a saudação de Maria confirma tudo que Isabel teve que acreditar: o seu filho é especial aos olhos de Deus. Mas, também o salto significativo que é acreditar que Maria trazia em seu ventre o Salvador. Duas mulheres de fé sem prova, fé sem sinal, mas, fé profunda em Deus. Espetacular o que nos diz o evangelista Lucas: a gestação de uma simples criança movimenta o relógio de Deus e faz as principais pessoas do seu projeto se colocarem em caminho e partilhar já na saudação, a presença de Deus.

A solidariedade torna-se o sinal mais forte da graça do Criador em Maria. Ela que foi revelada pelo anjo como sendo alguém especial diante de Deus (“cheia de graça”, “o Senhor está contigo”, “obtiveste graça junto de Deus”…) se coloca a serviço e presente na vida de Isabel. Lucas, mais uma vez, ressalta a grandeza dos pequenos e coloca no centro da história os marginalizados: uma jovem menina da periferia da Galileia e uma idosa grávida nas montanhas de Judá. Os homens deixam de ser o centro de tudo: Zacarias, sacerdote e homem da bênção, torna-se mudo pela falta de fé; José que nada diz, descobre que deve somente se colocar ao lado de Maria e do projeto de Deus.

Assim que chegou naquela casa dos profetas, Maria se comportou como o próprio anjo Gabriel fez com ela: “Tendo entrado na casa de Zacarias, cumprimentou Isabel”. Maria, anjo de um anúncio feliz, que o filho no ventre da mãe Isabel percebe imediatamente, como uma música, um chamado à dança, uma tristeza que acaba para sempre: “a criança ele pulou de alegria”. O Santo já não está no templo, está ali, no ventre de uma mulher, “doce carne feita céu” (M. Marcolini). Na dança dos ventres, na carne de duas mulheres, a humanidade e a divindade agora se entrelaçam. Na Bíblia, quando os homens são frágeis, ou corruptos, ou completamente ausentes, as mulheres entram em cena (R. Virgili) (Ermes Ronchi).

O evangelista nos diz que Maria entrou na “casa de Zacarias”, mas o “dono da casa” não é cumprimentado e nem participa de tudo que está acontecendo (lembrando que ele ainda estava mudo). Bastaram as palavras de Maria para que sua parenta tivesse mais um sinal da grandeza de Deus. João que estava ainda em formação no ventre de Isabel, exulta de alegria com a voz da Mãe do Salvador. Lucas nos diz que a idosa senhora grávida “ficou cheia do Espírito Santo”. A voz de Maria transmite o que há de melhor de Deus: o Espírito Santo. Maria que é “cheia de graça”, distribui graça por onde passa e com quem ela se encontra.

Isabel não responde a saudação com o costumeiro “shalom”, ela exulta e com um grito expressa sua imensa alegria por toda presença de Deus em sua vida. Novamente, conhecemos algo a mais em Maria através de Isabel. Ela anuncia a proximidade que existe entre Maria e seu filho Jesus: são benditos de Deus, mas cada um em sua realidade. Maria é “bendita entre todas as mulheres”: não há ninguém neste mundo tão especial quanto ela conforme o próprio anjo Gabriel já tinha revelado; Jesus é bendito por excelência, pois é o próprio Salvador do mundo presente em nossa história. A segunda exclamação de Isabel completa a união especial desejada por Deus entre Maria e Jesus: “ela é mãe do meu Senhor”; não é mais “uma mãe” que inicia sua gestação bem como não é mais “uma criança” que vem ao mundo: ambos são especiais para a história humana.

Não se trata de uma visita corriqueira e comum, mas de alguém que inunda com a graça do Espírito Santo através de sua voz e já traz consigo, em seu ventre, o Salvador da humanidade. A visita é de grandíssima importância e rompeu o tempo e se perpetua na história da nossa fé cristã.

