#Reflexão: Festa da Sagrada Família Jesus Maria e José (29 de dezembro)
A Igreja celebra a Festa da Sagrada Família Jesus Maria e José, neste domingo (29). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Eclo 3,3-7.14-17a
Salmo: 127(128),1-2.3.4-5 (R. cf.1)
2ª Leitura: Cl 3,12-21
Evangelho: Lc 2,41-52
CELEBRAÇÃO DA SAGRADA FAMÍLIA
Celebramos no final no meio desta semana o Natal de Jesus. Mais do que o nascimento de uma pessoa é a encarnação do Verbo, filho de Deus Pai que se estabeleceu para sempre na humanidade e dentro de nossa realidade. São João nos diz que a Palavra de Deus armou sua tenda entre nós, se fazendo um de nós, para depois, permanecer em nós e entre nós. A encarnação não foi um gesto bonito ou fantástico de Deus, mas algo que mais tem a aparência de nossa realidade do que um esplendor divino. Meditamos que um local de animais pode se tornar um palácio ou um templo se tem Jesus como centro, mas um palácio ou uma casa sem Jesus, não é nada.
Bastou tão pouco para a promessa do Salvador se realizasse: um local de animais e duas pessoas enamoradas. E ao redor daquele casal, todos os desafios e problemas de nossa realidade e de tantas famílias estavam presentes.
A Sagrada Família não teve um início de vida diferente como de muitas outras famílias: desafios, riscos, medos, insegurança, perseguição, falta de comodidade, imposição de leis dos poderosos etc. A Família de Nazaré não viveu uma fantasia. Maria e José não encenaram uma realidade, mas viveram intensamente todos os momentos, todos os riscos e todas as ausências. Jesus não se encarnou em uma realidade ideal e perfeita de conto de fadas. Não! A encarnação de Jesus foi na mais pura e real realidade humana!
Deus escolheu viver intensamente todas as realidades humanas, principalmente as mais desafiantes. Assim, aprendemos que a ausência de estabilidade e seguranças humanas não significa ausência de Deus. No entanto, vemos que a Sagrada Família nunca ficou desamparada e sem rumo. O Criador escolheu muito bem duas pessoas que se amavam profundamente e que estavam vivendo uma profunda experiência de amor, doação e sonhos como qualquer outro casal. O verbo para se fazer carne passou por esta relação tão preciosa a nós que é a relação de amor em uma família.
Naquela época que Jesus nasceu, Deus não escolheu o melhor momento político e histórico para iniciar seu projeto de salvação no mundo, ou a noite ideal, nem uma estação do ano mais adequada e nem uma melhor realidade material para que seu Filho viesse ao mundo (uma casa, um berço, roupas, apoio familiar…). Ainda. O Natal que celebramos, vemos uma total ausência de segurança e comodidade, uma total ausência de tudo. No entanto, aprendemos que Maria e José, tudo que afrontaram, somente conseguiram enfrentar porque estavam juntos!
O texto de Eclesiástico (1ª leitura) retrata bem a grande importância que a família possuía para o povo de Deus. Não era vista como uma instituição social ou meramente convencional, ou ainda resultado somente da vontade ou modalidade humana, a família é uma instituição preciosa. A Igreja chama corretamente de “Instituição Divina”, muito mais do que algo conforme a conveniência e os desejos humanos.
Segundo o escritor sagrado, a relação interna entre pais e filhos é a melhor experiência que alguém pode fazer do amor, da misericórdia, caridade, compreensão, enfim, de tudo que é fundamental para a sua felicidade. A primeira experiência de Deus que alguém faz é através de seus pais com o dom da vida, expressão do dom maior da criação de Deus. O povo de Deus sabia e cultivava essa importância como fundamental e sacra: Deus Pai abençoa os filhos através de seus pais e vice-versa. Honrar os pais já é cumular tesouros para a vida, o filho tem uma bênção que se prolonga e prospera por toda vida. São riquezas que não se confundem com dinheiro, ouro ou qualquer coisa material que expressa valor, são tesouros que enriquecem a existência humana.
No Evangelho temos não um retrato de uma família isenta de dificuldades e problemas, mas quase a mesma realidade de tantas famílias. Nada foi fácil para todos, seja para entender, como também para cumprir a vontade divina. Deus Pai poderia isentar seu Filho Jesus (com seus pais) de toda amargura e sofrimento, mas se assim o fizesse, deixaria de ser Encarnação na realidade humana.
