#Reflexão: Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria (08 de dezembro)
A Igreja celebra a Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, neste domingo (08). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Gn 3,9-15.20
Salmo: 97(98),1.2-3ab.3cd-4 (R. 1a)
2ª Leitura: Ef 1,3-6.11-12
Evangelho: Lc 1,26-38 (Anunciação)
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
A celebração da Imaculada Conceição de Maria possui uma profundidade que vai muito além de um fato ocorrido com a mãe de Jesus. A salvação da humanidade dependeu inicialmente de uma mulher (Maria) da mesma forma que por outra mulher (Eva), a humanidade passou a receber como herança o pecado.
Duas mulheres especiais e privilegiadas, mas com escolhas diferentes e consequências também diferentes. Nas páginas do Gênesis, logo no início, temos a narrativa da criação do mundo e como tudo foi organizado harmoniosamente por Deus. O primeiro casal foi pensado por Deus como obra prima, por isso, ao criar Adão e Eva, Deus os fez a sua imagem e semelhança, expressões que mostram a proximidade entre o Criador e suas criaturas, mas ao mesmo tempo sua dependência e responsabilidade: seriam os primeiros e a partir deles a humanidade receberia todos os privilégios que eles mesmos receberam ao serem criados. Mas, a história teve outra direção por causa da escolha errada do primeiro casal.
A 1ª leitura da celebração de hoje nos coloca no momento crucial entre Deus e os nossos primeiros pais. Eles haviam comido do fruto proibido, fizeram exatamente o contrário em relação àquilo que eles tinham sido orientados para não fazer. O Criador ofereceu tudo da criação e pediu que usassem da liberdade para escolher ficar do lado de Deus, de obedecer as suas palavras e cumprir sua vontade.
Poderiam usufruir de toda criação, menos de duas árvores; podiam governar e usar tudo que tinha sido criado, menos dos frutos proibidos. As escolhas foram simples, mas as consequências foram imensas.
A serpente representa tudo aquilo que está em um nível inferior, que se arrasta pelo chão, “come a poeira da estrada” (cf. 3,14), expressão de máxima humilhação e degrado. Adão e Eva em pleno uso da liberdade e escolha dão ouvidos à conversa da serpente. Ao escutar e fazer aquilo que a serpente apresentou, escolhem outro projeto e não aquele apresentado por Deus. O erro não foi somente de comer um fruto qualquer, mas as motivações, desejos e sonhos que alimentaram em seus corações a partir da palavra da serpente. Pensavam e desejavam, ao comer do fruto proibido, que seriam iguais a Deus, competindo com Ele; não lhes bastava ser imagem e semelhança, mas cobiçaram a mesma grandeza do Criador. O primeiro casal usando da liberdade plena dada pelo Criador não conseguiu nada daquilo que eles cobiçaram, mas ao contrário perderam o que já tinham.
O diálogo entre Deus Pai Criador com Adão e Eva revela as consequências dos seus atos. (a) Sentem medo de Deus: o pecado destrói a relação entre todos a começar com Deus Pai; (b) não assumir os erros: um empurra para o outro a responsabilidade do erro cometido, sempre é o outro que é o errado; (c) destrói a relação entre o casal, causa desunião; (d) revela a indigência e a baixeza da natureza humana que é representada pela expressão de nudez; (e) o pecado distancia o Criador da criatura que busca se esconder reconhecendo seu erro. Mas, não obstante tudo isso, Deus Pai se aproxima de seus filhos, pergunta a ambos esperando algum ato de arrependimento e pedido de perdão. O pecado das criaturas, não muda nada em Deus: Ele continua sendo o mesmo, se aproxima, dialoga e dá espaço para a retratação. Mas, Adão e Eva só sabem acusar um ao outro do erro cometido. Mas, há uma esperança que fica mesmo depois do erro do primeiro casal.
Adão e Eva se revelam frágeis e vulneráveis diante da tentação deste mundo. Ao condenar a serpente que representa tudo que arrasta o homem à mesma realidade, isto é, a se distanciar do Criador e a condição de rastejante e miserabilidade, Deus deixa claro que essa batalha na história humana iria conhecer uma profunda mudança: se por uma mulher o pecado passou a ser transmitido a todos os seus descendentes, outra mulher iria ser responsável pela mudança radical. Entre a serpente que representa tudo que é contrário ao projeto de Deus, que arrasta a humanidade para longe do Criador, existirá uma rivalidade profunda, pois são diferentes: a mulher da promessa é superior à serpente, pois não se encontra no mesmo nível, não está rebaixada à condição pecaminosa de Adão e Eva, por isso, ela terá uma descendência que vai pisar a cabeça da serpente e esta incomodará procurando abocanhar seu calcanhar.
O mal sempre estará ao lado e pronto a ferir, mas jamais vencerá e jamais vai se sobrepor ao bem; pode ferir o calcanhar, mas o coração da humanidade pertence a Deus. Sempre está à espreita e pronto a atacar, mas está sempre atrás e não é o futuro que nos espera. Adão e Eva perdem o paraíso, mas saem com uma esperança, um futuro que um dia acontecerá com uma nova mulher (Ermes Ronchi). Maria é essa mulher que fez uma nova escolha e permanece fiel ao projeto de Deus.
