#Reflexão: Comemoração de todos os fieis defuntos (02 novembro)
A Igreja celebra a comemoração de todos os fieis defuntos, neste sábado (02). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Jó 19,1.23-27a
Salmo: 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
2ª Leitura: 1Cor 15,20-24a.25-28
Evangelho: Lc 12,35-40
CELEBRAÇÃO DE FINADOS
A celebração de Finados possui uma liturgia com possibilidade de escolher leituras do Antigo Testamento, do Novo Testamento e Evangelhos que trazem como reflexão a morte como drama que compõe a nossa existência, mas em confronto com a nossa fé na Vida Eterna que nos prometeu.
Assim, a liturgia de hoje não tem lágrimas, porque o que comemoramos não é a morte, mas a ressurreição. A celebração de hoje tem um olhar que nos coloca à frente, no futuro; ela, na verdade, não fala sobre o fim, mas sobre a vida. Ouvimos no Evangelho (Jo 11,17-27) um lamento, muito semelhante a tantos de nossos lamentos: “Se o Senhor estivesse aqui meu irmão não teria morrido”. Marta tem fé em Jesus, mas ainda tinha uma visão que se encerrava para esta vida e para este mundo. Se Deus existe – muitos afirmam – por que tantas mortes de inocentes?… Em vez disso, Deus está aqui, sim! Sempre! Mas não para nos isentar do futuro comum a todos (a morte), mas para nos dar um sentido de como devemos viver o nosso presente (Ermes Ronchi).
A ferida da perda de alguém nos atinge profundamente porque são pessoas que amamos. Talvez seja precisamente por esta razão que entre os Evangelhos de hoje, Jesus diz explicitamente: “E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nada daquilo que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6,40). Nada se perderá porque tudo está nas mãos de Jesus e mesmo que uma ausência e uma falta nos pesem, nos dá força saber que esta ausência e esta falta têm os dias contados.
Tudo o que amamos nunca se acaba no nada porque Deus é Amor pleno e total. Jesus, triunfou sobre cada morte, sobre cada ausência, sobre cada dor e amargura. Diante da morte de alguém que amamos é saudável dizer: “estou com saudades”, mas também saber que não será para sempre.
É bom recordar que existe uma ligação misteriosa que nos une a todos e que se chama “comunhão dos santos”. Assim, podemos chorar pelas pessoas que já se foram, porque as amamos muito e não porque não há mais nada a fazer.
A ideia da morte é um grande exercício de realidade para todos neste mundo. No entanto, para o cristão, o pensamento da morte não é apenas a experiência de colidir com a verdade de que a nossa vida tem um limite, uma barreira que a encerra. Desde que Jesus entrou na história, já não estamos perdidos, mas sim dominados por um bem que não nos abandona, sobretudo quando terminam os nossos dias neste mundo.
Jesus enfrentou a morte por nós e a venceu também por nós. Ele abriu uma estrada para que também pudéssemos atravessar e não ficar no meio do caminho, na escuridão e de um vazio sem esperança.
É por isso que hoje celebramos não apenas uma memória daqueles já falecidos que continuamos amando, mas celebramos nossa esperança de que nada e ninguém que amamos se perdeu. A ressurreição é a nova luz que nos ajuda a iluminar as trevas da morte.
Não nascemos para a morte, nascemos para a vida, e o nosso destino é a vida e não a morte. E se a morte existe é apenas porque é uma passagem. Jesus transformou o que antes era apenas uma parede em uma porta. É assim que devemos acolher a morte: não como um muro que um dia iremos bater, mas como uma passagem a ultrapassar. A experiência do encontro com Cristo é exatamente esta passagem.
Jesus nunca prometeu que seus amigos não morreriam. Para Ele, o maior bem não é uma vida longa, uma sobrevivência infinita; o essencial não é “não morrer”, mas sim, viver uma vida de ressuscitado. A eternidade já entrou em nós muito antes de acontecer: entra com a vida de fé (“quem Nele crê, tem a vida eterna” – Jo 3,36), entra com os gestos diários de amor. O Senhor nos ensina a ter mais medo de uma vida errada (no pecado) do que da morte; temer mais uma vida vazia de amor e de pessoas.
São Paulo nos apresenta a sua fé dizendo: “quem nos separará do amor de Cristo? Nem anjos nem demônios, nem vida nem morte, nada jamais poderá nos separar do amor” (Rm 8,35-37). Se Deus é amor, Ele vai nos vingar na nossa morte com a Ressurreição, pois Deus tem um Amor de Pai que nunca se separará de nós. O nome de Jesus significa “Deus salva”; “salvar” significa conservar. Aqueles que estão com Jesus nesta vida, jamais se perderão após terminarem sua jornada neste mundo.
A “memória dos mortos” (Finados) torna-se então, antes de tudo, reconhecimento de uma dívida que temos. Tudo o que nos beneficia hoje foi preparado por outros que nos precederam, e o que vivemos foi sempre vivido com outros dos quais alguns, poucos ou muitos, já morreram (Enzo Bianchi). Assim, a vida vai progredindo onde todos participam, cabe a nós cristãos, deixar o melhor de nós para outros que virão e têm o mesmo direito de usufruir o melhor das pessoas e deste mundo.
Uma oração pelos nossos irmãos falecidos, seria de pedir que desfrutem da luz do “rosto de Deus”. Um rosto de Pai que acolhe a cada um, acima de tudo, porque somos filhos e filhas. Não por nossos méritos ou erros; ou nossas vitórias ou pecados. Deus não é uma resposta à nossa necessidade de explicações, mas é uma explicação à nossa necessidade de felicidade; Ele é tudo para o meu espírito e para todo o meu ser.
Movidos pelo nosso amor e ainda querendo o bem por aqueles que já foram a frente de nós, rezamos por eles. A missa é a maior oferta de bem para aqueles que já partiram, pois se ainda necessitam de algo para obterem a convivência eterna com Deus, nossos pedidos vão ajudar. Aqueles que já estão com Deus, eles é que intercedem por nós para perseveremos em nosso caminho de amor deixado por Jesus.
Nossa experiência afirma que tudo vai da vida à morte. A fé cristã declara, pelo contrário, que a existência neste mundo passa da morte para a vida.