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#Reflexão: 6° domingo do Tempo Comum (16 de fevereiro)
A Igreja celebra o 6° domingo do Tempo Comum, neste domingo (16). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Jr 17,5-8
Salmo: 1,1-2.3.4.6 (R.Sl 39,5a)
2ª Leitura: 1Cor 15,12.16-20
Evangelho: Lc 6,17.20-26
BEM-AVENTURADO AQUELES QUE VIVEM COMO JESUS
As bem-aventuras são bem conhecidas por todos os cristãos, pois temos palavras de profundo encorajamento de Jesus para todos. Nos Evangelhos, temos duas versões, uma em Mateus e a outra em Lucas. Cada um procurou narrar estas palavras seguindo esquemas próprios. Mateus coloca estas palavras de consolo no início (abertura) de uma longa pregação e tudo aconteceu no alto montanha (como Moisés); Lucas preferiu situar no meio de várias atividades e o sermão foi em uma planície tendo a presença de pessoas de toda a região. No entanto, os dois evangelistas informam que as Bem-aventuranças tem como público principal os discípulos.
Sabemos que Jesus escolheu viver sua missão diretamente no meio do povo. A encarnação de Cristo foi dentro da mais profunda realidade humana e o que Ele encontrou foi um povo abandonado e esquecido por todos, principalmente pela religião da época.
A situação de pobreza e de doença era entendida pelos religiosos da época como uma espécie de “punição” de Deus: se estão assim, é por que Deus está castigando. Jesus nunca concordou com esta situação, pois sempre colocou o sofrimento, as dores e a realidade humana como centro de sua vida (como na sinagoga de Cafarnaum) Jesus sempre se compadeceu de todos, mas principalmente daqueles que não tinham nenhum amparo naquele tempo. Assim, Ele curava, abençoa, perdoava e devolvia alegria a todos, particularmente àqueles que foram convencidos que estavam assim, “por vontade” de Deus.
Das 9 exortações de bem-aventuranças de Mateus, Lucas escolheu 4. Porém, as Bem-aventuranças de Lucas possuem um particular importante: não estão voltadas para os que vivem na situação de pobreza, fome, choro etc. (como Mt), mas, são dirigidas aos discípulos: “Bem-aventurados, vós… (os discípulos)”.
O evangelista diz que tudo iniciou com uma atitude marcante do Mestre Jesus, vendo a multidão e grande quantidade de discípulos: “Jesus levanta os olhos para os discípulos”. É o olhar daquele que se importa e vê a todos (multidão e discípulos). Seu ensinamento não é de alguém que “ficou sabendo de algo”, mas de alguém que enxerga em profundidade: povo e discípulos.
Lucas preferiu quatro situações mais fortes da realidade e as apresenta como algo do presente: aqueles que são pobres; aqueles que agora têm fome; que agora choram e que são odiados. Felizes, bem-aventurados, aqueles que (se fazem) pobres, pois o “Reino de Deus é vosso”. Na sinagoga de Cafarnaum, Jesus proclamou um tempo novo tendo os pobres como os primeiros; agora, Jesus proclama esses como bem-aventurados de Deus. Como o próprio Jesus, são felizes aqueles que descobriram o caminho do Reino fazendo uma escolha pela pobreza como opção de vida. Jesus não é a favor da miséria imposta e nem da pobreza que a maioria da população vivia, mas Ele exorta que são felizes aqueles que escolhem a vida tendo somente o necessário para que o Reino de Deus já inicie. Este Reino inicia com os simples, aqueles que vivem uma vida na partilha e não acumulando bens e riquezas. Lembrando que domingo passado, os primeiros discípulos tinham conseguido uma grande riqueza em peixes (dois barcos cheios), mas deixaram tudo pra seguir Jesus, são os pobres que o Mestre Jesus procura: deixaram tudo para segui-Lo.
Jesus nos ensina que o nosso Deus tem uma fraqueza pelos fracos; sente e se compadece por todos, mas de modo especial por aqueles que nada possuem (como o próprio Lázaro – Lc 16,19-31). Assim, proclama Jesus, bem-aventurados os pobres que nada possuem a não ser o coração; que, não tendo nada para dar, têm a si mesmos para doar; que são ao mesmo tempo uma mão estendida que pede e uma mão estendida que dá (Ermes Ronchi).
