#Reflexão: 5º Domingo da Páscoa (15 de maio)
A Igreja celebra, no dia 15, o 5º Domingo da Páscoa. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: At 14, 21b-27
Salmo: Sl 144, 8-9.10-11.12-13ab
2ª Leitura: Ap 21, 1-5a
Evangelho: Jo 13, 31-33a.34-35
JESUS E O MANDAMENTO NOVO
O Evangelho deste domingo retrata um dos momentos mais importantes para Jesus com seus discípulos. O contexto era da Santa Ceia, a última que Ele celebrou com seus amigos. Em torno da mesa, compartilhando os alimentos, Jesus também abriu seu coração. Marcante foi o momento em que lavou os pés de todos indiscriminadamente. Momento difícil foi quando anunciou que tinha consciência da traição de alguém que Ele mesmo tinha escolhido. O lava-pés e o pedaço de pão dado com carinho por parte de Jesus não conseguiram romper o coração duro e fechado de Judas. Ele deixa o grupo, dá as costas a tudo que viu e ouviu e sai no meio da noite para executar seu plano. Jesus não o reprova, ou ameaça, ou ainda o amaldiçoa por sua escolha.
O mal que Jesus tinha enfrentado em diversas circunstâncias seja da parte das autoridades religiosas, também dos romanos e até mesmo em tantos casos de possessão, tinha conseguido se infiltrar e se enraizar no coração de um dos escolhidos de Nosso Senhor. Jesus venceu todos os casos em relação às investidas do mal, mas o seu apóstolo não teve a mesma força. Judas estava corrompido pelo mal e Jesus sabia de tudo. O mal tinha tido uma vitória e achava que assim, iria atrapalhar Jesus em tudo, mas o final foi diferente.
Nos versículos iniciais do texto do Evangelho, por cinco vezes Jesus menciona a “glorificação”. Para todos (discípulos, apóstolos, religiosos judeus, estado romano…) o que estava para acontecer com Cristo (prisão, humilhação e morte) poderia ter significado o máximo da derrota de Jesus, mas para Ele foi o ponto mais alto de sua glorificação e de Deus Pai.
O máximo da expressão e ação do mal foi transformado e utilizado por Jesus e Deus Pai para expressar o Amor pleno que Eles possuem por toda a humanidade. O maior mal foi derrotado pelo Pleno Amor. Jesus em momento nenhum procurou glórias pessoais deste mundo, mas exatamente naquele momento em que tudo, aparentemente tinha chegado ao mais baixo da realidade humana (traição, sofrimento e morte), lá esplandeceu a maior expressão do amor de Deus. Por isto, Jesus apresenta o seu pedido especial: Mandamento Novo.
Jesus demonstra que tem consciência dos seus próximos passos e de tudo que lhe aguardava momentos esses que celebramos na Semana Santa. Ele tinha que percorrer um caminho que ninguém poderá segui-Lo, mas isto não lhe entristece, pois estava sempre com o Pai e tudo seria para a maior glória de Deus. Por fim, deixa como último desejo e recomendação o seu mandamento. Jesus chama de “novo”, mas todos já conheciam o mandamento que se encontra na lei judaica que diz: “Amar o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Nosso Senhor procura melhorar este antigo mandamento, colocando outra medida ou forma para amar o próximo. De fato, o nosso amor é muito limitado e, muitas vezes, misturado com inúmeros interesses e mesquinhas intenções. Não conseguimos amor de um modo justo nem a nós mesmos, quanto mais, amar o próximo. Jesus propõe outra referência ou parâmetro para utilizar como modelo e modo de amor.
Há um particular no texto original. A palavra em grego para “novo” não significa somente algo “recente” como um “recém-nascido”; mas o adjetivo tem um significado mais forte. “Novo” no sentido de atualizado e que substitui o anterior. Tal mandamento deixado por Jesus deve substituir e cancelar o anterior.
O mandamento novo é “amar uns aos outros”, mas usando como modelo e ponto de partida o próprio amor de Jesus. Muito mais do que um “sentimento” para com o outro; amar para Jesus é doar-se completamente para o bem do próximo. No AT, as pessoas conheciam muito pouco de como realmente era Deus e imaginavam, assim, um Deus juiz e severo, pronto para punir os pecadores e premiar os justos. Jesus rompe com esta ideia e nos apresenta um Deus pleno amor. Ele ama de modo incondicional e sem limites. Este mesmo amor de Deus Pai, Jesus procurou sempre expressar e ensinar a todos. É exatamente este amor que devemos usar como modelo e conteúdo para amar o próximo.
Expressivo ainda é o modo dinâmico de como se deve viver este mandamento. Ele deve ser praticado em uma relação de reciprocidade e troca. Jesus nos ensina o amor pleno que se doa sem condições, mas nos pede que procuremos trocar entre nós este amor. O mandamento novo deve ser vivido em comunidade, em relação dinâmica onde o amor doado se alimenta também do amor recebido.
Interessante que neste mandamento novo deixado por Jesus, Deus não vem mencionado. Para Nosso Senhor, o caminho para se chegar até Deus passa necessariamente pelo amor ao próximo. Assim, o amor para com meu irmão e a minha irmã é o caminho privilegiado para se chegar até Deus segundo Jesus. O exemplo primeiro e marcante de como viver este amor, inicia em Jesus. Ele é o modelo e ao mesmo tempo a fonte de onde devemos nos alimentar sempre para podermos continuar doando amor. Assim, não basta nutrir um belo sentimento para com outra pessoa para já afirmarmos que estamos praticando o Mandamento Novo deixado por Cristo. É preciso viver e praticar este amor conforme Ele mesmo viveu. O amor de Jesus é sem interesse e egoísmo, quer sempre o bem do próximo, se doa plenamente e, principalmente, está em perfeita sintonia com a vontade de Deus Pai. Um amor centrado somente na pessoa e em seus interesses pessoais, jamais será igual ao amor de Jesus. É o amor perfeito que, inclusive, ama até mesmo o inimigo e perdoa sempre.
Devemos ser conhecidos e identificados não por qualquer sinal externo ou vestimenta, mas pela nossa forma de viver o amor de Jesus. O nosso amor vivido intensamente junto com outros irmãos deve ser a melhor forma de expressar a nossa fé.
Na primeira leitura, temos o exemplo de alguns cristãos que, não obstante os desafios e tribulação insistiam em anunciar o Reino de Deus e de confirmar na fé aqueles que abraçavam o mesmo caminho. Eles sabiam que na medida em que se alimentavam do amor de Deus e encontravam na comunidade o mesmo amor, nada neste mundo poderia se colocar contra Deus e a missão que estavam empreendendo.
O mundo novo e perfeito apresentado no Apocalipse (segunda leitura) deve ser construído entre nós, já neste mundo, mesmo que de modo imperfeito e limitado, pois no novo momento da história, Deus será pleno entre nós e conosco. Jesus apresenta um “novo” que deve começar entre nós; um dia, haverá um “novo” que Deus instalará na nossa história. O “novo da história” prometido por Deus, deve já começar a ser gerado em nós e entre nós com o Mandamento Novo deixado por Jesus.