#Reflexão: Solenidade de Todos os Santos (06 de novembro)
A Igreja celebra, no dia 06, a Solenidade de Todos os Santos. Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Ap 7,2-4.9-14
Salmo: 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
2ª Leitura: 1Jo 3,1-3
Evangelho: Mt 5,1-12a
TODOS OS SANTOS
Com a celebração de Todos os Santos, a Igreja nos convida a recordar daqueles que foram exemplo de santidade em vida e por isso são recordados nas preces e invocados pelos cristãos. Junto com esses tantos irmãos e irmãs que são testemunhas para nós e estímulo para a nossa vida cristã, estão também inumeráveis cristãos que mesmo sem ser lembrados nas celebrações, certamente participam das alegrias juntos com Deus. Todos esses nossos irmãos e irmãs possuem a santidade como realidade comum, pois somente se entra no céu quem é santo.
A santidade é algo que se constrói ao longo da vida, em cada opção e momento de nossa história. Ninguém é santo (nem pecador) com um só ato, mas por toda sua história realizada em cada ato. É uma casa que é construída dia por dia, com os tijolos da fé, do amor, do perdão, da misericórdia etc. Uma construção que termina com a nossa passagem desta realidade terrena ao convívio eterno com Deus.
O livro do Apocalipse, entre outras coisas, nos traz a esperança do céu. O seu autor, João, utilizando de símbolos e jogo de palavras procura suscitar em nós aquilo que nos espera junto de Deus. O último livro da Bíblia, no entanto, é bem concreto e realista em relação a este mundo e das forças do mal, suas artimanhas, mas, principalmente, nos ajuda a reforçar nossa fé e esperança que ele (o mal) nunca conseguirá se sobrepor ou se quer se aproximar de Deus. Nós é que somos frágeis e sofremos principalmente suas ações e tentações, por isso, o Apocalipse é um livro atual para a nossa caminhada de santidade. Junto de Deus só a espaço para os seus filhos e filhas que somos nós.
João, o autor do Apocalipse, nos dá uma ideia de como é o céu e quem lá se encontra. Ele narra o que lhe foi permitido ver do céu e depois quem se encontra junto de Deus. O primeiro grupo possui um sinal importante na fronte. Podemos imaginar que se trata do Batismo onde o fiel pelo sacramento se torna filho e filha de Deus e com essa marca se torna Sua propriedade. O número 144.000 expressa simbolicamente a identidade dessas pessoas. Sua interpretação demonstra se tratar de pessoas eleitas, representadas pelo número 12 como as doze tribos de Israel escolhidas por Moisés e os doze apóstolos por Jesus. A sua multiplicação 12 x 12 = 144 expressão da universalidade da eleição de Deus que compreende todos, antes e depois de Jesus. O número 1.000 expressa a eternidade de Deus: um tempo sem tempo. Assim, o número simbólico representa todos os eleitos de Deus junto Dele na eternidade.
Mas, João também nos revela uma multidão muito grande de pessoas que também lá se encontra. Eles possuem uma veste bem definida que na linguagem do Apocalipse representa a identidade do personagem. A cor branca da roupa representa a vitória sobre a morte como Jesus antecipadamente se revela na transfiguração e se apresenta após a ressurreição. Os outros símbolos (em pé e com palmas na mão) revelam que além de vitoriosos eles foram premiados pela vida que tiveram. O autor nos ajuda a entender ainda quem são esses que se encontram no céu. Eles “sobreviveram a grande tribulação, lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro”, isto é, viveram como Jesus viveu e por isso, tiveram o mesmo destino.
O céu é um lugar de vitoriosos que procuraram adequar suas vidas a Jesus e por isso, conquistaram o céu derramando sangue e sofrendo o martírio. Isso tudo para nos informar que para chegar lá, junto de Deus, é preciso muita batalha e enfrentar muitos desafios; a lutar é constante e o mal e o pecado precisam ser enfrentados a todo instante. É uma guerra espiritual que deve começar dentro de nós. E a oração é o instrumento pelo qual, as graças de Deus nos chegam enquanto estivermos neste mundo e depois será, juntamente com a adoração, a ação principal no céu.
