#Reflexão: 5° Domingo da Quaresma (06 de abril)

2 de abril de 2025

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A Igreja celebra o 5° domingo da Quaresma, neste domingo (06). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 43,16-21
Salmo: 125(126),1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
2ª Leitura: Fl 3,8-14
Evangelho: Jo 8,1-11

Acesse aqui as leituras.

A MULHER ADÚLTERA E O PERDÃO DE JESUS

            No Evangelho deste domingo, nos deparamos com mais uma cena que nos ajuda a entender quão grande é o nosso Deus e a sua misericórdia por cada um de nós. Os personagens do Evangelho não são figuras do passado, mas nos representam e nos ajudam a conhecer ainda mais a nossa fragilidade e a nossa pequenez diante de Deus.

Domingo passado no Evangelho de Lucas, Jesus contou uma história (parábola do Pai Misericordioso) para ilustrar como Deus Pai se comporta em relação aos nossos pecados e erros: nos perdoa incondicionalmente e sem exigências. Neste domingo, o próprio Jesus nos mostra – Ele mesmo – como é o amor misericordioso de Deus Pai.

Pode aparentar estranho deixarmos a sequência dos textos de Lucas aos domingos neste tempo de Quaresma para ouvir um texto de São João. No entanto, esta passagem do 4º Evangelho trouxe embaraço no início do cristianismo quando se organizava os textos do NT. Este texto de João foi considerado, entre outras coisas, como sendo, talvez, de Lucas (pelo estilo e conteúdo) e que teria sido erradamente copiado no Evangelho de São João. Assim, alguns autores cristãos teriam remanejado para São Lucas. À parte esta discussão histórica, esta passagem realmente tem muitos traços de Lucas.

O Evangelho de João nos coloca dentro do Templo no local mais sagrado para os judeus, Jesus ensinava a multidão. Certamente, o interesse do povo por Jesus levava os fariseus e escribas (aqueles que eram os entendidos da Bíblia) a nutrirem cada vez mais ódio contra Cristo. As pessoas preferiam escutar Jesus ao invés dos entendidos da Lei e representantes da religião. Assim, eles tramaram um modo de “desmascará-Lo” em Suas próprias palavras.

Os representantes da religião e da Lei (fariseus e escribas) trouxeram uma mulher que tinha sido pega em flagrante adultério e a colocaram diante de Jesus em meio a todos. Depois procuraram provocar Jesus a dar um veredito e confirmar o castigo que todos conheciam para aquele tipo de pecado. A mulher em questão é tratada com total desprezo pelas autoridades do Templo e da fé judaica. Foi arrastada e coloca diante de Cristo como se fosse um objeto ou animal; colocam onde querem; ela não diz nada. Ela em nenhum momento teve chance de se justificar ou pedir perdão. Para a mulher, aqueles homens já tinham determinado um castigo e um fim. Não são pessoas da esperança, mas do juízo; não se interessam pela vida, mas em usá-la para provocar mais morte.

São João lembra que o interesse deles era somente de “pegar” Jesus em suas palavras. Aqueles homens armaram uma situação que pensavam que Jesus não teria tido nenhuma escapatória. Para aqueles falsos religiosos, Jesus tinha somente duas respostas e ambas terminariam por condená-Lo. Se Ele tivesse dito que não se deveria colocar em prática a castigo capital, eles teriam acusado Jesus de não observar a Lei; Se Jesus tive afirmado que não se deveria proceder com a execução da pena (lapidação), Ele certamente teria sido acusado de “falso profeta” que convive com os pecadores, mas que não é capaz de perdoar a ninguém.

Um bando de falsos! A Lei que eles afirmam conhecer e recordam diante de Jesus afirma que, de fato, uma mulher pega em adultério deveria ser condenada à morte, mas esquecem que também o homem deveria receber o mesmo castigo (cf. Lv 20,10 e Dt 22,22). Eles conduziram somente a mulher diante de Jesus, mas e o homem adúltero, onde estava? Eles tinham tramado a situação achando que Jesus iria cair na armadilha deles. Jesus percebeu que mais do que a sorte de vida e morte da mulher, era a vida d’Ele que estava em jogo.

O evangelista João nos diz que Jesus se inclina diante da mulher e começa a escrever por terra. Tal gesto de Jesus desperta ainda hoje a imaginação de todos: o que Ele escreveu no chão? Interessante é que Cristo nunca escreveu algo e a única vez que o faz, ninguém sabe o que foi redigido. São Jerônimo sugeriu que Jesus teria escrito os pecados dos acusadores e tantas vezes que tinham pecado. Na realidade o que ele escreveu não é o mais importante, mas sim o gesto.

