#Reflexão: Solenidade da Santíssima Trindade (26 de maio)
A Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade, neste domingo (26). Reflita e reze com a sua liturgia.
Leituras:
1ª Leitura: Dt 4,32-34.39-40
Salmo: 32(33),4-5.6.9.18-19.20.22 (R. 12b)
2ª Leitura: Rm 8,14-17
Evangelho: Mt 28,16-20
SANTÍSSIMA TRINDADE
Após termos celebrado a Festa do Pentecostes, a Igreja nos propõe a Solenidade da Santíssima Trindade: coração da nossa identidade cristã. Quase sempre se escuta quando se fala desta realidade profunda de nossa fé que se trata de um “mistério”. Está correta a afirmação: jamais conseguiremos falar tudo, explicar tudo sobre nosso Deus, exatamente porque não temos palavras e nem ideias que consigam expressar a realidade de como é o nosso Deus, Trindade Santa. Mas, ao falarmos que temos um único Deus em três pessoas, a palavra “mistério” não deve ser vista como algo impossível, inacessível e distante, mas um convite para conhecermos nosso Deus de outra forma e condição.
Domingo passado, celebrando o Pentecostes e refletimos sobre a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja. Lucas nos diz que um fogo do céu foi derramado sobre todos presentes no cenáculo de oração. Foi algo que inundou o lugar e transformou a todos. Os discípulos rezaram com uma tal profundidade e novidade que chamaram a atenção de todos que estavam próximos. O autor dos Atos dos Apóstolos ainda diz que muitos, vendo os apóstolos em oração no dia de Pentecostes, pensavam que todos estavam “embriagados”. O que os discípulos receberam que causou tamanha mudança em todos? Sabemos que o Amor é aquilo que melhor define Deus: por amor, Deus criou o mundo e tudo foi doado a toda humanidade; Jesus Cristo salva o mundo também movido por amor, nada pede em troca e se doa totalmente na cruz. O Espírito Santo é este amor que cria, salva e que é derramado sobre os discípulos. O Espírito Santo é algo novo, que nasce do interior de cada um e se revela a todos como uma grande alegria, como pessoas embriagadas de Deus. Amor! Algo tão profundamente divino e tão profundamente humano. Deus é Deus porque cria, porque se doa e porque é amor. Mais do que compreender a Trindade, o discípulo de Jesus é chamado a viver o seu fundamento que nos torna participantes do Eterno: o Mandamento do Amor.
Para entendermos Nosso Deus Trindade Santa, nós usamos o termo pessoa: são três pessoas. Isto, nós conhecemos e entendemos muito bem. “Pessoa” é alguém possível de se relacionar; alguém (e não coisa) que podemos trocar sentimentos e afetos. Nós construímos nossa história cercados por inúmeras pessoas, cada uma com sua identidade e característica individual.
Mas, é com Jesus que temos a máxima relação de Deus. Nosso Senhor nos fala de Deus, não como algo distante e inacessível, mas que Nosso Deus é PAI. Entre nós e Ele existe a relação mais profunda que pode existir entre duas pessoas: relação de paternidade. Jesus rompeu todos os obstáculos que impediam que esta realidade profunda e desejada por Deus acontecesse em cada pessoa que se torna seu discípulo e discípula. A linguagem dos Evangelhos é de família: Pai e Filho, e família nós entendemos bem, pois é a base de nossa vida.
O Evangelho deste domingo para a solenidade da Santíssima Trindade propõe as últimas palavras de Jesus em São Mateus. Dois gestos profundos acontecem quando Jesus se manifesta visivelmente pela última vez: os onze discípulos (base da Igreja e da comunidade de vivência de Jesus) se prostram; e Jesus se aproxima. A iniciativa de ir ao encontro é sempre de Jesus em relação a sua igreja/comunidade. Mesmo diante das dificuldades e até incredulidade, Jesus renova sua confiança em sua Igreja e envia a todos. A missão é fazer todos discípulos de Jesus, mesmo com suas dificuldades e limites para acreditar. Ser discípulo não é saber tudo, mas reconhecer que Jesus é o centro de tudo (“do céu e da terra”). O caminho é tornar todos seus filhos “Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” e depois, ensinar a todos a observar o que Jesus ensinou e pediu que praticassem, principalmente o ensinamento do Amor. Por fim, as palavras que consolaram a todos. Os discípulos são enviados, mas não estão sozinhos; são enviados para evangelizar com Jesus que permanece com todos eles. Um compromisso que Jesus assume com sua Igreja até o final dos tempos.
Jesus nos ensina e pede aos seus apóstolos que batizassem e ensinassem a todos a se tornarem discípulos Dele. De fato, o Batismo é a condição necessária para que Deus Trindade faça morada em cada pessoa. Ao receber o Sacramento do Batismo, Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo passa a morar em cada fiel. O discípulo torna-se, assim, templo de Deus. Assim, o Espírito Santo que recebemos no Batismo possui esta especial missão em nossa vida: nos conduzir pelos caminhos deste mundo. Ele não nos escraviza, lembra São Paulo na 2ª leitura, mas nos torna “filhos de Deus”. O termo usado por Paulo, “Aba”, é o mesmo que Jesus usou para falar com Seu Pai (cf. Mc 14,36). Com o Batismo, a pessoa através do próprio Espírito Santo pode ter uma relação profunda, paternal com Deus, pois é Filho e Filha de Deus Pai.
Outro ponto fundamental que o Batismo nos concede é de pertencermos a sua Igreja, corpo de Cristo visível na história. Segundo a vontade de Jesus, Ele também se mantém presente e acessível a toda a humanidade em sua Igreja. Com o Batismo, a pessoa passa a fazer parte deste povo privilegiado onde o próprio Deus faz morada e presença na história.
O Espírito que é o Amor entre o Pai e o Filho dá sentido à nossa existência: a Trindade não é um grupo fechado, mas pessoas em profunda relação. O acesso a Trindade – dessa forma – não é no campo das ideias, mas da vida e da comunhão entre as pessoas. Na criação, ouvimos que o Criador diz: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26), não criou Adão e Eva olhando para uma só Pessoa Santa, mas para a Trindade, portanto à semelhança da comunhão, do vínculo de amor e de partilha que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Assim, ensina a tradição da Igreja que não professamos a fé em três divindades, mas um só Deus em três Pessoas: O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza (Concílio de Toledo, em 675). O catecismo da Igreja completa (n.253): “A Trindade é Uma. Nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas (…). As pessoas divinas não dividem entre Si a divindade única: cada uma delas é Deus por inteiro”.
Professar a fé na Trindade é criar vínculos de comunhão. O Deus da Trindade não é uma fórmula matemática complicada em que um e três devem coincidir: “Se você vê o amor, você vê a Trindade” (Santo Agostinho). A Trindade permanece um imenso oceano que jamais vamos saber sua profundidade e grandeza, mas se não conseguiremos compreender tudo, somos convidados a mergulhar nestas águas profundas de amor que criam, salvam e santificam todas as coisas.