João nos informa em diversos momentos no seu livro que junto de Deus existe uma alegria imensa que todos compartilham através da oração e da contemplação de Deus e do Cordeiro Imolado. Nós, nesta realidade terrena, cada oração que fazemos, nos ajuda e nos prepara para essa grande assembleia no céu. Mas, para chegar ao céu precisamos buscar a santidade e sermos santos. Por isso, na segunda leitura recordamos que somos filhos e eleitos de Deus e por isso, a nossa principal missão é conformar nossa vida a vida de Jesus. Assim, santidade é procurar e buscar ser semelhante a Deus em cada momento de nossa vida e história e para isso acontecer, Jesus nos dá a receita de como alcançar a santidade.
No Evangelho de Mateus encontramos entre as primeiras ações iniciais de Jesus, as Bem-aventuranças que não são somente “conselhos” deixados por Jesus para todos nós, mas sim um projeto de santidade. As Bem-aventuranças é o próprio plano de vida de Jesus. Somos convidados a viver tudo isso porque Nosso Senhor Jesus assim procurou viveu. É o seu esquema de vida, seu modo de viver que Ele nos convida a fazer o mesmo.
Ser “pobre em espírito” (ou coração pobre) encabeça a lista daquilo que Jesus procurou viver. Ele escolheu esta condição que vai além da simplicidade em relação às coisas materiais, de questões sociais e econômicas. Ele viveu desapegado de tudo e de todos, para que Deus fosse pleno e tudo Nele. Ele escolheu esse estilo de vida para estar com todos sem pertencer a ninguém, para ser um canal pleno da graça de Deus para todos. Vivendo a pobreza evangélica, a pessoa não somente é livre como somente ela, sua vida e a sua palavra se tornam a riqueza para o próximo
Um coração aberto e desapegado das coisas do mundo é capaz de chorar não por aquilo que não tem ou pelas coisas que faltam, mas sim chorar pelos irmãos e irmãs que sofrem, que precisam de ajuda, que se encontram humilhados e desprezados, forçados a uma miséria imposta. Esses receberão consolo juntamente com aqueles desprezados neste mundo. Mas, o desapego das coisas do mundo e a sensibilidade pelas necessidades do próximo não devem levar o discípulo a produzir mais violência e dor. Somente um coração manso pleno de Deus é capaz de transformar a realidade não a partir das estruturas, mas do coração das pessoas, como fez Jesus. Esses mansos de coração, cheio de Deus é que devem governar o mundo e herdarão a terra.
Segundo Jesus, somente fazendo a experiência do desapego do mundo, mas sem se distanciar dele e da realidade das pessoas e com um coração cheio de Deus e da sua mansidão, somente assim o discípulo é capaz de enxergar o verdadeiro sentido da justiça que vai além do simples cumprimento das leis, mas justiça que nasce de uma profunda transformação interna; que promove igualdade a partir da partilha, da solidariedade e não pela violência e pela guerra. Tal justiça ao modo de Jesus precisa acontecer em cada coração primeiro, mas somente nascerá com o exercício do perdão e da misericórdia e não da violência.
Aqueles que se deixam transformar pelo amor e pela misericórdia de Deus, conseguem ver o próximo não como obstáculo e inimigo, mas como presença de Deus. Jesus nos ensina que Ele está presente em cada pessoa. É preciso purificar, dessa forma, nossa vida, nosso coração e nosso olhar, buscando essa pureza de Jesus para vê-lo em todos que estão ao nosso redor. Quem não consegue ver Deus nas pessoas, não conseguirá contemplá-lo no céu.
Esse projeto de vida e santidade vivido intensamente seguindo as bem-aventuranças de Jesus, atrairá, certamente, muito ódio e revolta, pois tal esquema de vida não é conforme o projeto de lucro, interesse e exploração do mundo. Mas, Jesus alerta que serão felizes aqueles que sofrem pela justiça feita a partir do coração, segundo o critério da misericórdia e não do interesse pessoal.
Santidade, segundo Nosso Senhor, envolve a pessoa por completo, seu coração, seus projetos, sua intimidade com o mundo, com as pessoas e com o nosso próprio Deus e Pai. Um projeto de vida feito com sentimentos e virtudes que transformam a partir do coração para conquistar outros corações.
Excelente reflexão, gostaria de receber novas reflexões.