#Reflexão: 5º Domingo da Quaresma (3 de abril)

28 de março de 2022

A Igreja, neste domingo (3), celebra o 5º Domingo da Quaresma. Reflita e reze com a sua liturgia.

1ª Leitura – Is 43,16-21

Salmo – Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)

2ª Leitura – Fl 3,8-14

Evangelho – Jo 8,1-11

Acesse aqui as leituras.

A MULHER ADÚLTERA E O PERDÃO DE JESUS

No Evangelho deste domingo, nos deparamos com mais uma cena que nos ajuda a entender quão grande é o nosso Deus e a sua misericórdia por cada um de nós. Os personagens não são figuras do passado, mas nos representam e nos ajudam a conhecer ainda mais a nossa fragilidade e a nossa pequenez diante de Deus.

São João evangelista nos informa, no início da história, o costume de Jesus de se retirar em oração. Rezar para Cristo era renovar seu amor pelo Pai e a vontade de Deus era o seu alimento especial. Em tudo que Cristo fazia, Ele deveria se revelar como realmente é o nosso Deus.

Domingo passado, Jesus contou uma história (parábola do Pai Misericordioso) para ilustrar como Deus Pai se comporta em relação aos nossos pecados e erros: nos perdoa incondicionalmente e sem exigências. Neste domingo, o próprio Jesus nos mostra – Ele mesmo – como é o amor misericordioso de Deus Pai.

Dentro do Templo, no local mais sagrado para os judeus, Jesus ensinava a multidão. Certamente, o interesse do povo por Jesus levava os fariseus e escribas (aqueles que eram os entendidos da Bíblia) a nutrirem cada vez mais ódio contra o Cristo. As pessoas preferiam escutar Jesus ao invés dos entendidos da Lei e representantes da religião. Assim, eles tramaram um modo de “desmascará-Lo” em Suas próprias palavras.

Os representantes da religião e da Lei (fariseus e escribas) trouxeram uma mulher que fora pega em flagrante adultério e a colocaram diante de Jesus em meio a todos. Depois, procuraram provocar Jesus a dar um veredito e confirmar o castigo que todos conheciam para aquele tipo de pecado. A mulher em questão é tratada com total desprezo pelas autoridades do Templo e da fé judaica. Foi arrastada e colocada diante de Cristo como se fosse um objeto ou animal. Ela é colocada onde querem e não diz nada. Em nenhum momento, ela teve chance de se justificar ou pedir perdão. Para ela, eles já tinham determinado um castigo e um fim. Não são pessoas da esperança, mas do juízo. Eles não se interessam pela vida, mas em usá-la para provocar mais morte.

São João lembra que o interesse deles era somente de “pegar” Jesus em suas palavras. Aqueles homens armaram uma situação em que Jesus não tivesse nenhuma escapatória. Para aqueles falsos religiosos, Jesus teria somente duas respostas e ambas terminariam por condená-Lo. Se Ele tivesse dito que não se deveria colocar em prática o castigo capital, eles teriam acusado Jesus de não observar a Lei. Se Jesus tive afirmado que não se deveria proceder com a execução da pena (lapidação), Ele, certamente, teria sido acusado de “falso profeta” que convive com os pecadores e que não conseguiria perdoar a ninguém.

Um bando de falsos! A Lei que eles afirmam conhecer e recordam diante de Jesus afirma que, de fato, uma mulher pega em adultério deveria ser condenada a morte, mas também o homem (cf. Lv 20,10 e Dt 22,22). Eles conduziram somente a mulher diante de Jesus. Porém, o homem adúltero, onde estava? Eles tramaram a situação pensando que Jesus iria cair em suas garras e palavras.

O evangelista João nos diz que Jesus se inclina diante da mulher e começa a escrever por terra. Tal gesto de Jesus desperta ainda hoje a imaginação de todos: o que Ele escreveu no chão? Interessante é que Cristo nunca escreveu nada e, na única vez que o fez, ninguém soube o que foi redigido. São Jerônimo sugeriu que Jesus teria escrito os pecados dos acusadores e as tantas vezes que tinham pecado. O que ele escreveu não é o mais importante, mas o seu gesto.