O Deus de Jesus não é aquele que se alegra com a fome e a dor de seus filhos e filhas, mas o Mestre Jesus busca alertar que o discípulo deve viver o sofrimento e a realidade de todos; ter fome de justiça pelo próximo; chorar por aqueles que estão em situação de abandono no mundo. Somente aqueles discípulos que são sensíveis ao sofrimento do próximo, conseguirão ajudá-los.
Viver como Jesus viveu, isto é, inserido profundamente na realidade humana e vivendo intensamente os sofrimentos das pessoas, atrai o ódio daqueles que acham que tudo tem de ficar como está. Para ter riqueza nas mãos de poucos é preciso ter a miséria de muitos. Jesus alerta que se um lado, os discípulos podem sofrer todo tipo de perseguição, eles são felizes e devem se alegrar. Sofrer por causa do bem que se faz é uma comprovação que o discípulo está seguindo os passos do Mestre. Jeremias (1ª leitura) chama atenção que não devemos colocar nossa confiança nos homens, mas em Deus, pois Nele encontramos tudo de que precisamos para nossa vida e missão.
Após as quatro bem-aventuranças, Lucas apresenta quatro situações exatamente opostas. Na parte das bem-aventuranças, Lucas termina dizendo: “Felizes” e “alegrai-vos” (v.22.23). Agora, o terceiro evangelista usa uma expressão que é traduzida como “ai” e como nas quatro anteriores, tudo é dirigido aos discípulos: “Ai de vós”. O “ai” não significa ameaça ou maldição. Ele ocorre várias vezes no NT (Mt 11,21; 18,7; 23,13.15…; Lc 10,13.42… 1Cor 9,16) e tem sentido de uma lamentação: “infelizes, coitados de vós…”
São infelizes aqueles discípulos que se encheram de coisas materiais, pois pensam que na riqueza é que terão consolação. Quanto mais se apega às coisas materiais, mais se afasta das pessoas e de Deus. Assim, Jesus proclama bem-aventurado os que tem fome, mas não de alimento, mas uma fome diferente que somente Deus pode nos saciar. Aqueles que são apegados aos bens deste mundo, possuem uma fome insaciável: uma fome que nenhuma coisa material consegue saciar. Assim, no fundo, o que precisamos evitar é a riqueza que acumula bens e não olha o próximo, essa riqueza tem que ser combatida.
Jesus não é contrário a riqueza, mas sim ao apego que as pessoas têm a elas. E seguindo uma tradição da Bíblia, a riqueza é um dom para ser partilhado; um dom para ajudar o próximo e os mais necessitados. Acumular e se fechar na riqueza, a pessoa se torna dependente daquilo que deveria ser um instrumento para fazer o bem. Infelizmente, podemos perceber que o problema não são os pobres do mundo, mas os ricos que não conseguem partilhar nem o mínimo com o próximo e que, em nada, vai fazer falta a eles.
Infelizes daqueles que vivem uma vida egoísta buscando somente se saciar dos bens que possuem. Tais pessoas não enxergam os irmãos e irmãs necessitados, pois estão voltados somente para sua própria satisfação (cf. Is 58,7-11).
O discípulo que Jesus deseja é aquele que se compadece e se coloca em ação para ajudar os necessitados; que vive uma vida voltado para aqueles que vivem em situações extremas de privações. Por isso, não vivem uma vida como se o sofrimento de tantos irmãos e irmãs não existissem; infelizes desses que vivem sorrindo sem se compadecer do próximo.
Por fim, o alerta de Jesus sobre aqueles que vivem atrás de reconhecimentos e aplausos, são infelizes pois são situações passageiras e vazias. O Mestre Jesus chama atenção daqueles que hoje aplaudem e amanhã, traem e condenam. Viver uma vida praticando os valores do Evangelho e ser um sinal de que a realidade tem que ser vivida na partilha e na caridade, como o próprio Jesus viveu