#Reflexão: 8º Domingo do Tempo Comum (27 de fevereiro)
A Igreja, neste domingo (27), celebra o 8º Domingo do Tempo Comum. Reflita e reze com a sua liturgia.
1ª Leitura – Eclo 27,5-8 (gr.4-7)
Salmo – Sl 91,2-3.13-14.15-16 (R. Cf. 2a)
2ª Leitura – 1Cor 15,54-58
Evangelho – Lc 6,39-45
PRODUZIR FRUTOS DE MISERICÓRDIA
No Evangelho de Lucas, continuamos ouvindo Jesus em sua instrução aos seus discípulos. Dois domingos atrás, Jesus iniciou sua pregação se dirigindo aos seus seguidores chamando aqueles que decidiram segui-lo de “bem-aventurados os pobres”, isto é, aqueles que abandonaram tudo para se tornarem seguidores e praticantes do projeto de Jesus. Era necessário insistir que não basta uma escolha inicial e um abandono material de coisas. A vida do discípulo deve ser um Evangelho aberto e um anúncio constante.
Percebe-se nas palavras de Jesus uma insistência em corrigir e alertar sobre o discípulo que não está em sintonia com o projeto de vida do Mestre. Ele está junto Dele, mas não assume os mesmos valores e comportamento como o de Cristo. Certamente, na comunidade de Lucas, tinham cristãos que se acostumaram com algumas práticas religiosas cristãs, mas tinham se esquecido do ardor em viver intensamente a misericórdia.
Não basta ter poder e autoridade para estar à frente guiando pessoas na fé. O Reino de Deus é um projeto novo de pessoas novas, com um coração novo. O mais importante não são as palavras, mas a vida do discípulo de Cristo que deve falar muito mais que frases e anúncios.
Neste domingo, Jesus inicia com uma parábola dirigida aos discípulos. Talvez, muitos na comunidade se colocavam como guias de outros ou mesmo daqueles que iniciavam o caminho de fé. Entretanto, segundo Jesus, no fundo, eram cegos. Tinham a mente cheia de ideias e informações, porém o coração estava longe do Mestre Jesus. Eram cegos guiando outros cegos. O primeiro seria cego porque vê o mundo mais com os seus olhos e valores do que os ensinamentos de Jesus. O segundo cego, talvez, representa aqueles que não conseguiram ainda serem curados da cegueira provocada pelos pecados e contra os valores evangélicos. O “guia cego” traz um dano a ele próprio e a outros irmãos: “caem juntos no buraco”.
O outro alerta de Jesus é que ninguém tem o poder de cancelar nada em relação àquilo que Jesus ensinou. O discípulo segue e pratica o que o Mestre ensina e não corrige o Mestre. Um discípulo nunca será maior que o Mestre. No máximo, consegue ser “como o Mestre” e repete o que o Ele ensinou e viveu.
Jesus se alonga em seu ensinamento sobre aqueles que não enxergam mais a si próprios, não julgam e nem avaliam os seus próprios erros, mas somente os dos outros. Esses discípulos se apresentam como atentos e até são minuciosos em perceber um cisco no olho do irmão. Eles são detalhistas com os outros, mas não consigo mesmos. O “cisco” no olho pode representar um erro, uma falha ou mesmo um pecado que uma pessoa cometeu, identificado pelo outro. No entanto, diz Jesus que a outra pessoa possui uma trave sobre os olhos. O cisco incomoda, mas a trave não deixa enxergar. É o exemplo de Jesus sobre o “cego que guia outro cego”.
O convite de Jesus aos seus discípulos e a nós é para cada um cuidar primeiro dos seus próprios pecados (“trava no seu olho”). O Reino de Deus deve acontecer na prática dos ensinamentos de Jesus e não na “intromissão” na vida do próximo, mesmo que seja algo como “um cisco em seu olho”. Tal atitude é classificada por Jesus como uma hipocrisia.
Para ajudar a entender esse ensinamento, Jesus busca o exemplo na natureza. Uma boa árvore frutífera não produz frutos maus, porém bons frutos. É preciso praticar e assumir todos os valores do Evangelho e, assim, se tornar uma boa árvore. Com isso, naturalmente, os bons frutos virão. É pelo que a pessoa pratica como valor e atitude que se reconhece se é ou não um bom discípulo de Jesus. Assim, não basta “saber” e ter boas intenções das coisas ensinadas por Jesus, o mais importante é praticar o que aprendeu a partir da convivência com o Mestre Jesus.
Jesus aponta o principal na vida do discípulo: o que ele guarda dentro de si mesmo. “Coração” na linguagem bíblica é o órgão da decisão e o centro da vontade da pessoa. É aquilo que o discípulo assumiu em profundidade no seu ser, em que ele acredita e que condiciona sua vida, suas palavras e suas ações. No Evangelho de São Lucas, “casa” representa o coração: lugar do encontro com Jesus. Em nós, de “nossa casa”, é que devem acontecer as decisões mais importantes de nossa existência.
A religião que Jesus deseja deve ter raízes profundas na convivência pessoal e duradoura do discípulo com o Mestre. Quem se propõe seguir Jesus, nunca deve deixar de ser discípulo. Ele deve ser alguém que, com alegria, partilha uma experiência de comunhão com Jesus, estendida a cada pessoa que encontrar.
Na primeira leitura, temos o alerta do autor sobre a palavra de cada pessoa. A palavra mostra o coração da pessoa, por isso é preciso “dar tempo” para ver se aquilo que alguém diz se confirma com a sua vida: “é no falar que a pessoa se revela”. Jesus conclui seu ensinamento lembrando que “a boca fala o que tem em abundância no seu coração”.