#Reflexão: 9º Domingo do Tempo Comum (02 de junho)

31 de maio de 2024
A Igreja celebra o 9º Domingo do Tempo Comum, neste domingo (02). Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Dt 5,12-15
Salmo: 80(81),3-4.5-6ab.6c-8a.10-11b (R. 2a)
2ª Leitura: 2Cor 4,6-11
Evangelho: Mc 2,23-3,6

Acesse aqui as leituras.

SÁBADO PARA DEUS E PARA O HOMEM

Retomamos nossa caminhada com o evangelista São Marcos. O Tempo Comum é um tempo do aprofundamento dos ensinamentos de Jesus. Neste domingo, o Evangelho mostra Jesus ainda no início de sua missão, com dificuldades em relação aos responsáveis pela religião da época.

A observância do dia de Sábado (dia de repouso para o judeu) era algo ligado ao que se tinha de mais profundo. Havia uma compreensão sobre este preceito como o mais importante, pois até mesmo Deus teria observado. Assim, não observar o Sábado, mais do que um pecado, era um confronto direto contra Deus: se até Deus observou, porque alguém não deveria guardar este dia? Por acaso, alguém poderia ser melhor que Deus?

No entanto, vemos que Jesus não era contra este dia santo semanal, mas sim, contra a compreensão em como se deveria viver este Mandamento.

Nos ajuda a compreender o que é o Sábado segundo as Escrituras e o que Jesus procurou mostrar como correto, a primeira leitura da missa (do Deuteronômio) que traz a passagem que explica o sentido originário do Sábado. No AT temos várias passagens que falam da obrigação de guardar o Sábado.

O autor sagrado, depois de orientar que se deve trabalhar seis dias e reservar o sétimo, pois o “sábado” é dia de repouso e dedicado ao Senhor. Duas ideias marcar este Mandamento. O homem e a sua necessidade vêm à frente do “dia de repouso”. O Sábado, assim, é uma escolha do homem livre que reserva o sétimo dia para si e para Deus. De fato, em seguida o escritor sagrado recorda a todos que é preciso fazer memória do passado.

O Sábado é uma celebração da libertação. É um ato que liga cada pessoa, sua família, suas coisas e sua história ao passado. O Sábado é um dia para se rebelar contra a escravidão que, no passado, o povo de Deus viveu.

Não fazer nada também se torna um ato celebrativo para todos da casa (pais e filhos) que deve se estender àqueles que são servos, mas não podem ser escravos (eles trabalham e os patrões descansam), assim deve ser também um sinal de respeito para com aqueles que servem e trabalham com seus senhores. O Sábado não pode perpetuar a escravidão no trabalho. Por isso, até os animais da família merecem o repouso: a alegria dos seus senhores, deve chegar até aos animais. Até mesmo os estrangeiros (que não teriam que observar nenhum Mandamento), também a eles deve-se oferecer a gratuidade de um dia de repouso.

Assim, o Sábado deve ser memória viva, semanal, na vida do judeu que não se deve mais ter entre eles, escravos e pessoas sem dignidade.

Guardar o sétimo dia também é uma forma de escolher a Deus. É o dia do homem e de Deus. Como Deus repousou neste dia, cada pessoa, como filho e filha de Deus deve fazer o mesmo. O filho segue o Pai; O homem, imagem de Deus, assim, se assemelha ao seu criador.

Com o tempo, o Sábado passou a ser o dia por excelência da alegria e da celebração. Livre de todas as tarefas desgastantes da vida, o ser humano pode expressar sua comunhão com Deus. Assim, o Sábado se tornou o dia do encontro com o Senhor. No dia Santo, o homem não faz nada para si, mas indo no lugar de oração (sinagoga) faz algo para Deus e com Deus.

Mas, ao longo do Antigo Testamento, o Sábado foi perdendo sua profunda ligação com a vida das pessoas. Todos tinham que observar inúmeros detalhes e normas para se sentir “observantes” do Sábado. O povo deixava suas tarefas diárias nos seis dias para entrar em um dia de escravidão religiosa. Os religiosos da época de Jesus tornaram o dia de Sábado um peso insuportável para as pessoas. O Sábado oprimia, não mais celebrava a libertação.

São Marcos nos apresenta duas situações sobre o Sábado. No primeiro caso, os discípulos saciaram a fome, colhendo trigo no Sábado. Matar a fome é um direito fundamental e inegociável, pois pode implicar na morte da pessoa. Não se alimentar é correr risco de vida. Jesus tem uma visão mais profunda sobre o ser humano e seus valores fundamentais. Para o Mestre Jesus, o ser humano e suas necessidades fundamentais devem sempre vir à frente de tudo.

