#Reflexão: 4º domingo do Advento (24 de dezembro)
A Igreja celebra o 4º domingo do advento, neste domingo (24). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16a
Salmo: 88(89),2-3.4-5.27.29 (R. 2a)
2ª Leitura: Rm 16,25-27
Evangelho: Lc 1,26-38
ANUNCIAÇÃO: ENCANTO ENTRE O CÉU E A TERRA
O quarto domingo do Advento neste ano faz a base da solene celebração da véspera de Natal: Celebramos o Advento até à tarde de domingo e a chegada do Senhor Menino mais pra noite.
Temos o relato do encontro entre Maria e o anjo Gabriel. Sublime grandeza revestida com uma simplicidade que envolve a vida de Maria. Ela se mostra tão próxima de nós e ao mesmo tempo profundamente ligada a Deus. Tudo se apresenta em sintonia e comunhão perfeita. Para Maria, tudo se revela inesperado; para os céus, tudo desde sempre estava já perfeito.
Maria é revelada não somente como escolhida para uma nova missão (ser mãe), mas como alguém que se encontrava já, desde muito tempo, agraciada diante de Deus. No diálogo entre o céu e a terra (o anjo e Maria), conhecemos a sua missão e como ela é alguém especial, desde sempre, nos planos de Deus. É a única vez na Bíblia que um anjo é enviado para conversar com uma mulher.
A narração do Evangelho de Lucas parte do infinito do céu e vai se restringindo progressivamente: Anjo que vem do céu, à região da Galileia, a uma cidade chamada Nazaré, a uma virgem prometida a José (ele da casa de Davi) e nome dela era Maria. Sete nomes próprios são elencados: Gabriel, Deus, Galileia, Nazaré, José, Davi e Maria. A virgem Maria conclui a perfeição (número sete). Tudo se encerra diante de uma moça em uma cidade desconhecida por todos.
Deus resolveu iniciar tudo bem longe do Templo e da Cidade Santa. Outra realidade expressava a santidade que Deus desejava para o seu projeto de salvação para a humanidade. Na primeira leitura, Davi estava preocupado em construir um lugar santo e digno para a Arca de Deus. Maria é a “Nova Arca” Santa de Deus. Agora tudo vai começar em uma casa e não no Templo; com uma jovem e não entres os sacerdotes. À grande cidade das festas, tradições e sacrifícios, Deus prefere um vilarejo desconhecido e jamais nomeado no AT. No lugar do ritmo dos sacrifícios e holocaustos, o lugar do encontro se realiza no cotidiano, na simplicidade e no diálogo com uma virgem adolescente prometida em casamento.
Deus preferiu entrar em nossa realidade e mundo, pela via da simplicidade e da periferia da humanidade. Tudo é revestido de pequenez e singularidade, não foi em um dia especial, em um lugar marcante e com uma pessoa conhecida por todos. O anúncio da salvação que se inicia neste mundo é entregue a normalidade da vida e de uma casa, com os afazeres do dia a dia. Aquele que a humanidade conheceu como mais sublime (Jesus), escolheu vir ao mundo sem grandes espetáculos, sem testemunhas especiais e as luzes das solenes liturgias de Jerusalém e do Templo.
No diálogo entre Maria e Gabriel, sobressai a primeira palavra que é pronunciada pelo anjo que rompe o silêncio entre o céu e a terra: “Alegra-te”. Palavra de alegria e não uma saudação solene e respeitosa. É dita quase como uma ordem da parte de Deus. Tudo é marcado como expressão daquilo que procuramos toda vida: felicidade e alegria. Tudo é condicionado como projeto de felicidade anunciado por Deus a uma virgem que representa toda a humanidade. O termo grego que traduzimos por “cheia de graça” expressa uma realidade original na vida de Maria: ela é aquela que possui graça desde a origem de sua vida, desde sempre. A alegria anunciada pelo anjo Gabriel não é algo que se restringe a Maria, mas de todo o céu e terra. Ela é alguém especial muito antes dela mesma saber e perceber.
Antes de falar do projeto de Deus, o anjo nos revela quem é Maria. “Alegria” é em primeiro lugar por ela que é enamorada de Deus. Antes de Maria dizer algo para Deus através do seu anjo, é o céu que nos ilumina com a beleza de Maria, Mãe de Deus. Antes dela escolher a Deus, desde sempre, é Deus quem a escolheu.
