#Reflexão: Solenidade da Santíssima Trindade (04 de junho)
A Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes, neste domingo (04). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ex 34,4b-6.8-9
Salmo: Dn 3,52.53.54.55.56 (R. 52b)
2ª Leitura: 2Cor 13,11-13
Evangelho: Jo 3,16-18
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Costumamos introduzir a explicação sobre a Santíssima Trindade falando que é um “grande mistério” (talvez o maior deles) e, por isso, não conseguimos explicar todos os detalhes: Três pessoas, mas somente um Deus. Mas, a melhor forma de explicarmos este mistério de nossa fé, é olhar para Jesus Cristo: Conhecer Jesus é conhecer a Trindade.
Afirmarmos que é um “mistério”, isto não é uma vergonha para nós, mas uma realidade: somos simples criaturas que jamais conseguiremos penetrar, entender e “compreender” aquilo que é o mais profundo da realidade divina. Nós necessitamos sim de ajuda para conseguirmos nos aproximar de tão grande mistério e saborear sua infinita bondade.
Na 1ª leitura temos uma revelação especial de Deus para Moisés no alto da montanha. Deus vem ao encontro e se aproxima de Moisés pronunciando seu Nome Santo e suas qualidades. É um Deus cheio de misericórdia, clemente, paciente, rico em bondade e fiel. Para o autor sagrado, a grandeza do amor de Deus necessariamente O impele também a corrigir os erros e pecados de seus filhos, por isto Moisés confia na misericórdia e no perdão de Deus.
Jesus faz outra estrada para revelar esta relação profunda que existe entre as três pessoas da Trindade: relação familiar. Deus é Pai e Mãe, Jesus é o Filho e o Espírito Santo é o amor que tem o Pai pelo Filho. Muito mais do que definir a Trindade, Jesus escolheu testemunhar a sua profunda relação com o Pai.
Sabemos que é a “divindade” aquilo que existe e que une as Três Pessoas em um só Deus. Assim, Deus é muito mais que uma ideia, ou uma definição, ou uma força que movimenta tudo e sustenta o universo: Jesus nos revela que Nosso Deus é Pai! E esta realidade, nós conhecemos e encontramos em nosso quotidiano.
Sabemos que se somarmos teremos três pessoas (1+1+1=3). Mas, em Deus tudo é diferente: na manifestação externa da Trindade na história são três pessoas; internamente tudo é “multiplicado” (1x1x1=1). Mas, a Trindade não é uma sequência de números ou simples aritmética, mas pessoas e com uma missão bem definida para cada um.
A reflexão da Igreja ao longo dos séculos nos ajudou a entender que a “essência (natureza) divina” é a condição fundamental para a compreensão da Trindade, mas Jesus nos mostrou que é o Amor, a maior verdade e a mais profunda revelação que perdura entre as Três Pessoas da Trindade.
O catecismo da Igreja afirma: “As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho” (Cat 48); “Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também no seu operar: a Trindade tem uma só e mesma operação. (O Pai cria, o Filho Salva e o Espírito Santo Santifica). Mas no único agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade” (Cat 49).
No AT, a imagem mais comum de Deus é que Ele é Criador; e Jesus completa nos falando que Deus é Pai, uma realidade próxima da nossa existência humana e com uma relação contínua e profundamente afetiva que conhecemos muito bem. Deus é Criador de tudo, mas o faz com a mesma responsabilidade e profundidade que um pai e uma mãe dão a luz a um filho ou filha.
Deus é nosso Pai e segundo Jesus é Pai de todas as pessoas sem discriminação ou condição. Nosso Deus não é uma ideia ou um princípio, mas paixão e relação pessoal com cada homem e cada mulher deste mundo. É presença em sua igreja como na 2ª leitura. Assim, entendemos que a “relação” entre as pessoas da Trindade é marcada pelo amor em plenitude e total doação. Junto com a relação, compreendemos que nas três pessoas há uma profunda comunhão. O amor pleno que existe entre o Pai e o Filho é o Espírito Santo.
No diálogo entre Jesus e Nicodemos, retratado no Evangelho deste domingo, Cristo concentra-se sobre aquilo que constitui a realidade interna da Trindade e que todos nós podemos experimentar: o Amor. Deus tudo realizou movido sempre pelo Amor. Jesus diz ao medroso fariseu que o nome de Deus não é amor somente, mas “amor pleno e total”. Deus nada faz senão, para sempre, considerar o mundo, todo ser humano, mais importante do que Ele mesmo. Para comprar e resgatar cada um dos pecados, Ele se perdeu na “loucura” da cruz aos olhos do mundo, mas para nós, lá é que tudo renasce: todo ser nasce e renasce do coração de quem o ama.
O ponto máximo na história humana da manifestação deste Amor foi a entrega de Jesus na cruz: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho”. Assim, a doação de Jesus para nos salvar e até mesmo o seu sacrifício na cruz não devem ser entendidos como consequência dos nossos pecados, mas como iniciativa e expressão do grande Amor de Deus: não foram os nossos pecados que arrastaram Jesus até a Cruz, mas sim o Seu Amor por todos nós.
Jesus escolheu sofrer e morrer por nós, para provar a força do amor. Ele tudo fez movido pelo amor e em sua plena liberdade, pois somente o amor doado ao extremo é capaz de vencer todo pecado e até mesmo a morte.
Papa Bento XVI (2009) explicou assim esta solenidade: “Hoje contemplamos a Santíssima Trindade como Jesus nos deu a conhecer. Ele revelou-nos que Deus é amor ‘não na unidade de uma só pessoa, mas na Trindade de uma só substância’ (Prefácio): é Criador e Pai misericordioso; é o Filho Único, a eterna Sabedoria encarnada, que morreu e ressuscitou por nós; é, finalmente, o Espírito Santo que move tudo, cosmos e história, rumo à plena recapitulação final. Três Pessoas que são um só Deus porque o Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito é amor. Deus é todo e único amor, amor puríssimo, infinito e eterno. Ele não vive em uma solidão esplêndida, mas é uma fonte inesgotável de vida que se dá e se comunica incessantemente. (…) O ‘nome’ da Santíssima Trindade está, de certo modo, impresso em tudo o que existe, porque todo ser, até as últimas partículas, é ser em relação, e assim transparece a relação com Deus, em última instância transparece o Amor criador. Tudo vem do amor, tende para o amor e se move movido pelo amor”.
A Trindade é algo em Deus que jamais conseguiremos – como criaturas que somos – compreender e entender perfeitamente, é como um imenso oceano de águas profundas que nunca conseguiremos abraçar com o nosso conhecimento. Mas, diante deste profundo mar de amor somos chamados a mergulhar e beber de sua mais expressiva realidade que cria, salva e santifica tudo: o amor.
Na celebração de hoje somos convidados e entrar não no mistério e dentro da Trindade, mas entrar dentro do profundo sentido do Amor. Deus cria o mundo movido pelo amor e para nós; nos salva não por nossos méritos, mas movido pelo amor; O mesmo Espírito que une o Pai e o Filho, Amor Divino, é derramado sobre sua igreja. Somente o amor tem a força de tocar o coração e mudar cada pessoa.
Linda reflexão! Confesso que não consigui controlar a emoção. Obrigada Padre , que o Espírito Santo continue iluminando sua caminhada.