#Reflexão: 6º domingo do Tempo Comum (12 de fevereiro)

9 de fevereiro de 2023

A Igreja celebra o 6º domingo do Tempo Comum neste domingo (12). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Eclo 15,16-21

Salmo: 118(119),1-2.4-5.17-18.33-34 (R.1)
2ª Leitura: 1Cor 2,6-10
Evangelho: Mt 5,17-37 (mais breve: 5,20-22a.27-28.33-34a.37)

Acesse aqui as leituras.

JESUS É A PLENITUDE DA LEI

Em qualquer religião, um dos pontos discutidos com frequência é sobre a liberdade humana: Deus e a religião ajudam ou limitam a liberdade de uma pessoa? A primeira leitura e o Evangelho deste domingo nos ajudam a entender essa relação preciosa entre a fé e a nossa liberdade.

O autor do livro do Eclesiástico (1ª leitura), apresenta essa questão com um exemplo que entendemos muito bem: guardar os Mandamentos não “rouba” nada de alguém, pelo contrário, favorece a nossa proteção. Os Mandamentos de Deus não atrapalham a vida das pessoas, mas ajudam a bem escolher aquilo que realmente traz vida e sentido a nossa existência. Eles são um bem e não um mal para todos nós!

No entanto, tudo tende a se tornar verdadeiramente eficaz quando é assumido e aceito como parte de sua vida. O autor nos propõe dois elementos fundamentais da vida, como exemplo: o fogo e a água. Ambos usados de forma adequada favorecem a vida ou produzem a morte. Tudo está diante de cada pessoa e cabe a cada um escolher (“estender a mão”) e colocar em prática. Ninguém é obrigado, mas não tem como não deixar de escolher. Mas, não basta simplesmente optar, é necessário saber como usar e colocar em prática, pois certas escolhas podem produzir vida, e outras, a morte; algumas o bem e outras o mal. Nessa relação crucial para nossa vida, os Mandamentos sempre nos conduzirão e nos guiarão pela estrada do bem e da vida. Eles não são um bem em si, mas nos conduzem pelo caminho daquilo que é seguro e correto para a nossa vida!

No Evangelho de Mateus, neste domingo, temos quatro Mandamentos que Jesus quis explicar para ilustrar como Ele vê todos os Preceitos de Deus. Inicialmente, Jesus fundamenta os ensinamentos para levá-los à perfeição e não para cancelar o que todos conheciam. É visível que, após certo tempo de ensinamento de Jesus a seus discípulos e ao povo, muitos começaram a achar que Ele se situava entre dois extremos que até hoje são usados para falar de uma pessoa religiosa: alguns O viam como “libertino” (“Tudo é permitido”) e outros, como “radical” (“nada serve, e apresenta tudo novo”). Na realidade – explica Jesus –, Ele veio mostrar o verdadeiro sentido dos Mandamentos, das Leis e dos profetas. Tantos os liberais como os ortodoxos (observantes radicais das Leis) tinham perdido o verdadeiro, o fundamental, valor e sentido de tudo em que acreditavam.

Jesus critica não só os “relaxados” na fé, mas inclusive aqueles que consideravam “zelosos” observadores dos Mandamentos de Deus. Jesus chama de “justiça dos escribas e fariseus” o modo como ensinavam e viviam os preceitos principais da fé judaica: colocavam tudo, praticamente no mesmo patamar: tudo é importante! Porém, por outro lado, eles procuravam falhas nas Leis para continuarem realizando aquilo que não era da vontade de Deus. Eles observavam as Leis, mas cada um do seu jeito e isso Jesus condenava claramente, pois não praticavam o essencial dos Mandamentos. Pior: ensinavam os mais simples (Jesus chama de “pequenos”) a fazerem o mesmo. Eram “religiosos de fachada” para os quais a religião era usada até para justificar os erros e pecados das pessoas.

Para Jesus, o essencial de qualquer preceito e Mandamento deve brotar do coração da pessoa. Muito mais do que o ato final cometido, a religião de Jesus nasce no interior de cada um. É no coração do homem e da mulher que tudo já é determinado como certo ou errado. O verdadeiro sentido de cada Mandamento deve ser vivido e praticado a partir das escolhas e do uso da liberdade que nasce de dentro do ser fiel, não somente o ato concluído, mas também desde a origem como desejos e vontades devem estar em sintonia com os ensinamentos de Deus. E Jesus explica tudo isso a partir de alguns Mandamentos (neste domingo, nós temos quatro deles).