Diante de alguém tão especial aos olhos de Deus, entendemos o porquê, Gabriel, não ordenou que ela se colocasse de joelhos, rezasse uma oração especial ou se prostrasse por terra. No Antigo Testamento, quase sempre, em uma manifestação divina através de um mensageiro de Deus, o interlocutor é chamado a se manifestar com referência e respeito, mas com Maria não foi assim. O anjo convida Maria a se alegrar, alegrar-se com os céus em relação aquilo que estava por anunciar.
Ao revelar a missão de Maria, ela mesma é revelada à humanidade. A virgem de Nazaré é “cheia de Deus”, por isto, Deus é enamorado por aquela que deverá marcar o início da nova humanidade que surgirá com a fé em Jesus Cristo. Diz o anjo: “O Senhor é contigo”. É uma realidade presente e constante de Deus, não é uma promessa do futuro quando iniciará a ser mãe de Jesus, mas é algo desde sempre da parte de Deus.
Maria se mostra perturbada não com o encontro e com o diálogo com o mensageiro de Deus, mas com a revelação de como ela é vista por Deus. Ela é especial sem sair do normal da vida e de sua realidade. “Não temas!” é a palavra de alívio da parte do Anjo Gabriel para a pequena e singela Maria de Nazaré. E temos mais uma confirmação sobre a grandeza e a singeleza de Maria: “encontraste graça diante de Deus”. O que tinha feito Maria até aquele momento para que, diante de Deus, ela fosse especial? Certamente não foi um gesto, ou ação ou sua piedade pessoal, mas ela como pessoa humana já era especial, antes mesmo da vinda de Jesus em seu ventre. Maria é muito bem conhecida por Deus por isto, lhe confia o seu projeto de salvação através do seu Filho Jesus.
Deus não muda os sonhos de Maria, mas a convida a entrar em seu projeto, trazendo consigo tudo que ela sonhava e desejava. Ela estava prometida em casamento, sonhava com sua casa, família e filhos como qualquer jovem que se casa. Maria foi convidada a colocar seu sonho de mãe, mas como Deus necessitava. Não iria gerar um filho que seria seu e de seu marido, mas um filho seu que vem de Deus para toda a humanidade. Um filho de Maria e Deus; do céu e da terra. Continua sendo mãe, mas Mãe de Deus. A Virgem de Nazaré foi convidada a sonhar o sonho de Deus.
Tudo novo e ao mesmo tempo por vias comuns como aparentava, por isto, Maria pergunta ao anjo não porque não acreditava, mas para saber o deveria fazer. É alguém interessa em servir ao modo de Deus e dentro de seu projeto. Tudo se tornou especial com o anúncio do anjo, ela queria saber como poderia se colocar a serviço com a sua pobre realidade humana.
A explicação do anjo mostra algo que vai se realizar na realidade humana, mas permanecendo como um grande mistério para todos nós (cf. 2a leitura). Gabriel lhe assegura o necessário para que ela saiba por onde caminhar e esperar. Tudo será feito no modo divino e humano, com participação plena da humanidade (ela) e aquilo que há de mais significativo da parte de Deus para nós (Espírito Santo). Nada mais é oferecido a Maria como sinal e garantia, pois tudo de necessário tinha sido revelado, bastando a adesão final e definitiva de Maria, pois “tudo é possível para Deus”.
Encontramos uma expressão de tempo no final do diálogo com Maria: sexto mês. A história da encarnação do Verbo passa pela vida de várias pessoas que se colocam a serviço com seus limites e dificuldades (Zacarias e Isabel). Para encerrar tudo era necessário culminar com nova criação, como no sétimo dia do Gênesis. Tudo se conclui com as palavras perfeitas de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra!” Na história de Zacarias, sacerdote e templo, tudo termina no silêncio; na história de Maria, com palavras de profunda adesão é fé. Na criação do mundo, tudo foi gerado pelo “faça-se” de Deus, agora tudo tem um novo início com a mesma expressão daquela que é “Cheia de graça”.
A entrega total de Maria conclui a missão do anjo e inicia a salvação da humanidade. Deus escolhe uma mãe que fosse digna de trazer a este mundo o bem mais precioso de Deus para nós (seu filho Jesus). Ela se apresenta como serva da Palavra de Deus anunciada pelo anjo e ao mesmo tempo do Verbo de Deus que começava ser gerado em seu ventre.