#Reflexão: Solenidade de Cristo Rei do Universo (20 de novembro)

18 de novembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 20, a solenidade de Cristo Rei do Universo. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: 2Sm 5,1-3

Salmo: 121(122),1-2.4-5 (R. cf. 1)
2ª Leitura: Cl 1,12-20
Evangelho: Lc 23,35-43

Acesse aqui as leituras.

JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

            A celebração de hoje conclui o ano litúrgico da Igreja: no próximo domingo, iniciamos o tempo do Advento. Esta solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, aparentemente não combina muito com tudo que conhecemos de Jesus e dos seus ensinamentos: Nosso Senhor nunca se interessou por qualquer tipo de poder deste mundo. Mas, a realeza que celebramos hoje de Jesus Cristo é diferente e não se encontra nenhuma ligação com os reis e os impérios que a história já conheceu.

Desde o início da vida pública de Jesus, Ele sempre anunciou a vinda e a inauguração neste mundo do “Reino de Deus” (ou “Reino dos Céus”, como prefere afirmar Mateus; cf. Mt 3,2; 4,17…) e através de várias parábolas, Ele procurou mostrar a força e a presença desse Reino não como mais um reino entre outros, mas como uma presença ativa e eficaz da graça de Deus neste mundo. De uma forma diferente e atuante, Cristo afirmou para os fariseus que o “Reino de Deus já está entre vós” (ao alcance de todos; cf. Lc 17,21).

            O Reino de Deus não se identifica com nenhuma organização humana que é limitada no tempo e no espaço. É uma realidade que vai além da realidade humana, liga o céu com a terra e permanece presente por toda a história humana até a consumação de seus dias, como percebemos nas palavras de Paulo na segunda leitura. É um Reino diferente com um Rei diferente.

Na primeira leitura, temos a lembrança de quando iniciou o reino de Davi, o eleito de Deus para reinar sobre seu povo. Ele foi o ungido que governou e organizou o reino do povo de Deus. Davi foi sinal do Reino definitivo e eterno que Jesus iria, posteriormente, inaugurar na história e que permanecerá para sempre na realidade humana.

Trata-se, assim, de um Reino diferente, com um Rei que não governa como os soberanos deste mundo; que não possui um trono de ouro ou coroa de pedras preciosas. Jesus conquistou sua realeza não fazendo guerra contra outros reinos, mas de uma forma diferente. O Evangelho de Lucas deste domingo nos lembra dos últimos momentos de Cristo e os últimos desafios que enfrentou para criar, não na história e em um lugar, mas para sempre o Reino de Deus definitivo para a salvação de todos.

A cena da crucificação não nos dá de imediato a imagem de uma realeza conforme conhecemos, mas, foi exatamente na cruz que o Reino de Deus ganhou a sua máxima expressão em relação a tudo que Jesus ensinou e viveu. Ali estão representados todos que são tocados por Jesus Cristo. Alguns reagem ainda como opositores do projeto e da pessoa de Jesus, somente um se associa com confiança ao Reino de Jesus.

O “povo” é descrito como simples espectador: estava ali somente observando. Como acontece quase sempre, a multidão é manipulada e usada para se conseguir algo. O povo sempre precisa de alguém que o guie, mas quase sempre vemos pessoas que manipulam e exploram a vontade popular. Sem o seu guia, o povo simplesmente assistiu os últimos momentos de Jesus.

Lucas cita a presença dos “chefes”, representantes do poder religioso. Diante da cena de alguém que somente procurou fazer o bem, palavras deles são de provocação e ironia. Eles testemunham o bem que Jesus fez (“salvou a outros”) e desafiam Jesus na cruz com as mesmas palavras usadas pelo Diabo durante as tentações no deserto: “Se és o Messias (Cristo)” Os religiosos são usados como instrumentos do mal para apresentar a última tentação a Cristo: salvar-se do sofrimento. Para eles seria a forma de mostrar que Jesus é o Messias esperado por todos. Se Cristo se salvasse da Cruz, Ele teria poupado sua vida, mas nós teríamos perdido a nossa salvação. A forma escolhida por Jesus para se salvar foi de se doar até fim: dando a vida, Ele ganhou a vida plena para todos nós. A salvação da humanidade era algo que estava acima de tudo, inclusive de sua própria vida humana. Os chefes religiosos reconhecem que Jesus fez o bem, que se apresentou como Salvador (Messias), que havia sinais de que Ele (Jesus) era o “Eleito de Deus” e tinha um projeto de salvação, mas se colocaram como instrumento do mal e não do lado de Jesus.