O Mandamento “não matarás!” parecia tão claro para todos, mas Jesus amplia e aprofunda a questão. Para os verdadeiros filhos e filhas de Deus, a forma correta de viver este preceito é evitar qualquer coisa ruim contrária ao próximo, desde os mais simples sentimentos, pensamentos e até palavras maldosas contra a outra pessoa. Para Jesus, pode-se matar alguém no coração e na mente. Para os seguidores do “Mandamento Novo” ensinado por Jesus, nada de ruim deve estar no coração dos seus seguidores, principalmente contra outra pessoa. Para Nosso Senhor, mesmo que alguém tenha realizado algo de muito ruim, nada pode desfigurar a sua situação de filho e filha de Deus que somos e, por isso, todos sempre seremos irmãos e irmãs uns dos outros. Enquanto caminhamos neste mundo, devemos sempre procurar o caminho da reconciliação e do perdão mútuo, pois um dia deveremos prestar contas de nossas escolhas e de nossos desejos bons ou ruins de nossas vidas.

Sobre o “adultério”, Jesus também afirma que tudo de errado pode acontecer na vida de uma pessoa casada, quando não controla os seus pensamentos e desejos. O problema não é “olhar para outra pessoa”, mas “olhar com cobiça”. Para Jesus, tal olhar já é um adultério, isto é, “estraga” a outra pessoa, “adultera” as relações entre as pessoas e as transforma em simples objetos. Cobiçar o outro como se fosse um mero objeto é transformar o compromisso do Matrimônio em algo sem valor. Para evitar corromper as relações entre as pessoas com um olhar de cobiça, Jesus convida à radicalidade: evitar a qualquer custo tudo que arraste a pessoa a destruir o próximo. Ser radical sempre contra aquilo que é pecado e que corrompe e destrói o valor que a outra pessoa possui de ser um filho e filha de Deus. Se alguém deseja aplicar a Jesus o título de “radical”, aqui temos um exemplo: Ele é profundamente radical a qualquer coisa que corrompa (que “adultera”) a pessoa em sua imagem fundamental de filhos e filhas de Deus, bem como a tudo que nos arrasta para o pecado.

Ainda no tema do Matrimônio, Jesus esclarece que Ele não é um liberal, mas reclama o sentido profundo da união entre o homem e a mulher. Naquele tempo, como atualmente, as pessoas não se empenhavam o suficiente para viver o Matrimônio como uma realidade fundamental para ambos. No dia em que se casam, o casal transforma-se em uma “só carne”; uma única pessoa nasce após o Matrimônio e, por isso, fazer mal a outra parte é como machucar a si próprio. Tirando as situações de uniões ilícitas, o Matrimônio será sempre uma união selada perante Deus, muito mais do que documentos e papéis. Novamente, Jesus esclarece que abandonar alguém que ainda perdura o vínculo matrimonial e se unir a outra pessoa configura um adultério, conforme Ele próprio afirmou anteriormente.

Por fim, a importância da seriedade com a nossa palavra. Jurar é emprestar algo ou alguém para reforçar e apoiar uma promessa ou algo que alguém afirma. Se a pessoa é séria e sua palavra é sempre sincera – segundo Jesus -, não há necessidade de apelar a nada, nem mesmo a Deus ou qualquer lugar importante. Uma pessoa que vive sinceramente a verdade e é sempre sincera tem palavra – como seus atos – que são, por si só, confiáveis e não necessitam jamais de qualquer juramento. Quem costuma jurar manifesta um sinal de que suas palavras não bastam para sustentar algo que almeja dizer.

Como o amor é um sentimento que nasce em nosso coração e deve ser colocado em prática, vimos que o ódio e o mal também têm suas origens dentro de cada um. Mesmo que a pessoa não consiga realizar, matar o próximo é desconsiderá-lo como pessoa (como coisa) que não tem valor. O mesmo se dá em relação a “mulher do próximo”: ver e desejar como objeto configuram não respeitar o próximo como pessoa.

Que o nosso “sim”, realmente, seja sempre uma afirmação sem qualquer mancha de dúvida, como também o nosso “não” seja sempre sincero e verdadeiro. Quando se procura uma vida em sintonia com os ensinamentos de Deus e acredita que Ele tudo sabe e conhece, a pessoa não terá muita dificuldade de viver sempre na verdade, pois a mentira é algo que arrasta a viver sempre se escondendo e negando os fatos. Tal sujeito pode passar a vida toda vivendo uma realidade que não é verdadeira. Além disso, jamais a esconderá de Deus. Ele não somente nos dá a sabedoria de que necessitamos (conforme a 2ª leitura) para bem realizar as coisas, mas também está pronto a nos ajudar a percorrer o caminho do bem e da verdade, princípios fundamentais para a nossa vida e existência neste mundo. A nós, cabe escolhermos o caminho do bem e vivermos, em nosso coração, o Mandamento do Amor, o qual é o próprio Senhor Jesus!

 

Faça o download da reflexão em pdf.