#Reflexão: Missa do Crisma (6 de abril)

6 de abril de 2023

Em Pouso Alegre (MG), na Catedral Metropolitana, hoje (6), às 9h, aconteceu a Missa do Crisma. A celebração foi presidida por dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., arcebispo metropolitano. Clérigos, religiosos e fiéis da arquidiocese estiveram presentes. Participaram também clérigos, religiosos e fiéis missionários de outras comunidades, os quais estão na arquidiocese, nesta Semana Santa, para auxiliar nas atividades pastorais e sacramentais. Leia na íntegra a homilia de dom Majella.

 

Saúdo com grande afeto o Vigário Geral, ilustres membros do Cabido metropolitano, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, cristãos leigos e leigas aqui presentes; os membros da etapa setorial do nosso primeiro Sínodo Arquidiocesano; saúdo com reconhecimento e gratidão os sacerdotes, religiosas e seminaristas visitantes que se encontram nas comunidades eclesiais de nossa Arquidiocese evangelizando nesta Semana Santa; saúdo os que se encontram unidos a nós mediante as plataformas digitais e pela Rádio Difusora HD, da nossa Arquidiocese.

No centro da liturgia desta manhã, está a bênção dos santos óleos: o óleo para a unção dos catecúmenos, o óleo para a unção dos enfermos e o óleo do Crisma para os grandes sacramentos que conferem o Espírito Santo, ou seja, a Confirmação, a Ordenação Sacerdotal e a Ordenação Episcopal e, ao mesmo tempo, esta celebração considera a festa dos sacerdotes.

O óleo bento e consagrado que será distribuído nesta manhã de hoje às nossas paróquias, deriva do único sacramento da Morte e Ressurreição de Jesus. Os sacerdotes que receberão este único óleo para a celebração dos sacramentos na nossa Arquidiocese são servos da vida. É por isso que hoje, Quinta-feira Santa, é também a festa dos sacerdotes, cuja tarefa é pegar o óleo da vida e vertê-lo em todo o corpo da Igreja.

Queridos padres, a celebração da missa do Crisma é expressão de unidade e comunhão em vista da missão. A unidade e comunhão que exprimimos e fortalecemos em cada Eucaristia constituem uma força capaz de unificar as múltiplas e diferentes tarefas do sacerdote (Presbyterorum ordinis, 14), que o levam a participar da caridade pastoral de Cristo Jesus. De modo particular nesta concelebração da Missa Crismal, a unidade dá-se não apenas entre nós, caros padres e diáconos, mas também com todo o povo de Deus.

A unidade está presente na unção batismal pela qual o Espírito faz de nós membros de Cristo sacerdote, profeta e rei; no nosso ministério e na nossa ação pastoral, com a missão de ensinar, apascentar e celebrar/santificar. Está igualmente presente ao exprimirmos também, neste dia, a renovação pública das promessas sacerdotais, como expressão de fidelidade a Cristo, ao dom do sacerdócio recebido e à Igreja da qual somos servidores. Unidos no único sacerdócio de Jesus Cristo, bispo e sacerdotes, somos “servos” do Mistério que celebramos. Quem age verdadeiramente na Igreja, por nosso intermédio, é o Espírito de Cristo, o Espírito Santo. Aquele que enviou Cristo a anunciar a boa nova aos pobres, como ouvimos no evangelho que foi proclamado, é o mesmo que hoje nos (re)envia a nós.

O padre é o homem da comunhão. Filhos caríssimos, eu gostaria de pedir-lhes acima de tudo: permaneçamos unidos, fiquemos um ao lado do outro. Somos sobreviventes de uma pandemia. Que esta experiência possa canalizar em nós a fraternidade, pondo fim a indiferença, as desavenças, os ciúmes, a inveja e ao individualismo. Precisamos voltar a sentir que necessitamos uns dos outros, que somos responsáveis pelos outros, pelo padre, irmão de presbitério.

O apóstolo Paulo nos oferece ricos conselhos: “que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, estimando-vos reciprocamente” (Rm 12,10); “mantende um bom entendimento uns com os outros” (Rm 12,16); “suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente” (Cl 13,13); acolhei-vos uns aos outros, por amor fazei-vos servos uns dos outros; “alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Rm 12,15). Sabemos que nem sempre é fácil. Também aqui há simpatias, grupos etc. Isso não é mau, é natural, pois “ai do homem só”! O mal está quando bebemos da mentalidade do mundo e agimos para nos afirmarmos, negando o direito do outro ou dando-nos à maledicência. Creio poder afirmar que é um campo onde todos precisamos de conversão. As soluções não estão fora, mas dentro de nós.