Foi proposto algo que “está escrito na Lei” e Jesus diante da pecadora, se dobra e também escreve, mas não em um material que pode ficar para sempre, mas no chão. Os nossos pecados para Deus estão escritos na poeira da terra: basta um simples vento, uma brisa, e tudo desaparece. A brisa é o nosso gesto de arrependimento, nosso desejo de mudar de vida, como o filho pródigo que retornou a casa do pai, mesmo depois de tudo que tinha combinado e mesmo sem remorso pelos seus erros, mas somente para buscar um local onde ter o que comer. Tal gesto do filho (voltar para a casa) foi suficiente para o pai sair correndo, se jogar sobre ele, abraçá-lo, lhe devolver a dignidade perdida, perdoá-lo com um beijo e, por fim, fazer uma festa.

Mas, os acusadores que trouxeram a mulher adúltera não tinham entendido o gesto de Jesus e queriam saber de seu julgamento e juízo sobre o fato ocorrido. Jesus se levanta. Do pó da terra, traz um juízo, não contra a mulher, mas contra todos. Não procura destruir a Lei, mas salvar a vida; se posiciona não para condenar, mas para mostrar o quanto todos nós necessitamos da misericórdia de Deus e não do juízo e condenação dos outros.

“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra!”, respondeu Jesus. É um convite a avaliar primeiro a sua vida; a entrar dentro de si, antes de olhar o próximo. E, novamente, se inclina diante da mulher e volta a escrever. Não somente os erros da mulher, mas de todos que se sentem já santos precisam ser escritos na poeira da estrada e necessitam da brisa misericordiosa de Deus. São João nos diz que começaram a deixar o local, a começar pelos mais velhos do grupo de fariseus e escribas, também o povo e provavelmente até os discípulos.

Os fariseus e escribas colocam uma mulher pecadora para manipular seu erro e pecado, eles não estão interessados em dar uma luz ou ajuda, mas usar do seu pecado para pegar Jesus. Mas, também, Jesus coloca a mulher ao centro, mas para ouvi-la e dar uma luz de misericórdia.

A cena final é mágica e cheia de beleza! Jesus fica sozinho com a mulher e pode dialogar tranquilo com ela. Santo Agostinho diz que foi a “expressão máxima da miséria que se encontra com a plena misericórdia”. Jesus inicia chamando-a de “mulher”, não de adúltera ou pecadora; não lhe fez nenhum discurso ou condenação, não lhe chamou atenção de nada. Ela que desde o início permaneceu em silêncio, esperando o juízo de Jesus (pois dos falsos religiosos, ela já sabia qual era), com o gesto do silêncio, demonstra reconhecer o seu erro; ela não procura se justificar, pois no fundo Jesus sabia os seus motivos e conhecia todas as suas falhas, como conhece todos os nossos erros. Cristo se dirigindo a ela, lhe chama de “Mulher”. O termo foi usado depreciativamente pelos fariseus e escribas para “despersonificá-la” e transformá-la em um “objeto” que não tem nome, nem direito, nem futuro e nem razão. Mas, “mulher” na boca de Jesus é especial. Ele usa o mesmo termo para se dirigir a sua própria mãe, duas vezes (cf. Jo 2,4; 19,26), no diálogo com a Samaritana (cf. Jo 4) e a Maria Madalena após sua ressurreição (cf. Jo 20,13). Chamando assim, Jesus lhe devolve a dignidade e lhe trata como pessoa.

Nosso Senhor lhe faz uma pergunta, quase estranha: “Onde estão aqueles que te acusavam?” Praticamente recordando que desde o início o ato de acusar não partiu de Deus e nunca foi do desejo de Deus, mas de pecadores querem condenar uma pecadora (como nós somos tão parecidos!).

Nosso Senhor não lhe pediu nada e nem lhe impôs condições; não ameaçou de nenhuma forma e suas últimas palavras não foram de exigências e castigo, mas foram palavras de perdão: “Nem eu te condeno!”. Para Jesus, o importante é o futuro, nova chance, nova possibilidade. Um pecado, por maior que seja, nunca pode ser maior que a misericórdia de Deus, por isso, Jesus despede a mulher lhe pedindo o fundamental: não pecar novamente.

Espanta-nos um Deus que perdoa sem condição, que não condena e age sempre segundo a esperança que deposita na vida e em nossa vida. Para Jesus, o importante é o futuro, o que a pessoa pode ser e construir, tudo o mais (passado e pecados) são como uma escritura em poeira. Jesus antes tinha escrito no chão com o dedo, no final escreve no coração com suas palavras. Por fim, Jesus diz: “Vai…”, este termo nos recorda o envio dos discípulos, apóstolos e missionários. Também nós somos chamados a sermos “missionários da Misericórdia e do imenso amor de Deus” que sempre nos perdoa sem colocar condições, isto nós devemos fazer entre nós.

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