Os dramas de uma família podem acontecer com inúmeros desafios externos que o mundo se encarrega de apresentar. Mas, também há desafios e dificuldades internas, dentro de nossos lares que em muitos casos, fazem parte do processo normal de caminhada dos filhos e dos pais, como vemos no Evangelho deste domingo da Sagrada Família.
“Filho, por que você nos deixou ansiosos?” É a história de uma família que alterna dias serenos e tranquilos com dias dramáticos, como acontece em todas as famílias, principalmente com filhos adolescentes. Mas é preciso saber aproveitar bem as crises, através do diálogo sem ressentimentos e sem acusações. Filho, por quê? O interesse de Maria não visa a censura, não acusa, não julga, não se deprime porque o filho a fez sofrer, mas procura compreender e acolher uma diversidade difícil.
Mais do que repreender o filho, Maria quer entender, porque sempre há uma explicação, e talvez muito mais bonita e simples do que se temia. Um diálogo sem ressentimentos e sem acusações: diante dos pais, que estão ali e se amam – as duas coisas que importam para os filhos – está um menino que escuta e responde. O diálogo é uma coisa ótima, até cansativa: se as coisas são difíceis de dizer, não dizê-las torna-se ainda mais difícil.
“Vocês não sabiam que eu devo cuidar dos negócios de meu pai?” Os nossos filhos não são nossos, pertencem ao Senhor, ao mundo, à sua vocação, aos seus sonhos. Uma criança não pode e não deve estruturar a sua vida de acordo com os pais. É como parar a roda da criação.
“Mas eles não entenderam” e ainda assim nenhum drama ou chantagem emocional, nenhum encerramento do diálogo. Uma criança nem sempre é compreensível, mas sempre pode ser abraçada. “E eles desceram juntos para Nazaré”. Começam de novo, mesmo que nem tudo esteja claro; perseveram no eco de uma crise, meditando e guardando gestos, palavras e perguntas em seus corações até que um dia se desfaça o fio de ouro que iluminará e amarrará tudo.
Jesus saiu com eles, voltou para casa e foi submisso a eles. Há incompreensão, há uma dor que pesa no coração, mas Jesus volta com aqueles que não o compreendem. E Ele cresce dentro daquela família santa, mas não perfeita; santa e limitada. São santos, são profetas, mas não se entendem. E nós ficamos surpresos que às vezes não nos entendemos em nossas casas? Todos imperfeitos em diferentes aspectos, mas todos capazes de crescer. Jesus deixa os mestres da Lei e vai com José e Maria, mestres da vida: ao templo Deus, Jesus prefere o lar, lugar do primeiro e mais importante ensinamento, onde as crianças aprendem a arte de ser felizes: a arte de amar. Ali Deus se encarna, nos toca; faz isso no rosto, nos gestos, no olhar de todos que se amam. É Ele quem dá alegria a quem produz amor (Ermes Ronchi).
Aprendemos com a Palavra de Deus que o Matrimônio é tão sagrado quanto o sacerdócio. A família é o lugar onde se aprende o primeiro e o mais belo nome de Deus: que Deus é amor. Na família é que se ensina a arte de viver; a arte de doar e receber amor.
Se em uma família falta este amor profundo que é capaz de superar tudo e todos os obstáculos, se falta a convicção que realmente Deus é conosco… a família sempre viverá uma profunda ausência que nenhuma coisa material será capaz de preencher. Os casais podem ter muitas coisas deste mundo, mas nada será maior que Deus e o seu amor entre eles.
Não existe família perfeita, sem problemas, sem desafios, sem medos e receios diante dos obstáculos… Nem a família de Nazaré tinha tudo sob controle; nem estavam sempre seguros sobre o que tinham que fazer. Deus não aliviou os desafios (com um passe de mágica), mas procurou indicar sempre a melhor saída e estrada a ser percorrida.
Um dos males dentro de uma família é a sensação que eles estão vivendo sob o mesmo teto, mas não estão juntos; não vivem o mesmo sonho; o amor em gestos e palavras não existe mais… Em muitos casos, as famílias têm muitas coisas materiais, mas vazias de coisas espirituais. São pessoas estranhas que só trocam algumas coisas entre si: alimento, serviços, intimidade etc. Nunca deixe que as pessoas que você ama se sintam sozinhas em sua casa!
Feliz Natal e Feliz Ano Novo!