A Igreja diocesana é a nossa família e a arquidiocese tem um dever e uma dívida de gratidão para com todos os padres que aqui vivem e servem com o seu ministério sacerdotal o povo de Deus. Somente como irmãos de Jesus Cristo, somente como parte da grande comunidade podemos, como indivíduos, oferecer um serviço a toda a Igreja e por toda a Igreja. “O sacerdócio é um serviço que pode ser prestado somente no ‘nós’” (Papa Bento XVI).

No evangelho que ouvimos, Lucas descreve a atividade de Jesus na Galileia como o anúncio (em palavras e em gestos) de uma “boa notícia” dirigida preferencialmente aos pobres e marginalizados (aos leprosos, aos doentes, aos publicanos, às mulheres), anunciando-lhes que chegou o fim de todas as escravidões e o tempo novo da vida e da liberdade para todos. Lucas anuncia também, neste texto programático, o caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade a Cristo. A comunidade crente toma consciência, através deste texto, de que a sua missão é a mesma de Cristo e consiste em levar a “boa notícia” da libertação aos mais pobres, débeis e marginalizados do mundo. Ungida pelo Espírito para levar a cabo esta missão, a Igreja cumpre o seguimento de Jesus.

Com o desejo de que esta proposta libertadora de Jesus chegue a todos, com ações imediatas, iniciamos a segunda assembleia sinodal arquidiocesana, com a etapa Setorial. A sinodalidade expressa a participação e a comunhão em vista da missão. A experiência da sinodalidade, o caminho conjunto realizado pelas paróquias na primeira fase do Sínodo, ensinou-nos a olhar para a realidade da Arquidiocese, a discernir e perceber o caminho que percorremos, caminho de descoberta de como ser Igreja sinodal, apontando a comunhão e a evangelização como duas marcas deste caminho. É o gosto de trabalharmos em conjunto que vem fazendo a Arquidiocese continuar a estar “reunida em sínodo” e que quer “caminhar unida”. Vivemos a grande oportunidade para colocar em prática “a igreja em saída”. Vamos juntos fazer este caminho. O itinerário sinodal é um tempo especial de reflexão e vivência do tema: “Igreja: caminho de comunhão para a missão”. Ele não se reduz à reflexão, mas consiste num exercício efetivo de sinodalidade. A Igreja sinodal é essencialmente servidora, uma comunidade que caminha, constituída de pessoas voluntárias e disponíveis, voltadas exclusivamente para Jesus, que é caminho, verdade e vida. A vida da nossa Arquidiocese, nos próximos dois anos, será absorvida pela grande realidade deste caminho sinodal, para sermos mais missionários nas comunidades cristãs. Confiamos o fruto desta segunda etapa sinodal à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, para que nos acompanhe, nos conforte quando estivermos cansados e nos encoraje a estarmos enraizados e ousados, percorrendo o caminho sinodal.

Queridos padres, pelo chamado que Deus lhes dirigiu e ao qual respondestes, pelo esforço no serviço dos irmãos, pelas dores aliviadas e pela coragem e esperança infundida em nome de Deus, particularmente nestes tempos difíceis de falta de solidariedade e de zelo missionário no coração de muitos dos nossos padres, de crise de vocações na Igreja, dos problemas da sociedade atual que afetam a família, do abandono da fé, da descristianização das paróquias e comunidades e do abandono da vida eclesial, digo-lhes: Coragem! Amem sua vocação, que é graça e missão. Com o coração ardente, que os seus pés se ponham a caminho em saída missionária. O Senhor não nos faltará com a sua graça. Unidos a Ele e entre nós, seremos sinais e portadores do seu amor que cura, unifica, fortifica e salva.

A todos, irmãos e irmãs, peço que louvem sempre o Senhor, por mim, bispo desta Igreja e por estes padres que Ele chamou para o serviço eclesial, e que peçam sempre por nós, para que sejamos santos na unidade do Espírito, a fim de sermos para vocês e para toda a Igreja testemunhas e instrumentos de comunhão, de serviço evangélico e de anúncio credível do Evangelho.

Amados irmãos e irmãs, com este sentimento e com emoção, me encontro diante de vocês, olhos nos olhos, coração a coração, como bispo, os convido, filhos caríssimos, a renovarem as promessas sacerdotais, ao serviço dos irmãos e irmãs aos quais o Senhor nos enviou.

 

Faça o download da homilia em .pdf.

 

 

Imagens: seminarista Márcio Aurélio Gonçalves Junior e Fernanda Gomes

Privacy Preference Center