O olhar dos fariseus não alcançava as pessoas, mas enxergam somente preceitos e normais.

Jesus recorda a todos como na própria Bíblia havia exemplos sobre o que se deve realmente observar que é a vida e não a fria leis e os Mandamentos.

Jesus lembra de Davi e seus companheiros que fizeram algo muito mais “grave”, pois entraram no santuário e pegaram para se alimentar, pães sagrados reservados aos sacerdotes. Jesus conclui com uma frase que resume todo o sentido do Sábado que aqueles homens da lei e da religião tinham perdido: o Sábado é que deve servir ao homem e não o contrário.

Para Jesus, o sétimo dia deve ser o ponto alto na vida de um fiel que valoriza a vida, que quer sempre o bem do próximo. O Sábado não deve ser algo a ser observado porque Deus necessita, mas uma forma de cultuar a Deus fazendo o bem ao próximo. Nas palavras de Jesus, o Sábado (representando a religião) é que deve servir o ser humano e suas necessidades.

Desprezar o próximo com suas necessidades, esvazia o Sétimo Dia, pois o melhor lugar para cultuar e celebrar este dia especial é acudindo o próximo e sempre fazer o bem.

Marcos, em seguida, nos dá um exemplo concreto daquilo que Jesus tinha exposto aos fariseus. Num dia de Sábado, Jesus como um bom judeu, foi rezar na sinagoga, fazendo o que todos realizavam com zelo. No entanto, havia ali uma pessoa com as mãos secas, alguém que não podia trabalhar normalmente. Todos olhavam Jesus, mas não viam o homem doente; sabiam que Jesus poderia curar e resolver o problema daquela pessoa, mas estavam curiosos se Ele iria “fazer algo” no dia de Sábado o que era proibido.

Jesus também olha a todos, além de ver o homem com o problema na mão. Sua atitude inicial foi revolucionária: tira aquele homem da periferia do espaço religioso, alguém que estava sendo somente instrumentalizado e usado pelos religiosos “para poder acusá-lo”; Jesus o coloca no centro. Ali todos poderiam ver melhor, mas Jesus provoca a todos com este gesto, pois a pessoa era necessitada, agora aquele homem é que está no centro daquele lugar de culto.

Uma religião que marginaliza as pessoas, principalmente, os doentes; que instrumentaliza os sofrimentos e trata aqueles que podem oferecer pouco, como objetos, não é uma religião de Deus. O ser humano com suas necessidades e sofrimentos é que devem ter nossa atenção e nosso cuidado.

A pergunta de Jesus foi questionadora: o Sábado (que representava o centro da religião judaica) não ajuda a ter um olhar de misericórdia para com as pessoas necessitadas, estaria fazendo a vontade de Deus? É justo ou não fazer o bem no Sábado? Eles imaginavam o Sábado com um dia reservado somente para as coisas de Deus, mas não um dia para celebrar a vida e fazendo o bem ao próximo. No texto da 1ª leitura, primeiro vem o homem que precisa descansar, depois o sábado como dia dedicado a Deus.

Marcos diz que Jesus olhou para todos, mas com um olhar de tristeza e decepção, pois o silêncio de todos era já uma resposta clara para Jesus: eles não estavam interessados por aquela pessoa doente. As palavras questionadoras de Jesus não atingiram seus corações. Esperavam somente a ação de cura, para acusá-lo.

E Jesus faz o bem, curou o doente, agindo e realizando o que Ele ensinava.

O evangelista tristemente constata que eles saem da sinagoga e tramam a morte de Jesus. O lugar que deveria ser sagrado, se torna palco de trama da morte. O descaso para com o doente, já era um sinal do desprezo pela vida; tinham criado uma religião que colocava normas e Mandamentos não a serviço do bem, mas como instrumento do mal.

“Misericórdia” é gesto de Deus que Jesus procura expressar em Palavras e ações. É o dom sublime e maior que todos devemos trazer como “tesouros em vaso de barro” (2ª leitura). Assim, o melhor modo de se celebrar o dia santo de Deus é sempre celebrar a vida, cuidar do próximo, celebrando e fazendo sempre o bem. Assim, o nosso Dia do Senhor (para nós cristão, o domingo) passa a ser um momento de se celebrar a vida em nós e em nossos irmãos e irmãs.

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