Foi proposto algo que “está escrito na Lei”. Jesus, diante da pecadora, se dobra e também escreve, mas não em um material que pode ficar para sempre. Ele escreve no chão. Os nossos pecados para Deus estão escritos na poeira da terra: basta um simples vento, uma brisa, e tudo desaparece. A brisa é o nosso gesto de arrependimento, nosso desejo de mudar de vida, como o filho pródigo que retornou a casa do pai, mesmo depois de tudo que combinara e mesmo sem remorso pelos seus erros, mas somente para buscar um local onde ter o que comer. Tal gesto do filho (voltar para a casa) foi suficiente para o pai sair correndo, se jogar sobre ele, abraçá-lo, lhe devolver a dignidade perdida, perdoá-lo com um beijo e, por fim, fazer uma festa.

Porém, os acusadores que trouxeram a mulher adúltera não tinham entendido o gesto de Jesus e queriam saber de seu julgamento e juízo sobre o fato ocorrido. Jesus se levanta. Do pó da terra, traz um juízo, não contra a mulher, mas contra todos. Não procura destruir a Lei, mas salvar a vida. Ele se posiciona não para condenar, mas para mostrar o quanto todos nós necessitamos da misericórdia de Deus e não do juízo e condenação dos outros.

“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra!”, respondeu Jesus. É um convite a avaliar primeiro a sua vida: a entrar em si, antes de olhar o próximo. E, novamente, se inclina diante da mulher e volta a escrever. Não somente os erros da mulher, mas os de todos que se sentem já santos precisam ser escritos na poeira da estrada e necessitam da brisa misericordiosa de Deus. São João nos diz que começaram a deixar o local, a começar pelos mais velhos do grupo de fariseus e escribas, também o povo e, provavelmente, até os discípulos.

A cena final é mágica e cheia de beleza! Jesus fica sozinho com a mulher e pode dialogar tranquilo com ela. Santo Agostinho diz que foi a “expressão máxima da miséria que se encontra com a plena misericórdia”. Jesus inicia chamando-a de “mulher”, não de adúltera ou pecadora. Ele não lhe fez nenhum discurso ou condenação, não lhe chamou atenção de nada. Ela que, desde o início permaneceu em silêncio, esperando o juízo de Jesus (pois dos falsos religiosos, ela já sabia qual era), com o gesto do silêncio, demonstra reconhecer o seu erro. Ela não procura se justificar, pois, no fundo, Jesus sabia os seus motivos e conhecia todas as suas falhas, como conhece todos os nossos erros. Cristo se dirigindo a ela, lhe chama de “Mulher”. O termo foi usado depreciativamente pelos fariseus e escribas para “despersonificá-la” e transformá-la em um “objeto” que não tem nome, nem direito, nem futuro e nem razão. Entretanto, “mulher”, na boca de Jesus, é especial. Ele usa o mesmo termo para se dirigir a sua própria mãe, duas vezes (cf. Jo 2,4; 19,26); no diálogo com a Samaritana (cf. Jo 4) e com Maria Madalena, após sua ressurreição (cf. Jo 20,13). Chamando, assim, Jesus lhe devolve a dignidade e lhe trata como pessoa.

Nosso Senhor lhe faz uma pergunta, quase estranha: “Onde estão aqueles que te acusavam?” Praticamente recorda que, desde o início, o ato de acusar não partiu de Deus e nunca foi do desejo de Deus, mas de pecadores que queriam condenar uma pecadora (como somos tão parecidos!). Nosso Senhor não lhe pediu nada e nem lhe impôs condições. Ele não ameaçou de nenhuma forma e suas últimas palavras não foram de exigências e castigo, mas foram palavras de perdão: “Nem eu te condeno!”. Para Jesus, o importante é o futuro: nova chance, nova possibilidade. Um pecado, por maior que seja, nunca pode ser maior que a misericórdia de Deus. Por isso, Jesus despede a mulher lhe pedindo o fundamental: não pecar novamente.

Espanta-nos um Deus que perdoa sem condição, que não condena e age sempre segundo a esperança que deposita na vida e em nossa vida. Para Jesus, o importante é o futuro, o que a pessoa pode ser e construir. Tudo o mais (passado e pecados) é como uma escritura em poeira. Jesus, antes, escrevera no chão com o dedo. No final, escreve no coração com suas palavras. Ele diz: “Vai…”. Esse termo nos recorda do envio dos discípulos, apóstolos e missionários. Também nós somos chamados a sermos “missionários da Misericórdia e do imenso amor de Deus” que sempre nos perdoa, sem colocar condições. É isso que nós devemos fazer entre nós!

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