Bendita és tu entre as mulheres”. A bênção se estende a todas as mulheres, a todas as filhas de Eva, a todas as mães do mundo, a toda a humanidade feminina. A primeira das muitas bem-aventuranças do Evangelho ressoa e envolve a fé de Maria como um manto de alegria. As palavras de Isabel provocam uma explosão de elogios e de espanto: magnificat. Os dois primeiros profetas do Novo Testamento são duas mães com vidas novas, que saltam de seus ventres. O Natal é a crença sagrada de que o homem tem Deus no sangue; que dentro da batida humilde e teimosa do meu coração bate outro coração que – como nas gestantes – bate logo abaixo do meu. E ele apoia isso. E nunca mais desliga (Ermes Ronchi).

Duas mulheres com corações que batem em sintonia com Deus. Sensíveis à graça e prontas para dar cumprimento à vontade de Deus. Trazem no ventre muito mais que duas crianças que são sempre alegria para qualquer família: elas estavam gerando a esperança de todo povo de Deus. Juntas louvam o presente em suas vidas e cantam o futuro da humanidade. Elas reconhecem a grandeza de Deus que, através da fragilidade de ambas, constrói projetos para todos os povos. Maria e Isabel se descobrem especiais dentro de algo que irá além das duas famílias, daquele povo, daquele tempo.

Tudo tem seu início e cumprimento, graças à fé de Maria, conforme diz Isabel. O “sim” confiante da jovem de Nazaré desencadeou o projeto de Deus que escolheu um modo tão próprio de nossa realidade humana para vir ao mundo: em uma família e como uma criança.

Natal é tempo de preparações especiais, mas tudo perde o seu verdadeiro brilho e encanto quando a fé em Deus fica esquecida e abandonada. As duas mães exultam de alegria pela presença de Deus em suas vidas que gera novas vidas. Nosso Deus é portador de alegria e verdadeira felicidade, mas é necessário ter sensibilidade para descobrir sua grandeza e presença como Isabel que se enche de alegria com uma simples saudação.

Maria e Isabel são sinais da vontade de Deus que escolhe seus próprios caminhos, quase sempre priorizando os humildes, os esquemas mais simples, os lugares longe da agitação do mundo e sempre sem fazer barulho ou escândalo. No Natal fica evidente que Deus quer entrar na vida de todos através do encanto de uma criança recém-nascida, sendo Ele mesmo a luz na vida e nos corações das pessoas, sem provocar medo e morte.

Todos que participam do Natal de Jesus (Maria, José, Isabel, Zacarias, os profetas do Templo…) se revelam pessoas sensíveis ao plano de Deus, mas que aprenderam a ter confiança plenamente em Suas Palavras. Zacarias não acreditou inicialmente nas palavras do anjo e recebeu um pequeno castigo de uma mudez temporária; Maria se coloca diante de Gabriel: “faça segundo a tua palavra”; José nada diz, mas escuta e confia nas palavras do anjo que lhe revela em sonho o que tinha que fazer; e Isabel que percebe já na voz de Maria, a presença do próprio Verbo de Deus no mundo.

Miqueias (1ª leitura) profetiza sobre Belém, pequena vila da grande Jerusalém, ela terá um hospede que iria mudar toda história, e isto aconteceu. No Natal de Jesus, Ele é a luz, Ele é o maior presente que nada quer para si, mas se doa totalmente aos outros. É uma entrega que rompe todos os sacrifícios e sofrimentos (como nos lembra a 2ª leitura) para perpetuar o amor em forma de doação desde o presépio até a cruz.                                     

De Maria e Isabel aprendemos também a arte do encontro: o correr de Maria é acolhido por uma bênção. Um vento de bênção deve abrir todo diálogo que queira ser criativo. Aos que compartilham minha estrada e minha casa, aos que me trazem um mistério, aos que me trazem um abraço, aos que tanto me deram na vida, repetirei as primeiras palavras de Isabel: que você seja abençoado (Ermes Ronchi).

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