O Evangelho é um momento de luz que ilumina muito mais que uma jovem e um vilarejo, mas toda história humana. Não mais serpente, mas um anjo enviado como o mais sublime dos anjos, Gabriel. Que voa do templo e da falta de fé de um sacerdote, para encontrar em uma vilazinha uma jovem noiva. Uma mudança radical: do lugar mais santo a uma varanda de uma casa; de um lugar de incenso e candelabros de ouro a uma cozinha de uma família desconhecida; de um ancião sacerdote a uma jovem prometida em casamento; da cidade Santa a uma desconhecida vila de Nazaré. O cristianismo não inicia em um Templo, mas em uma casa. É a única vez na Bíblia que Deus através de seu anjo principal cumprimenta uma mulher. Não é a jovem que expressa palavras de admiração e alegria, mas o anjo que convida a um louvor, pois a jovem é “cheia de graça e o Senhor está contigo”.
Maria é especial, pois antes mesmo do nascimento de Jesus que instaurou o projeto de salvação de Deus neste mundo, ela é chamada por Deus através do anjo de “cheia de graça”. Nos é anunciado que a jovem de Nazaré foi escolhida, desde sempre por Deus. Sem ela saber, o Senhor já estava com ela. Maria foi gerada sem a mancha original, herança que Adão e Eva passaram a transmitir à humanidade. Mas, mesmo sendo “plena de graça” era necessário que ao ouvir o projeto de Deus, ela desse o seu sim incondicional e irreversível fazendo corretamente aquilo que Adão e Eva não fizeram. Com a aceitação de Maria da sua vocação (mãe do Salvador), o Senhor que estava com ela, passar a habitá-la plenamente e assim, gerar o Salvador.
Foi o momento crucial para toda a humanidade, pois a má escolha do primeiro casal acarretou como herança não as graças e bênçãos originais, mas o pecado. Tudo inicialmente passou a depender de uma escolha feita a partir de uma decisão livre e sincera. Maria interroga o anjo Miguel para saber o que ela deveria fazer, o que tocava a ela realizar no novo projeto de Deus. Ela estava já noiva e os seus próximos passos, ela sabia o que tinha que fazer, mas como conciliar o novo projeto do Criador com a sua história pessoal, assim o anjo procurou esclarecer como ela deveria proceder.
Toda escolha possui consequências e, muitas vezes, os efeitos de uma decisão atingem a muitas pessoas. Adão e Eva pensaram neles mesmos, em seus sonhos pessoais e egoístas onde Deus era concorrente e opositor, Maria fez o contrário. Ao saber como deveria proceder, ela se entrega completamente a esse plano novo de Deus para a humanidade. Eva se tornou mãe da humanidade marcada pelo pecado, Maria se torna mãe de uma nova humanidade.
Ao determinar o destino do mal representado pela serpente, Deus Pai Criador deixa a promessa de uma nova humanidade a partir de uma Nova Mulher e da mesma forma que Eva passaria a ser mãe de humanidade pecadora, Maria e seus descendentes seriam o caminho de salvação para os filhos e filhas de Deus.
Sabemos que toda redenção humana veio por Jesus, mas Deus quis novamente contar com pessoas para iniciar essa nova história. Adão e Eva não foram fiéis e mancharam a humanidade, era preciso para o novo plano de Deus, uma nova Mulher, uma nova escolha que marcasse o início da salvação da humanidade. Com o sim profundo e sincero de Maria, toda a história começou a ter um novo início que culminou com a vinda de Jesus e se tornou pleno e eterno com sua morte e redenção.
Maria é a mãe do redentor e segundo a promessa do Gênesis, Maria é também a mãe de uma nova descendência que busca permanecer e perseverar no projeto de salvação iniciado e realizado por Jesus, cumprindo seus ensinamentos e caminhando na única estrada que leva à salvação. Maria deu o exemplo e realizou perfeitamente aquilo que lhe foi pedido por Deus, nós devemos fazer o mesmo.
Assim, a herança original que todos recebem ao vir a este mundo, como sequência do erro original de Adão e Eva, de algum modo não teria passado a Maria e isso é um reconhecimento anunciado pelo anjo Gabriel, pois Maria é chamada por Deus de “Cheia de Graça”, por isso, ela pode gerar Jesus em seu ventre sem lhe transmitir nenhuma espécie de pecado e maldade que estão presentes em nossa natureza original. Dessa forma, Jesus foi gerado sem pecado em um ventre também sem pecado.
O “não” do primeiro casal manchou a humanidade, mas o “sim” de Maria corrigiu e iniciou um novo plano de salvação com foi plantado na história por Jesus; toca a cada um de nós escolher e permanecer fiel a este projeto de Jesus Cristo. Tudo recomeçou com Maria, mas depende hoje de cada um de nós.