            Os soldados também são instrumentos do poder temporal e dos reinos deste mundo. Zombavam de Jesus e o desafiavam como os religiosos dizendo: “Se tu és rei dos judeus?” Com o Diabo, a proposta é apresentada como um desafio, pois eram conhecidas as palavras de Jesus sobre “Reino de Deus”. Eles apresentam a Jesus na cruz, o único modo que para eles confirmaria a realeza de Cristo: escapar da cruz. Para os soldados, um rei procura se salvar para governar sobre seus súditos, Jesus escolheu governar sobre toda a humanidade, doando-se plenamente livre para vencer os últimos inimigos da humanidade que são a morte e o pecado. A tentação é a mesma dos chefes dos religiosos: salvar-se a si mesmo. A descrição “Rei dos Judeus” colocado sobre a cabeça de Cristo se transformou em um testemunho daquilo que Jesus representava para todas as pessoas, mas que era visto como perigo pelos romanos.

Ao lado de Jesus estavam dois malfeitores também crucificados. Um deles, sofrendo as mesmas dores e nas mesmas condições de Jesus prefere ficar do lado daqueles que zombavam e escarneciam Jesus. O “mau ladrão” sabe da proposta de Salvação de Jesus como Messias. Esta terceira tentação (como as três do deserto) foi mais significativa, pois se tratava de alguém que está sofrendo, à beira da morte e pede socorro. O “mau ladrão” provoca Jesus para mudar o seu destino que ele mesmo traço com uma vida na injustiça. Ele conduziu toda sua vida sem pensar em salvação, agora diante da morte, quer escapar das consequências dos seus atos. A proposta colocada por este malfeitor é de uma salvação para todos (“salve a ti e a nós”) sem morte e sem sofrimento, mas Jesus não cai também nesta tentação. Em toda a passagem, predomina o silêncio de Jesus.

Lucas nos conta que o outro ladrão se coloca contra todos e ao lado de Jesus. Situa tudo em três princípios: Ele lembra o outro condenado do temor de Deus (o mal que estavam fazendo contra Jesus atingia até Deus); ele lembra que o destino final, é comum a todos: a morte; o bom ladrão recorda que os dois sofrem justamente pelos erros que cometeram, mas Jesus nada fez de mal, este condenado defende Jesus diante de todos; e, por fim, chamando Nosso Senhor pelo seu nome “Jesus” (isto é raro nos Evangelhos) faz um pedido onde expressa uma imensa confiança: “Lembra-te de mim quando vieres como rei”. O “bom malfeitor” descobriu o verdadeiro Salvador sem intimar que Jesus descesse da cruz, sem exigir que fugisse da morte e sem cobrar um sinal (fugir da cruz). Diante da morte, reconhece a realeza de Jesus e faz um pedido simples: lembrar-se dele.

            Para os outros pedidos irônicos, Jesus respondeu com o silêncio de alguém que está acima de tudo, mas para o “bom ladrão”, as palavras são profundas como alguém que será Rei de todos. Com mais um ensinamento (“Em verdade eu te digo”) Jesus promete que “hoje estarás comigo no Paraíso”. Nosso Senhor o convida para juntos entrarem no Paraíso passando pela morte (o outro, o “mau ladrão”, tinha convida para fugir da cruz). É o “hoje” de Deus, presença salvífica, como foi para Zaqueu (“Hoje quero estar contigo em tua casa!”). Aquele criminoso teve o privilégio de passar pela morte juntamente com Jesus e depois, entrar no Paraíso, sinal de sua salvação. Ele tinha feito um pedido de “ser lembrado”, Jesus convida para caminhar e enfrentar a morte juntos.

Jesus é um Rei sem trono, pois seu trono é a cruz; Não possui uma coroa de ouro, pois lhe deram uma coroa de espinhos, mas principalmente é Rei porque governa doando-se completamente por todos que o aceitam com Salvador e Messias. A cruz foi e ainda é um escândalo para muitos que até professam uma fé; é tida como sinal do fracasso de alguém que se propôs salvar os outros; mas para nós foi o caminho escolhido por Jesus para nos salvar e nos conduzir ao verdadeiro destino para todos que não termina na morte, mas tem sua plenitude no Paraíso junto de Deus. Mas, a escolha que define o destino de todos, depende de cada um; depende do lado de qual grupo se pretende ficar durante sua vida até a morte: do “bom ladrão” ou daqueles que tentavam Jesus?

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