#Reflexão: Solenidade do Natal do Senhor (25 de dezembro)

22 de dezembro de 2022

A Igreja celebra, no dia 25, a Solenidade do Natal do Senhor. Reflita e reze com a sua liturgia.

Leituras:
1ª Leitura: Is 52,7-10

Salmo: 97(98),1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 3cd)
2ª Leitura: Hb 1,1-6
Evangelho: Jo 1,1-18

Acesse aqui as leituras.

NATAL DO SENHOR JESUS

            Hoje celebramos o Natal do Senhor. Uma celebração que vai além das nossas igrejas e entra nas casas das pessoas, mas nem sempre com a notícia do nascimento do Salvador. Com o passar do tempo, o Natal foi esvaziado do seu significado principal e se tornou uma data para tudo, menos para Deus. É mais um momento romantizado com luzes artificiais, lindos presépios, presentes, roupas, muita comida etc. Mas, os Evangelhos de Mateus e Lucas nos informam que Jesus veio ao mundo em uma situação dificilíssima, sem nada de romântico e poético.

A sagrada família, Maria prestes a dar à luz e José, é obrigada a se colocar em viagem por um decreto do soberano da época, o imperador romano. Deus não parece ser o protagonista principal dos acontecimentos e da história. Pouco se se percebe de Deus nestes fatos. O que mais nos chama a atenção são os dramas e os perigos naqueles dias do nascimento de Jesus.

Naquele tempo como hoje, o que predomina na história são os diversos acontecimentos e quase sempre nada se refere a Deus. A história aparenta ser somente dos homens e sem Deus. No Natal, vemos que Jesus veio a este mundo como mais um que nasce na terra. Seus pais e Jesus recém-nascido, têm que passar por tudo como qualquer família e qualquer pessoa. Fizeram fila no recenciamento, viajaram e fugiram às pressas dos perigos, foram estrangeiros e completamente desconhecidos de todos até a idade adulta de Jesus.

Ao escolher vir a este mundo nascendo em Belém, obedecendo ao capricho de um imperador, a família de Nazaré se submete aos constrangimentos e obrigações dos poderosos do mundo. Deus não poupou Maria e José de nada. Eles não foram privilegiados que viveram a margem do sofrimento da maioria; não viveram uma história a margem da realidade do seu povo. Pelo contrário, foram inseridos no coração e na dinâmica da vida comum do povo de Deus naquele tempo. É incrível que Deus não move e nem alivia os acontecimentos para tudo fosse, pelo menos, normal: um nascimento tranquilo em uma casa e todos cercados de cuidado e atenção. Mas, não foi assim!

O cristianismo não é viver fora da história, isolados de todos, mas viver transformando de dentro, mesmo que a história seja injusta e desumana. Muito do que vivemos são consequência de nossas escolhas, mas muito vezes os dramas humanos, simplesmente, existem onde vivemos e ao nosso redor. Entram em nossa história sem pedir permissão e condicionam a nossa vida.

No Natal descobrimos que a história da salvação acontece não em uma realidade fantástica e ideal, mas profundamente mergulhada na realidade humana, muitas vezes, cruel e injusta. A história da salvação não toma o lugar das injustiças ou daqueles que são os responsáveis dos acontecimentos, ela não cria um alívio ou um vazio no meio dos dramas humanos. A Salvação acontece dentro dos fatos, das injustiças e das misérias humanas.

O Natal é o início concreto da história da Salvação, profetizada no passado do povo de Deus e que se mostra presente no mundo no presépio. Jesus Menino Deus decidiu vir ao mundo, naquela realidade e como o mundo da época estava.

Todos buscam grandes sinais e milagres. Um Deus que chama atenção com seu poder e grandeza, mas Deus no Menino Jesus é um Deus que “decepciona”. Naquele tempo como hoje, se deseja um Deus potente com braço forte para libertar o seu povo de todos os males. Um Deus que arraste a todos com sua força e que vença todos os poderosos. Mas, no Natal, Deus não vem com força, ou com um exército ou ainda com violência, mas vem como uma criança recém-nascida: frágil, fraca e completamente desconhecida. O Natal chama a nossa atenção para estarmos atentos, pois tudo de Deus está escondido no quase nada de uma criança que acabou de nascer. É um Deus que não faz barulho, somente chora como qualquer outra criança; um Deus que muda a história, trabalhando no silêncio e no coração das pessoas.

Temos o exemplo de Maria e José que, exatamente nos últimos dias do parto, eles se colocam em caminho. Quanto cuidado se tem nos momentos finais de uma gravidez, mesmo assim, partem em viagem deixando pra traz a acomodação da casa, das famílias, da ajuda no momento de dar à luz. Eles têm somente Deus como segurança e esperança.

O Natal é a celebração da luz, mas da luz de Deus que não ilumina os olhos e encanta nossa visão. Uma luz que precisa ser constatada e descoberta. Uma luz interior, no coração como insistirá constantemente Jesus em sua pregação: o mundo melhor que sonhamos tem que acontecer no coração de cada pessoa.

Por isso, entendemos a informação de Lucas que nos diz que nas hospedarias não havia lugar para eles. Ninguém queria ter a preocupação de acomodar uma grávida com visíveis sinais da proximidade do parto. Jesus veio ao mundo, em um lugar que representa a realidade mais simples da realidade. Um lugar vazio e quase sem nada daquilo que alguém poderia apontar como necessário (uma casa, roupas, um berço…). Naquele estábulo encontrado como o último lugar enquanto tudo estava cheio de pessoas, Deus veio a este mundo. É preciso esvaziar o nosso coração de tantas coisas que impedem Jesus de renascer em nós. Como naquele tempo, muitos corações estão cheios de tantas preocupações, sonhos pessoais, projetos sem Deus… que também continuam não oferecendo lugar para Jesus nascer.

O vazio interior não nos agrada. Sempre queremos preencher com tantas coisas e projetos. Não suportamos muito ficar sozinhos ou em silêncio. Mas, foi em um lugar mais improvável para uma mãe dar à luz, em um total vazio, lugar impuro para qualquer judeu, lá que é tudo teve início.

Aqui temos uma grande esperança, pois se Deus podendo ter o melhor lugar do mundo em todos os sentidos, nasce em um lugar menos digno e até impuro, toda a humanidade pode se alegrar, pois não haverá um só coração, por mais impuro e indigno que seja, que não possa ser abraçado pela misericórdia e a luz do Menino Deus. Naquele lugar onde tudo aparentemente se mostra perdido, foi o lugar onde toda salvação inicia.

O mal sempre procura semear no coração das pessoas que são elas indignas para receber Jesus. Ou pior ainda! Induzir outros a afirmar que há pessoas que não são indignas; que Jesus é pra poucos. O presépio vem combater esta ideia. Jesus nasce e ilumina o mundo para mostrar que não existe, aos olhos de Deus, últimos e sem esperança, mas todos podem receber a Luz da Salvação, basta acolher o Menino Deus.

O Evangelho da missa da aurora recorda a alegria dos últimos daquele tempo que olhavam para o céu e quando o anjo se aproxima, esperavam uma execução sumária (foram convencidos disso), mas são os primeiros a recebem a feliz notícia do Natal do Salvador. Correm movidos por um anúncio em um lugar que lhes era familiar e conseguem enxergar, além do recém-nascido, a realização da promessa.

São João no Evangelho da missa do dia recorda o grande projeto de Deus que está presente desde o início de tudo. Mas não permanece nas alturas, se encarna na realidade humana, arma sua existência como uma tenda como qualquer outro homem e entra na nossa história, assumindo a nossa carne. Jesus é concreto e acessível a todos que desejassem se aproximar Dele. Que o Natal do Senhor Jesus nos ajude a redescobrir a grandeza de Deus em cada pessoa, morada permanente de Deus e onde podemos, em cada momento de nossa vida, exercitar o que mais nos une a Deus e aos outros: o amor.

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